Mulheres atingidas debatem violações de direitos no crime da Samarco

“É necessário fazer uma Arpillera que mostre a união, a organização e os direitos conquistados pelas mulheres atingidas que permanecem em luta.” O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou […]

“É necessário fazer uma Arpillera que mostre a união, a organização e os direitos conquistados pelas mulheres atingidas que permanecem em luta.”

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou no dia último dia 5 de agosto mais um encontro de mulheres atingidas por barragens com o objetivo de debater a vida e a organização na luta pelos direitos.

O encontro que aconteceu em Gesteira, povoado atingido pela Samarco em Barra Longa, é o segundo esse ano que reúne atingidas pelo crime da Samarco e pela Pequena Central Hidrelétrica de Fumaça, construída no rio Gualaxo do Sul. São 25 mulheres que vivem em Mariana, Barra Longa e Diogo de Vasconcelos, atingidas nas comunidades de Bento Rodrigues, Ponte do Gama, Pedras, Gesteira, Volta da Capela, Emboque.

“Hoje é um dia importante. Faz 21 meses que vivemos todo aquele terror. Minha sogra foi uma mulher lutadora. Lutou contra a lama que a arrastou e conseguiu sobreviver”, diz Marli, atingida de Bento Rodrigues.

Logo no início do encontro já nos deparamos com um problema agravado pela lama da Samarco: a falta de água em Gesteira. As mulheres são as que mais sofrem com as violações de direitos causados pelas barragens. A falta de água atrasa a realização das tarefas domésticas, inclusive a preparação do almoço para o nosso encontro. Gracinha, moradora da comunidade de Gesteira diz que queria ter adiantado o almoço, mas com a falta de água não foi possível. “Ainda tem uma trouxa de roupa no meu tanque que eu ia lavar, mas também não consegui,” conta a moradora.

As atingidas se desafiaram a pensar o que poderiam fazer em forma de artesanato que pudesse denunciar toda a situação em que vivem. As Arpilleras, técnica chilena de denúncia e resistência utilizada pelas mulheres durante a ditadura militar, foi resgatada.

A maioria das mulheres disse que gostaria de representar através dessa técnica a comunidade que foi destruída: as casas, o rio, os espaços comunitários e de lazer, os vizinhos, as plantas, a horta, os animais. Isso deixa claro o quanto a perda ainda é forte na memória dessas mulheres e o quanto o único sonho delas é ter a vida de volta.

Algumas lembraram que é importante também anunciar para mais mulheres como fazer para conseguir isso tudo de volta. Por isso, afirmaram que é necessário fazer uma Arpillera que mostre a união, a organização e os direitos conquistados pelas mulheres atingidas que permanecem em luta.

Esta Arpillera será confeccionada e levada para o Encontro Nacional do MAB que será realizado entre 1º e 5 de outubro na cidade do Rio de Janeiro com o tema “Agua e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular”.

 

 

 

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro