Oração militante
Por Antônio Claret Fernandes* Louvo-te, ó dialética, concebida no seio da história, na memória coletiva, na materialidadeBendito seja o teu nascimento, no conflito, na morte da harmonia, inaugurando a realidade […]
Publicado 12/08/2017
Por Antônio Claret Fernandes*
Louvo-te, ó dialética, concebida no seio da história, na memória coletiva, na materialidade
Bendito seja o teu nascimento, no conflito, na morte da harmonia, inaugurando a realidade de forças contrárias em permanente disputa
Louvo-te, ó dialética, filha da santa e da outra, ao mesmo tempo, rebento do novo, de novo, sempre
Bendito seja o ser social que gera consciência, ciência, na opção de classe, unidade tensional e necessária
Louvo-te, ó dialética, pelas estradas retas tornadas tortas, pelas portas fechadas e abertas, pelas rachaduras no tempo
Bendita seja a contradição: no cansaço dos atalhos a aliança com a burguesia atrasa a chegada; no gosto amargo do farelo de pão velho pra nunca mais cochilar; no sabor insosso do golpe mortal pra não morrer nem pensar que é sina que é sorte que é o fim da história
Louvo-te, ó dialética, pelo sol que se esconde para iluminar a lua, que se enche de beleza e formosura, que dá clareza de rumo, que ilumina a noite até ser dia novo, de novo
Benditas sejam a esperança – do verbo esperançar – e a utopia, filhas da outra realidade, presentes nos ensaios da nova ordem social
Louvo-te, ó dialética, por ser interrogação entre tantas respostas prontas e acabadas
Benditas sejam as perguntas energia pra quê e pra quem, minério pra quê e pra quem, trabalho pra quê e pra quem, viver pra quê e pra quem, pois tudo tem lado e tem razão; aquela causa mais funda que nos põe de pé, nos faz caminhar, na luta permanente por água e energia com soberania, distribuição de riqueza e controle popular.
*Militante do MAB e padre da Arquidiocese de Mariana