Encontro do MAB reúne diversidade de culturas

O 8º Encontro Nacional do MAB, que acontece de 2 a 5 de outubro, no Terreirão do Samba do RJ, é de grande efervescência cultural. Aqui se pode ter contato […]

O 8º Encontro Nacional do MAB, que acontece de 2 a 5 de outubro, no Terreirão do Samba do RJ, é de grande efervescência cultural. Aqui se pode ter contato com produções musicais, de vídeo, artesanato e culinária.

Um dia antes da abertura estava, sob as barracas, a batucada do Levante da Juventude, com inúmeros instrumentos de percussão. Já a abertura aconteceu com concerto do Grupo Mistura Popular, que, como o próprio nome diz, mistura vários ritmos e cujo vocalista é Jadir Bonacina, integrante do coletivo de cultura do MAB. 

O grupo produz canções voltadas para os movimentos sociais, e muitos temas são pautas do Movimento. “Nossas canções se referem às lutas do MAB e dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil”, diz Jadir. Com ritmos dançantes, o primeiro CD “Energia em Movimento” traz canções como “Privatização Não é A Solução”, “Energia para quê e para quem?” e “Força Popular”.

Nas bancas armadas no acampamento, os participantes têm a oportunidade de conhecer a existência de produções de vídeos como “Arpilleras”, que está sendo lançado em vários estados do País – documentário que trata do protagonismo das mulheres na luta contra as barragens – “um papel muitas vezes invisível”, como observou a socióloga, especialista em Conflitos do Desenvolvimento da UFRGS, Lorena Fleury, no lançamento que aconteceu no Rio Grande do Sul. “De norte ao sul do Brasil, as barragens atingem a vida de milhares de pessoas, vulneráveis, que têm seus direitos e modo de vida violados”, disse.

“Jarau e Santo Antônio – Relatos de uma Guerra Amazônica” trata da prostituição infantil, contaminação da água, desmatamento e ocorrência de famílias desabrigadas, devido à construção de hidrelétricas. A militante do MAB Nilce de Souza Magalhães foi assassinada depois da gravação do filme. Outra produção é “Guapiaçu – Um Rio de Janeiro Ameaçado” que mostra a luta dos moradores das comunidades rurais do município de Cachoeiras de Macacu com a notícia do projeto de construção de uma barragem no Rio Guapiaçu. O filme retrata como foi a organização das famílias no Movimento para impedir a construção da obra e assegurar seus direitos.

Projetos de barragens se impõem em todo território nacional, como é o caso do projeto de São Luis dos Tapajós, que ameaça o modo de vida de povos originários e, por exemplo, dos familiares das meninas Samira Guimarães, 15 anos, e Jaqueline Alves, 20 anos, que trouxeram cerâmicas produzidas pelos povos Marajoara e Munduruku, do Pará, para exposição no Encontro do MAB.

A kaingang Jocoele Luis, de 29 anos, da reserva indígena de Manguina, expõe peças de bijuterias biológicas, produzidas por eles, como brincos, filtros dos sonhos, balaios – tecidos com taquara. “Estamos aqui para fortalecer a luta do MAB e trazer a nossa”, afirma. Ela é uma das principais articuladoras para a criação da rádio comunitária, que está sendo criada no município, onde vive, que objetiva fortalecer a cultura da língua indígena.

Cultura brasileira e internacional

A diversidade cultural que entremeia o MAB se dá, não somente por estar espalhado por todo País, mas também por integrar o Movimento dos Afetados por Represas na América Latina e, hoje (2/10), ter relações também com países africanos. No Encontro se vê, portanto, artesanato, por exemplo, da peruana Maria Feliciano de Puma, 55 anos, do Departamento de Moqueguá. Ela expõe peças de vestuário, entre lenços, carteiras e bolsas, tecidas artesanalmente.

No evento do MAB também é manifesto o protagonismo das mulheres na luta por seus direitos e também legitimando suas expressões de identidade cultural, como é o caso das mulheres negras com o uso de turbantes. Natalina Felipe, 64 anos, da comunidade quilombola de Santa Cruz, Paulo Lopes/SC, exibe um turbante amarelo. “As mulheres negras se identificam com o turbante”, diz ela, que já milita no MAB há cerca de sete anos. “Para nós o Movimento é tudo, porque não é somente conversa, mas uma forma de fortalecer as pessoas em dificuldades”.

Logo adiante, sob as grandes barracas, está Mariane Valéria, 26, graduada em ciências sociais, trançando os cabelos de outras mulheres. “Para mim, as tranças são símbolo e fator de empoderamento de mulheres negras”, diz ela que tenta mestrado neste enfoque. Com habilidade, faz tranças nagô, de raiz e soltas. 

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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