Mulheres atingidas fortalecem o MAB em Rondônia

Com o objetivo de fortalecer a organização das mulheres atingidas por barragens e denunciar a violação dos direitos humanos das mulheres, agravados com a construção das hidrelétricas, o MAB deu […]

Com o objetivo de fortalecer a organização das mulheres atingidas por barragens e denunciar a violação dos direitos humanos das mulheres, agravados com a construção das hidrelétricas, o MAB deu início a um trabalho de formação e organização das mulheres atingidas pelas barragens de Rondônia, com apoio da ONU Mulher.

Este trabalho decorre da compreensão do Movimento que, na violação sistemática dos direitos humanos provocada pela construção de barragens no Brasil, as mulheres são as mais afetadas devido à sua condição de submissão em uma sociedade machista e patriarcal. É parte da estratégia do MAB cada vez mais criar espaços para que as mulheres sejam protagonistas da luta e organização.

O Movimento desenvolveu um diagnóstico participativo com um grupo de 62 mulheres de quatro comunidades atingidas pelas barragens de Jirau (comunidade ribeirinha de São Carlos), Santo Antonio (comunidades de Santa Rita, Joana D’arc e São Carlos) e Samuel (município de Itapuã do Oeste) no estado de Rondônia. A ideia foi verificar de forma concreta, a partir da fala e da vivencia das próprias mulheres, quais os principais direitos das mulheres atingidas por barragens que são violados.

Rondônia foi escolhido por ser o local onde nos últimos anos têm ocorrido muitos conflitos sociais e ambientais devido à construção das hidrelétricas. São constantes as denúncias do aumento da violência, da exploração sexual, da precarização do trabalho, da falta de estrutura de atendimento na saúde e educação.

Com a realização dos encontros e aplicação do diagnostico pelas próprias mulheres, mais uma vez foi comprovado que uma das principais violações aos direitos das mulheres atingidas se dá na esfera produtiva, ou seja, no âmbito do trabalho. A maioria delas (78%) trabalha como camponesas e exerce trabalhos domésticos e apenas 14% das mulheres recebem algum tipo de remuneração. Isso demonstra a falta de reconhecimento do trabalho desenvolvido por essas mulheres. Com a chegada da barragem, a situação se agrava ainda mais pela perda da terra, pelo deslocamento forçado para os centros urbanos e pela falta de qualificação para os trabalhos na cidade.

A velha prática das empresas construtoras de barragens de negar direitos, reproduzir as relações de opressão e negar o acesso às informações, gera a ausência de espaços de diálogo e de discussão sobre a implantação das barragens. Essa violação é agravada no caso das mulheres, que são sempre excluídas do processo de negociação com o consórcio, embora sejam as protagonistas na resolução dos conflitos que surgem após a negociação. A maioria está insatisfeita com a indenização e afirma que, se pudesse decidir, teria negociado de forma diferente, algumas afirmando até que “não teriam deixado construir a barragem”.

“A partir deste importante trabalho realizado, as mulheres atingidas das comunidades de Rondônia perceberam a importância de estarem inseridas na organização e através dos espaços coletivos construirem propostas de para cada vez mais as mulheres serem as sujeitas da própria libertação”, afirma Creusa Silvestre, da coordenação do MAB em Rondônia.

Matéria publicada na 20ª edição do Jornal do MAB (Abril de 2012)

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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