Em cidade sede de Belo Monte, energia elétrica é precária

Os problemas do serviço de energia elétrica foram tema de debate na Tribuna Livre da Câmara Municipal de Altamira na semana passada. Os presentes relacionaram a precariedade do serviço à […]

Os problemas do serviço de energia elétrica foram tema de debate na Tribuna Livre da Câmara Municipal de Altamira na semana passada. Os presentes relacionaram a precariedade do serviço à má qualidade da Celpa (a distribuidora do Pará) e à construção da hidrelétrica de Belo Monte, que causou um aumento da demanda na cidade. Coincidência ou não, 90% da reunião da Câmara aconteceu no escuro por falta de luz.

Embora convidada, a Celpa não compareceu. Pertencente ao Grupo Rede, a companhia faliu e está em processo de recuperação judicial. Hoje, está sob controle do grupo Equatorial.

O vereador João Artur, que fez o requerimento, justificou o pedido afirmando que “voltamos 20 anos atrás com os constantes apagões, com o comércio perdendo mercadorias, com as famílias perdendo alimentos e eletrodomésticos. Eu mesmo perdi dois aparelhos há 15 dias”.

Mauro Tavares, do Sindicato dos Urbanitários do Pará, apresentou dados que levaram a Celpa a quebrar no início de 2012: “Como quebra uma empresa que tem um monopólio natural e que vende um produto de primeira necessidade, que todo mundo quer consumir? A Celpa pegava dinheiro e repassava a outras empresas (8) do Grupo Rede. Ela foi quebrada! Um doente, necessitado de sangue, não pode socorrer o outro”.

Mauro afirmou ainda que a administração centralizada e distante do Pará, a total falta de autonomia dos trabalhadores, a terceirização e a deteriorização dos índices de qualidade são fatores, também, que ajudaram na sua falência. “Ordens de serviços eram decididas em São Paulo, numa realidade diferente, e aqui tinha que mudar tudo. Se alguém solicita uma reunião da Celpa na comunidade, o funcionário tem poder de decidir nem isso. O escritório de Altamira não tem nem um gerente”.

Os dados sobre a Celpa impressionam. Das 63 empresas que distribuem energia no Brasil, ela está em último lugar em qualidade. Cada brasileiro ficou durante o ano de 2012 em média 20 horas sem energia. Os paraenses ficaram mais de 100 horas. Os consumidores das vilas e comunidades enfrentam filas enormes para pegar a conta de luz no escritório da Celpa, ou ficam encurraladas numa sala apertada. Quando a conta de luz atrasa por irresponsabilidade da empresa, os consumidores pagam multa. Os funcionários trabalham sob pressão psicológica com filas intermináveis à sua frente. As perdas de energia da Celpa chegam a 35%, sendo 1/3 assumido pela empresa e 2/3 pelos consumidores. O prejuízo da empresa em 2012 foi de 85 milhões. Existem bairros inteiros que funcionam com ‘gatos’, que somam 150 mil em todo o Estado. Apear disso, seu faturamento mensal é de 250 milhões.

Mauro teme que os serviços piorem. Segundo ele, a empresa tem hoje 2.116 empregados e quer demitir 564. “Se os serviços são ruins, vão piorar ainda mais”. Ele informou que 42 municípios já entraram com ação judicial contra a Celpa e sugeriu um esforço conjunto das Câmaras Municipais, das Prefeituras, da Justiça e da sociedade organizada para garantia do direito à energia de qualidade.

“O Pará exporta energia e seu povo vive sem energia elétrica ou de péssima qualidade. Defendemos o direito das famílias e dos trabalhadores. Precisamos fazer uma grande articulação e debates para envolver os segmentos organizados e a sociedade”, afirmou Iury Paulino, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Situação é pior com Belo Monte

Vereadores e moradores presentes criticaram a Norte Energia, dona da barragem de Belo Monte, por fazer de conta que não tem nada a ver com esse problema. A população de Altamira triplicou no último período por causa de Belo Monte, a demanda aumentou muito, não foi feito nenhum investimento na estrutura dos serviços. “Belo Monte é um negócio cruel, e por enquanto estamos muito calados”, afirmou Marcos Alexandre.

“Nós estamos passando fome, porque alguém tirou o nosso pão”, disse Paulo, do bairro São Domingos, que está sem energia elétrica há 15 dias.

A Câmara de Vereadores de Altamira decidiu acionar judicialmente a Celpa. Decidiu ainda pedir um pequenino gerador à Norte Energia para o espaço da Câmara Municipal.