Oficina trata da relação de universidades, Fiocruz e movimentos

A relação entre as universidades públicas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e movimentos sociais foi tratada durante a Oficina Movimentos Social e Universidades, Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação […]

A relação entre as universidades públicas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e movimentos sociais foi tratada durante a Oficina Movimentos Social e Universidades, Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação Social no último dia 5 na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Participaram do evento representantes da Fiocruz, professores universitários, pesquisadores e militantes dos movimentos sociais.

Carmen Castro, pesquisadora do IPPUR/UFRJ, explicou que a oficina foi fruto de uma articulação feita inicialmente com reuniões mensais e quinzenais feitas por professores e pesquisadores da UFF, IPPUR/UFRJ, UFRRJ e Fiocruz. Ela explicou que “o objetivo sugerido para a oficina é pensar em um encontro ampliado de formação envolvendo movimentos sociais e Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação Social”. Com a oficina pretendeu-se que as reflexões e os desdobramentos apontados também pudessem ser intensificados dentro das Universidades Públicas e Fiocruz.  Os três grupos de trabalho sugeridos e sistematizados foram: Movimentos Sociais; Universidades e Instituições; Jovens Pesquisadores.

Atuante na formação das pessoas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Liciane Andrioli falou da relação entre a universidade e os movimentos sociais, que, segundo ela, se dá de uma forma coletiva e de diálogo. “Os cursos são montados respeitando a história dos professores e dos militantes. Além disso, é preciso sempre levar em conta os princípios dos movimentos sociais”, disse ao se referir aos cursos oferecidos aos militantes nas universidades.

Andrioli destacou conflitos que existem entre a universidade e os estudantes dos movimentos sociais: “É comum ter discordância durante a elaboração do curso. Muitas vezes os professores criam metodologias que não são facilmente assimiladas pelos militantes”. Ressaltou, porém, a possibilidade de superar tal conflito, destacando que “a continuidade dos cursos mostra que existe retorno importante para as práticas do movimento”.

Representando a Cooperação Social da Fiocruz, Leonardo Brasil Bueno e Felipe Eugênio apontaram um crescimento na Fiocruz de uma cultura de aproximação com organizações da sociedade civil, em especial com movimentos sociais e organizações de base. Como destacou Eugênio: “a própria Cooperação Social da Fiocruz desde a sua origem é um exemplo de uma relação orgânica do apoio técnico-científico com as necessidades e as ações de movimentos sociais e organizações de base em seus territórios”. 

Foram levantadas também as dificuldades burocráticas que os cursos dedicados aos movimentos sociais enfrentam na universidade. Além do tratamento periférico dado, às vezes, a esses cursos, que se realizam apenas durante as férias, período no qual há espaço na universidade para a realização das aulas para os militantes. “Ainda estamos atuando na marginalidade, pela porta dos fundos”, afirmou Castro.

No segundo momento do debate, durante à tarde, o principal foco da discussão foi o processo de formação. Enfatizou-se que a formação não pode ser arbitrária e, sim, construída sob uma perspectiva horizontal. Essa seria, de acordo com o grupo, a diferenciação dos cursos oferecidos a militantes no espaço da universidade. Formar os professores foi ressaltado como algo essencial. “O que queremos fazer na universidade é uma coisa nova. É preciso a formação do coletivo”, afirma Maria Lídia Silveira, professora  aposentada da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A historiadora Virginia Fontes (EPSJV/Fiocruz) enfatizou que apesar do crescimento dos cursos e experiências de formação com movimentos sociais, os cursos ainda formam uma minoria em relação à totalidade das Universidades Públicas. Por isso, também se observa, segundo Virginia, um aumento grande do tempo de trabalho dos professores e profissionais empenhados nestes cursos nas Universidades e na Fiocruz, “dentre os quais me incluo”, disse a docente. Porém, existe um reconhecimento importante feito por estes profissionais: “o aumento do uso da minha capacidade humana de existir é diferente do crescimento da venda de jornada de trabalho”. A pesquisadora destacou também que a consolidação e crescimento dos cursos passam fundamentalmente por uma unidade política e de projeto de sociedade, “como temos aqui na Escola Politécnica”, completou.

O conceito de conhecimento também foi questionado. Fernando Soares afirmou que não existe uma relação dicotômica entre conhecimento acadêmico e o popular. Segundo ele, o trabalho na universidade também pode ser alienado e é preciso cuidado para não se estabelecer um processo unidirecional. Para o jornalista e militante do Fórum de Manguinhos, “o conhecimento real se dá na luta”.

A partir do debate, surgiu a proposta de um seminário de formação no Rio de Janeiro. Pretende-se assim ampliar o debate com outras pessoas. A perspectiva é que para além da troca de experiências haja uma ação política estratégica. 

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro