Mudanças no cenário: o enfrentamento de classes está escancarado

O momento atual, marcado pelas grandes mobilizações de rua, expressa a passagem de um longo período em que imperou a lógica da conciliação de interesses e do consenso, recolocando o conflito como motor da história. Existe na sociedade maior disposição para as lutas e as reivindicações de caráter popular ganham espaço. Essa análise foi feita durante estudo da conjuntura no Curso Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo, uma parceria do MAB e da UFRJ, com a assessoria de Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, e Luiz Dalla Costa, da coordenação nacional do MAB.

 “As mobilizações massivas, com forte protagonismo da juventude, abrem um novo período histórico, de uma cultura de participação contestadora, com possibilidade de avançar nas lutas e conquistas sociais”, afirmou Dalla Costa. “Mudou a aceitação das pautas dos movimentos sociais, o que antes era criminalizado, agora é visto como legítimo pela maioria da população.”

Igor Fuser destacou que as mobilizações, não apenas no Brasil, mas em diversos países, se relacionam a uma frustração econômica de setores médios da sociedade, que encontraram um limite para a melhora das condições de vida. Além disso, há uma frustração política: “As instituições e os instrumentos tradicionais da política são incapazes de representar e realizar os anseios dessa população”, afirmou.

Frente a esse cenário, o desafio das forças políticas da esquerda é deixar de lado o conservadorismo para seguir mobilizando, politizando as reivindicações e fortalecendo a organização. Essa politização deve ser no sentido de tencionar essa política de conciliação construída nos últimos anos para arrancar conquistas concretas que abrirão a possibilidade de acumular para a construção de um projeto da classe trabalhadora.