Oficina trata da relação de universidades, Fiocruz e movimentos
A relação entre as universidades públicas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e movimentos sociais foi tratada durante a Oficina Movimentos Social e Universidades, Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação […]
Publicado 19/08/2011
A relação entre as universidades públicas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e movimentos sociais foi tratada durante a Oficina Movimentos Social e Universidades, Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação Social no último dia 5 na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Participaram do evento representantes da Fiocruz, professores universitários, pesquisadores e militantes dos movimentos sociais.
Carmen Castro, pesquisadora do IPPUR/UFRJ, explicou que a oficina foi fruto de uma articulação feita inicialmente com reuniões mensais e quinzenais feitas por professores e pesquisadores da UFF, IPPUR/UFRJ, UFRRJ e Fiocruz. Ela explicou que o objetivo sugerido para a oficina é pensar em um encontro ampliado de formação envolvendo movimentos sociais e Instituições de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação Social. Com a oficina pretendeu-se que as reflexões e os desdobramentos apontados também pudessem ser intensificados dentro das Universidades Públicas e Fiocruz. Os três grupos de trabalho sugeridos e sistematizados foram: Movimentos Sociais; Universidades e Instituições; Jovens Pesquisadores.
Atuante na formação das pessoas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Liciane Andrioli falou da relação entre a universidade e os movimentos sociais, que, segundo ela, se dá de uma forma coletiva e de diálogo. Os cursos são montados respeitando a história dos professores e dos militantes. Além disso, é preciso sempre levar em conta os princípios dos movimentos sociais, disse ao se referir aos cursos oferecidos aos militantes nas universidades.
Andrioli destacou conflitos que existem entre a universidade e os estudantes dos movimentos sociais: É comum ter discordância durante a elaboração do curso. Muitas vezes os professores criam metodologias que não são facilmente assimiladas pelos militantes. Ressaltou, porém, a possibilidade de superar tal conflito, destacando que a continuidade dos cursos mostra que existe retorno importante para as práticas do movimento.
Representando a Cooperação Social da Fiocruz, Leonardo Brasil Bueno e Felipe Eugênio apontaram um crescimento na Fiocruz de uma cultura de aproximação com organizações da sociedade civil, em especial com movimentos sociais e organizações de base. Como destacou Eugênio: a própria Cooperação Social da Fiocruz desde a sua origem é um exemplo de uma relação orgânica do apoio técnico-científico com as necessidades e as ações de movimentos sociais e organizações de base em seus territórios.
Foram levantadas também as dificuldades burocráticas que os cursos dedicados aos movimentos sociais enfrentam na universidade. Além do tratamento periférico dado, às vezes, a esses cursos, que se realizam apenas durante as férias, período no qual há espaço na universidade para a realização das aulas para os militantes. Ainda estamos atuando na marginalidade, pela porta dos fundos, afirmou Castro.
No segundo momento do debate, durante à tarde, o principal foco da discussão foi o processo de formação. Enfatizou-se que a formação não pode ser arbitrária e, sim, construída sob uma perspectiva horizontal. Essa seria, de acordo com o grupo, a diferenciação dos cursos oferecidos a militantes no espaço da universidade. Formar os professores foi ressaltado como algo essencial. O que queremos fazer na universidade é uma coisa nova. É preciso a formação do coletivo, afirma Maria Lídia Silveira, professora aposentada da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A historiadora Virginia Fontes (EPSJV/Fiocruz) enfatizou que apesar do crescimento dos cursos e experiências de formação com movimentos sociais, os cursos ainda formam uma minoria em relação à totalidade das Universidades Públicas. Por isso, também se observa, segundo Virginia, um aumento grande do tempo de trabalho dos professores e profissionais empenhados nestes cursos nas Universidades e na Fiocruz, dentre os quais me incluo, disse a docente. Porém, existe um reconhecimento importante feito por estes profissionais: o aumento do uso da minha capacidade humana de existir é diferente do crescimento da venda de jornada de trabalho. A pesquisadora destacou também que a consolidação e crescimento dos cursos passam fundamentalmente por uma unidade política e de projeto de sociedade, como temos aqui na Escola Politécnica, completou.
O conceito de conhecimento também foi questionado. Fernando Soares afirmou que não existe uma relação dicotômica entre conhecimento acadêmico e o popular. Segundo ele, o trabalho na universidade também pode ser alienado e é preciso cuidado para não se estabelecer um processo unidirecional. Para o jornalista e militante do Fórum de Manguinhos, o conhecimento real se dá na luta.
A partir do debate, surgiu a proposta de um seminário de formação no Rio de Janeiro. Pretende-se assim ampliar o debate com outras pessoas. A perspectiva é que para além da troca de experiências haja uma ação política estratégica.