As tarifas de energia elétrica e as disputas empresariais

A privatização nos anos 90 transferiu 25 empresas de energia elétrica para o setor privado e implementou um sistema tarifário que simula a competição, instrumento usado para o aumento das […]

A privatização nos anos 90 transferiu 25 empresas de energia elétrica para o setor privado e implementou um sistema tarifário que simula a competição, instrumento usado para o aumento das tarifas a patamares internacionais. Os setores empresariais que controlam a indústria de eletricidade no Brasil passaram a obter lucros extraordinários. Nos últimos cinco anos, por exemplo, das 12 maiores empresas pagadoras de dividendos, nove são de energia elétrica. Como consequência, os consumidores residenciais passaram a pagar uma das tarifas mais caras do mundo.

As medidas anunciadas pelo governo federal para a renovação das concessões de energia elétrica e a redução das tarifas revelam uma contradição entre industriais e setores empresariais que controlam eletricidade. As usinas e linhas de transmissão em disputa eram, majoritariamente, estatais. A renovação evitou uma nova onda de privatizações e a redução das tarifas beneficiou principalmente a população e os setores industriais, em detrimento dos setores rentistas.

No caso das usinas com concessão renovada, a energia que era vendida por cerca de R$ 95,00/MWh agora será entregue por  R$ 30,00/Mwh. Essa redução foi possível, em grande parte, pela contribuição do sistema Eletrobrás e de seus trabalhadores. No entanto, nada foi alterado no lucro das empresas privadas de energia. A AES Tietê, por exemplo, que assim como a Eletrobrás possui usinas com mais de 40 anos, continuará vendendo a R$ 182,00/MWh em contratos bilaterais com a AES Eletropaulo.

A disputa se materializou também na política partidária entre o bloco que está no governo federal, formado pelo PT, PMDB e aliados e o bloco formado pelo PSDB e DEM. As estatais federais aceitaram a renovação e a redução das tarifas, favorecendo o interesse da indústria e dos consumidores residenciais. Já as estatais estaduais dos governos de SP, MG, PR e SC não aderiram à renovação das concessões e não aceitaram redução das tarifas. A redução nas tarifas para a Cesp, Cemig, Copel e Celesc poderia significar cerca de R$ 3 bilhões de redução de receita, exatamente o que em 2011 elas repassaram em dividendos aos acionistas privados, cerca de 75% do lucro líquido.

Nós, atingidos por barragens, entendemos que as medidas do governo federal referentes à renovação das concessões do setor elétrico foram importantes, atenderam em parte nossas proposições. Mas a solução dos problemas no setor elétrico passam por mudanças mais profundas na forma de organização da produção e distribuição da energia. A mudança no sistema tarifário é fundamental, assim como é importante impedir novos aumentos, evitar que estatais sejam privatizadas, intervir nas taxas extraordinárias de lucratividade das empresas privadas, garantir os direitos das populações atingidas e valorizar as empresas estatais e seus trabalhadores, sem demissões e precarizações, já que estes estão oferecendo ao país a menor tarifa. Valorizar os trabalhadores é a melhor forma de garantir a qualidade da energia. 

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 21/03/2013

Nossa resposta