Transnacional quer explorar ouro de Belo Monte em março de 2016

Garimpeiros artesanais da Volta Grande do Xingu tiveram nessa terça-feira (28) uma reunião com representantes da mineradora canadense Belo Sun Mining, na Vila da Ressaca, localizada entre as duas barragens […]

Garimpeiros artesanais da Volta Grande do Xingu tiveram nessa terça-feira (28) uma reunião com representantes da mineradora canadense Belo Sun Mining, na Vila da Ressaca, localizada entre as duas barragens do complexo Hidrelétrico Belo Monte. O vilarejo onde vivem 300 famílias está ameaçado pelo projeto de extração de ouro da transnacional.

Essa reunião foi uma reivindicação da Jornada de Lutas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que junto à Cooperativa dos Garimpeiros (Coomgrif), organiza a comunidade para resistir ao projeto. Naquela ocasião, os garimpeiros se somaram a outros atingidos da região e fizeram um acampamento em frente à sede da Norte Energia, dona de Belo Monte, em Altamira. Aquela ação culminou em uma reunião em Brasília nos dias 23 e 24 de março, na qual foram mobilizados 23 ministérios e a Norte Energia para discutir a pauta dos atingidos. Só quem não apareceu foi justamente a Belo Sun. Desde então a raiva dos atingidos por essa mineradora só aumentou.

Ação ilegal

A comunidade da Vila da Ressaca é formada por agricultores, pescadores, comerciantes, mas sempre teve como principal atividade econômica o garimpo artesanal, que existe na região desde os anos 1940. Essa atividade, no entanto, está parada há dois anos devido à manobra da transnacional canadense, que comprou as três maiores áreas de garimpo da região, impactando diretamente o trabalho dos garimpeiros. De acordo com Jackson Dias, militante do MAB que acompanha a região, a ação da empresa foi ilegal: “Na fase de Licença Prévia, a empresa não poderia adquirir a área que pretende minerar, como a Belo Sun fez. Isso só poderia ser feito na fase de instalação”.

Segundo Mauro Barros, diretor de Desenvolvimento Corporativo e Assuntos Regulatórios da Belo Sun, a compra das áreas foi uma postura estratégica da empresa. Moradores da região comentam que as áreas foram compradas por R$ 30 milhões.

Segundo o morador Francisco, conhecido como Piauí, “essa empresa descumpre todas as obrigações legais e conta com a conivência do governo do Pará e da prefeitura de Senador José Porfírio”. O órgão licenciador do projeto é a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA). Os moradores comentam que a prefeitura já recebeu mais de R$ 2 milhões em impostos da empresa, mas esse montante não foi investido na comunidade.

Vista da Vila da Ressaca, às margens do rio Xingu

Sem dinheiro

Segundo o conselheiro fiscal da cooperativa, José Pereira, o Pirulito, “a cooperativa tem mais de 500 associados que movimentavam economicamente a região da Volta Grande, mas agora todo mundo está brefado”. “Brefado” na gíria do garimpeiro significa “sem dinheiro”.

Quem diz estar sem dinheiro também é a Belo Sun. Segundo Mauro Barros, a transnacional têm apenas U$ 4 milhões em caixa, porém, para iniciar a instalação do empreendimento precisaria de U$ 300 milhões. Ele complementa dizendo que “só captaremos recursos quando for liberada a Licença de Instalação e esperamos que ela saia em março de 2016”. A empresa pretende extrair 50 toneladas de ouro em 12 anos de concessão. O projeto será facilitado pela redução da vazão do rio Xingu no trecho da Volta Grande devido ao desvio das águas para alimentar as turbinas da barragem de Belo Monte.

Como proposta de minimizar os danos causados pela empresa e garantir a sobrevivência, a cooperativa apresentou para a empresa uma pauta com onze pontos de reivindicações, sendo a principal delas uma área de 50 hectares para os garimpeiros poderem continuar na profissão. A empresa não deixa claro se pretende remover a população da Vila da Ressaca, o que também causa apreensão na comunidade.

Os garimpeiros aceitaram aguardar o prazo de 45 dias para que a Belo Sun responda à pauta. “Se nossa sobrevivência enquanto comunidade for ameçada, só nos resta partir para a luta”, afirma Pirulito.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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