Povo em movimento

Derrubaram e pisaram tudo Sapatearam a Barra da Braúna Com a bota suja e prepotente de uma multinacional.   Quebraram a espinha dorsal do nosso Rio Pomba Bem na descida […]

Derrubaram e pisaram tudo

Sapatearam a Barra da Braúna

Com a bota suja e prepotente de uma multinacional.

 

Quebraram a espinha dorsal do nosso Rio Pomba

Bem na descida das pedras no meio da corredeira

Prenderam sua energia

Seu corpo treme e agoniza jogado ao sabor do vento:

Deitado sobre as planícies

Encostando-se em cada grota

Chorando de dor.

 

Dizem que há peixes mortos pelas bandas do Sisnero

Naquele leito magrelo de um rio que já se foi

Dizem também que uma onça se atropelara na estrada

Do acidente fatal caíra morta no chão

Contam que bichos se afogam no lago da traição

Que vem crescendo pançudo invadindo a região

Será tudo isso um crime ou sina da criação?

 

Falaram das maritacas gritando em desespero

Duas mil vozes em uma: ‘para onde vou?’, ‘para onde vou?’

Violaram o seu habitat e roubaram-lhe o alimento

O que produzia fruto agora é lenha no chão

Segredando qualquer coisa a quem as soubesse ouvir

Formaram um manto verde de desespero esperançado

E partiram em algazarra: ‘para onde vou?’, ‘para onde vou?’.

 

A castanheira centenária e por demais  generosa

Pagou com fartos frutos o golpe da maldição

Coqueiros tombaram mortos se espatifando ao chão

Banhando a terra de água e das lágrimas de tanta gente

Descontente com a ganância que traz a destruição.

 

Contaram da cachorrinha que sentira a falta do amigo

Mostrando-se solidária àquele minguado de vida

Na sua partida triste sem dono que o levasse

Para um barraco de nada num pasto perto da estrada.

A cachorrinha ladrou ‘ladrões!’ e resistiu nas ruínas

Ficando magra de fome e de matutar no que via:

Destino?

Sina?

O que faz o amigo humano levar uma ‘vida de cão’?

 

Do peixe que restara vivo

Da planta viva em semente

Da maritaca que indaga,

Da cadela resistente

De gotas de humanidade naquele mar de ambição

Do vento da liberdade soprado na  rebeldia

Gente tocada da terra junta força e facão

E do mundo que desabava no golpe que fora fundo

Desfilam uns poucos nomes no clarão de um novo dia

Sebastião, José, Isabel: uns dez ou pouco mais.

Algumas pitadas de fé naquela gente sofrida

Fez-se caminho e caminhada, bandeira de um novo tempo

Vencendo a prepotência com o povo em movimento.

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