Povo em movimento
Derrubaram e pisaram tudo Sapatearam a Barra da Braúna Com a bota suja e prepotente de uma multinacional. Quebraram a espinha dorsal do nosso Rio Pomba Bem na descida […]
Publicado 02/03/2010
Derrubaram e pisaram tudo
Sapatearam a Barra da Braúna
Com a bota suja e prepotente de uma multinacional.
Quebraram a espinha dorsal do nosso Rio Pomba
Bem na descida das pedras no meio da corredeira
Prenderam sua energia
Seu corpo treme e agoniza jogado ao sabor do vento:
Deitado sobre as planícies
Encostando-se em cada grota
Chorando de dor.
Dizem que há peixes mortos pelas bandas do Sisnero
Naquele leito magrelo de um rio que já se foi
Dizem também que uma onça se atropelara na estrada
Do acidente fatal caíra morta no chão
Contam que bichos se afogam no lago da traição
Que vem crescendo pançudo invadindo a região
Será tudo isso um crime ou sina da criação?
Falaram das maritacas gritando em desespero
Duas mil vozes em uma: para onde vou?, para onde vou?
Violaram o seu habitat e roubaram-lhe o alimento
O que produzia fruto agora é lenha no chão
Segredando qualquer coisa a quem as soubesse ouvir
Formaram um manto verde de desespero esperançado
E partiram em algazarra: para onde vou?, para onde vou?.
A castanheira centenária e por demais generosa
Pagou com fartos frutos o golpe da maldição
Coqueiros tombaram mortos se espatifando ao chão
Banhando a terra de água e das lágrimas de tanta gente
Descontente com a ganância que traz a destruição.
Contaram da cachorrinha que sentira a falta do amigo
Mostrando-se solidária àquele minguado de vida
Na sua partida triste sem dono que o levasse
Para um barraco de nada num pasto perto da estrada.
A cachorrinha ladrou ladrões! e resistiu nas ruínas
Ficando magra de fome e de matutar no que via:
Destino?
Sina?
O que faz o amigo humano levar uma vida de cão?
Do peixe que restara vivo
Da planta viva em semente
Da maritaca que indaga,
Da cadela resistente
De gotas de humanidade naquele mar de ambição
Do vento da liberdade soprado na rebeldia
Gente tocada da terra junta força e facão
E do mundo que desabava no golpe que fora fundo
Desfilam uns poucos nomes no clarão de um novo dia
Sebastião, José, Isabel: uns dez ou pouco mais.
Algumas pitadas de fé naquela gente sofrida
Fez-se caminho e caminhada, bandeira de um novo tempo
Vencendo a prepotência com o povo em movimento.