Belo Monte ignora existência de povo indígena isolado

A Funai, o Ibama e o governo federal ignoraram a existência de um povo indígena isolado vivendo a 70 km do local das obras, quando da concessão das licenças prévias […]

A Funai, o Ibama e o governo federal ignoraram a existência de um povo indígena isolado vivendo a 70 km do local das obras, quando da concessão das licenças prévias e de instalação da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (Pará). A denúncia está no livro Povos Indígenas Isolados na Amazônia: A luta pela sobrevivência, que será lançado na próxima terça-feira, 14 de junho, na Procuradoria Geral da República, em Brasília, pela Universidade Federal do Amazonas e Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Segundo o livro, acredita-se que seja um grupo do povo indígena Assurini. Desde os anos de 1970 há descrições sobre a existência de indígenas em situação de isolamento na região dos rios Xingu e Bacajá. Estudos recentes e testemunhos comprovam a presença de indígenas isolados vivendo nas cabeceiras do Igarapé Ipiaçava e na Terra Indígena Koatinemo.

O livro relata que queimadas, retirada ilegal de madeira, arrendamento ilegal de pastos, invasões de pescadores e caçadores são algumas das ameaças enfrentadas pelos povos indígenas do país, especialmente por aqueles que vivem em situação de isolamento. Nos últimos anos, porém, a situação está ainda mais grave com a construção de grandes projetos, como estradas, portos e usinas hidrelétricas.

Com o avanço desses projetos, somados à política de omissão do Estado, os últimos locais de refúgio desses povos serão invadidos e violados. Belo Monte é o exemplo mais recente dessas violações. A hidrelétrica, projetada para ser construída no rio Xingu, Pará, alagará uma área de 612km2, atingindo cerca de 40 mil pessoas, das quais 19 mil sofrerão despejo forçado.

Defesa dos direitos dos indígenas

De acordo com a publicação, existem cerca de 150 povos indígenas em situação de isolamento no mundo, dos quais 127 na América do Sul, sendo 90 no Brasil. O livro, resultado da presença ativa e comprometida de agentes sociais envolvidos com a luta dos povos indígenas em defesa de seus direitos, tem como objetivo dar visibilidade a esta realidade, na expectativa de conseguir apoios na sociedade civil para a defesa e garantia de direitos que permitam a estes povos a possibilidade de continuar a existir enquanto sociedades etnicamente diferenciadas, bem como cobrar do poder público sua responsabilidade na proteção à vida e aos territórios desses povos.

Dentre os povos isolados que habitam o território brasileiro, está um grupo Avá-Canoeiro. Esse grupo pertencia a um grupo maior dos Avá-Canoeiro, que sofreu um massacre no final dos anos de 1960, quando quase toda a população deste povo foi dizimada.

Quando houve o violento contato com esse povo, marcado pela usurpação de suas terras pelo colonizador para a criação de gado e plantio de cana-de-açucar, parte do grupo foi transferido forçadamente pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para o território Karajá/Javaé, na Ilha do Bananal, para morar junto com os Javaé, seus históricos inimigos. Outro grupo, formado por seis pessoas foi localizado, já em 1983, morando em uma caverna na região de Minaçu, Goiás. O terceiro grupo, segundo relatos, teria fugido na época da transferência e vive ainda hoje em situação de isolamento.

Lançamento do livro

Estarão presentes no lançamento do livro os organizadores da obra, Guenter Francisco Loebens, missionário do Cimi no Regional Norte I, e o antropólogo Lino João de Oliveira Neves, além de Deborah Duprat, vice-procuradora geral da República e coordenadora da 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF), representantes do povo Avá-Canoeiro e membros do Cimi.

O livro pode ser adquirido pelo valor de R$ 30,00 (mais taxa de envio, caso seja enviado pelo correio). Para tanto, é necessário entrar em contato com o Cimi pelo telefone (61) 2106-1650.

*Com informações do Cimi

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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