Campanha: Basta de violência contra as mulheres!

Matéria publicada originalmente na edição 19 do Jornal do MAB Com a perspectiva de que não é possível construir uma sociedade mais igualitária se persistir a opressão de gênero, os […]

Matéria publicada originalmente na edição 19 do Jornal do MAB

Com a perspectiva de que não é possível construir uma sociedade mais igualitária se persistir a opressão de gênero, os movimentos da Via Campesina estão engajados em uma campanha para erradicar a violência contra as mulheres. A ideia é denunciar todas as formas dessa violência, cobrar medidas do poder público e incentivar as mulheres a se organizarem para lutar contra esses problemas.

Os movimentos da Via entendem que a violência contra as mulheres é fruto do modelo patriarcal de sociedade, no qual as relações pessoais não estão fundamentadas no afeto, mas nas relações de poder e propriedade. Nesse modelo, a mulher aparece como um objeto que pertence ao homem e tem por obrigação lhe servir e dar prazer.

Dessa forma, a violência é vista como algo natural, que serve para manter a ordem estabelecida. Por isso, muitas vezes as mulheres têm dificuldade para entender que o que estão sofrendo é violência, em especial quando a violência praticada contra elas não é física. A dificuldade para lidar com esse assunto decorre do fato de que, na maioria das vezes, a violência é praticada dentro de casa, pelos próprios companheiros.

Há diversos tipos de violência sofridos pelas mulheres além da física (ou seja, as agressões e até assassinato) e da sexual (estupros e outros atos contra a sua vontade). Há também a violência psicológica (ameaças e chantagens), patrimonial (omissão ou destruição de objetos) e moral (calúnias e injúrias).

Violência contra as mulheres do campo

Adriana Mezadri, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), explica que, para as mulheres do campo, há alguns agravantes. “Por causa do isolamento e das relações mais conservadoras nas famílias, acabamos tendo mais dificuldade para denunciar esses casos. Há muita dificuldade em se separar dos maridos, porque as mulheres são mais culpabilizadas pelo fim dos relacionamentos”, conta.

Além desse tipo de violência praticado dentro de casa, as mulheres camponesas estão sujeitas à violência do agronegócio e dos grandes projetos, como os de barragens. “Eles avançam sobre os nossos territórios e nos expulsam. E sabemos que esses problemas atingem as mulheres com mais força, com casos de violência sexual e prostituição, que acompanham esses projetos”.

O MAB vem tratando desse assunto com bastante destaque este ano, a partir do Encontro das Mulheres Atingidas por Barragens, realizado em abril em Brasília. O Movimento também publicou uma cartilha sobre as violações dos direitos humanos das mulheres na construção de barragens, comprovando que elas são as mais prejudicadas por esses projetos. Além disso, diversos estados estão organizando encontros estaduais de mulheres para discutir o tema da campanha, entre outros assuntos.

A militante do MMC destaca a importância das mulheres se unirem para combater esse problema: “É fundamental a organização entre as mulheres. Se você não tem com quem conversar, em quem se apoiar, acha que não tem saída. Organizadas nós nos ajudamos, encaramos os problemas e conseguimos lutar por mudanças”, explica.

A violência em números

Mais de 40% das mulheres brasileiras já sofreram violência doméstica;

A cada 24 segundos, uma mulher sofre violência física no país;

Entre 1997 e 2007, 10 mulheres foram assassinadas por dia no Brasil;

Até 47% das mulheres do mundo tiveram sua primeira relação sexual forçada.

Fontes: Fundação Perseu Abramo, Instituto Sangari/DATASUS e OMS

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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