Fórum dos Movimentos Sociais nasce em São Paulo para enfrentar política tucana
Para organizações, é preciso romper com um bloco de forças econômicas formado por uma elite que defende seu poder permanente Por Flaviana Serafim e Vanessa Ramos, da CUT SP Fotos: […]
Publicado 14/05/2015
Para organizações, é preciso romper com um bloco de forças econômicas formado por uma elite que defende seu poder permanente
Por Flaviana Serafim e Vanessa Ramos, da CUT SP
Fotos: Anju
O governo paulista liderado pelo tucano Geraldo Alckmin (PSDB) terá um novo cenário no próximo período, o de enfrentamento e de lutas unitárias contra as políticas neoliberais adotadas pelo partido nos últimos 20 anos no estado. Esta foi a tônica do lançamento do Fórum dos Movimentos Sociais de São Paulo nesta terça (13), na Quadra dos Bancários, no centro da capital.
Em reconhecimento aos professores estaduais, por seus mais de 50 dias em greve, os militantes aplaudiram de pé a resistência da categoria frente ao descaso e a falta de negociação do governo estadual, em uma realidade onde existem salas de aulas superlotadas e educadores pouco valorizados.
Os movimentos, na ocasião, leram uma carta compromisso. É urgente e necessário um projeto político para São Paulo, que se enraíze nos problemas e propostas e se nutra da vontade que o povo tem de provocar as mudanças necessárias, aponta o documento, que indica a construção de um projeto popular para um estado de São Paulo inclusivo, justo e solidário.
Técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Miguel Matteo lembrou de um senso comum uma espécie de lenda – que permeia a ideia de que São Paulo é uma ilha no Brasil, a locomotiva do país. Quando vemos os dados econômicos, percebemos que São Paulo é o Brasil, não uma ilha, com os mesmos índices de desigualdade de outros estados, ainda que exista mais gente rica, já que há uma população maior, afirmou durante a primeira mesa que expôs um diagnóstico estadual.
Segundo Matteo, o estado é desigual. O pesquisador mostrou que há grande concentração de pessoas somente na região metropolitana de São Paulo e exemplificou como a renda é mal distribuída. Os 50% dos mais pobres não chegam a ter 5% da renda do estado paulista. Os 10% dos mais ricos de São Paulo têm 50% da renda do estado. Esse é o desequilíbrio, apontou.
Para a vice-prefeita da cidade de São Paulo, Nádia Campeão, não existe luta e disputa política nacional sem levar em conta a realidade de São Paulo. Há dificuldade de alinhamento entre municípios, governo estadual e federal, o que tem prejudicado o estado. Não se consegue replicar em São Paulo os principais programas exitosos em políticas públicas, nem de inclusão social e renda, explicou.
Sobre isso, Matteo, também autor do livro São Paulo, da Coleção Estados Brasileiros, acrescentou que apenas seis municípios têm metade do Produto Interno Bruto (PIB) do estado de São Paulo. E dos 645 municípios, 445 dividem apenas 5% da renda de São Paulo. É justo ou não?, questiona.
Nádia destacou que esses dados revelam o bloqueio em torno do poder que se alojou em São Paulo. Querem [as elites] um estado como um centro importante das forças conservadoras, das forças econômicas comprometidas com o setor financeiro e totalmente diferente do projeto de desenvolvimento popular que vai ajudar o Brasil avançar, disse.
A vice-prefeita acredita que o desafio é mostrar para o povo paulista e de todo o Brasil qual o real tamanho da insuficiência do governo nas últimas décadas. É mostrar que esse governo de São Paulo, em vez de ser alavanca para o desenvolvimento das cidades e da qualidade de vida, tem sido um peso, um ônus para esses municípios e sua população”, alerta.
Ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e diretor do Instituto Lula, Paulo Vannuchi reforçou que o estado paulista é a contramão do Brasil.
“São Paulo representa, acima da tragédia da falta de água, o colapso na educação, na saúde, na segurança pública e nos transportes. Tivemos mais de 60 colapsos no sistema de metrô e trem e o partido da mídia blindou, pontua.
Para Vannuchi, parte-se de uma percepção de que é hora de redinamizar os movimentos sociais, dentro da diversidade que existe, para que compreendam, juntos, a importância da participação popular.
Além do debate político e organizativo, o lançamento também foi marcado por uma mística de abertura que homenageou o povo negro com espetáculo formado por diferentes coletivos teatrais, em memória aos 127 anos de abolição inacabada.
A violência contra as mulheres também foi apresentada, para ressaltar a importância da Lei Maria da Penha e, ainda, a ampla jornada de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores no país.