ARTIGO | Internacionalizando a luta dos atingidos: rumo ao IV Encontro dos atingidos por barragens e crise climática

O desafio de dar um passo a mais na luta dos atingidos no mundo

I Encontro Internacional de Atingidos por Barragens aconteceu em Curitiba, no Paraná, em 1997. Foto: Arquivo MAB

Desde sua fundação, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) indicava que a luta pelos direitos das populações enfrentava empresas e organismos internacionais, e que, para responder de forma adequada a agressão que os atingidos sofriam, a perspectiva de articulações e incidência internacional era necessária.

Com essa visão foi organizado o I Encontro Internacional de Atingidos e seus aliados, na cidade de Curitiba, no Paraná, em 1997. E assim, foi escrita a primeira declaração de caráter internacionalista que dizia: “Embora essas experiências reflitam a diversidade de nossas culturas e realidades sociais, políticas e ambientais, nossas lutas são uma só. Nossa luta é a mesma, porque, por toda parte, as barragens expulsam as pessoas de suas casas, inundam terras agrícolas férteis, florestas e lugares sagrados, destroem reservas pesqueiras e de abastecimento de água potável, provocam a desintegração social e cultural, assim como o empobrecimento econômico de nossas comunidades. Nossa luta é a mesma, porque, por toda parte, existe uma grande distância entre os benefícios econômicos e sociais prometidos pelos construtores de barragens e a realidade do que acontece após a construção (Declaração de Curitiba 14 de março de 1997).

E ao final da Declaração de Curitiba, os participantes do I Encontro Internacional afirmavam um compromisso de ação internacional e de unificação de um Dia Internacional em comum para os atingidos de todo o mundo, criando a data que hoje simboliza um momento de mobilização por justiça e pela vida.

“Das pequenas cidades da Índia, Brasil e Lesoto, até os escritórios de Washington, Tóquio e Londres, forçaremos os construtores de barragens a aceitarem nossas exigências. Para fortalecer nosso movimento, vamos construir e reforçar redes regionais e internacionais. Para simbolizar nossa crescente unidade, declaramos que o 14 de março, Dia Nacional de Luta contra as Barragens brasileiro será, a partir de agora, o Dia Internacional de Luta contra as Barragens e Pelos Rios, Pela Água e Pela Vida” (Declaração de Curitiba 14 de março de 1997).

Seguindo fieis a esta construção histórica, é que o MAB participou do II Encontro Internacional, em Rasi Salai, na Tailândia, em 2003, e no III Encontro realizado em Temacapulin, Jalisco, no México, em 2010.

Com a participação ativa em diversas regiões do mundo, em especial nas Américas, o MAB contribuiu para a construção do Movimento de Afectados por Represas (MAR), originado no ano de 2016, que hoje conta com a participação de mais de 25 organizações em 21 países da América, Europa, África e Ásia. “A ação concreta de resistência e pressão popular, a formação política e técnica e a organização de movimentos fortes, são três pilares básicos e fundamentais que o MAR leva em conta ao longo de sua construção histórica” (Revista EnMARcha nº1, 2021).

Foto: Arquivo MAB

Esse processo de articulação internacional estimulou, no último período, a realização de uma reunião decisiva, que definiu pela construção do IV Encuentro Internacional de Comunidades Afectadas por Represas y Crisis Climáticas. ¡En Marcha por la soberanía energética popular!, a ser realizado em novembro de 2025, na Amazônia brasileira, reunindo organizações de atingidos, lutas e experiências de organização e resistência de todo mundo.

O caminho para a construção de um grande Movimento Internacional de Atingidos será fruto de um intenso trabalho coletivo, permeado por muito aprendizado e troca de experiências. É evidente, a todos que participam destas construções internacionais, que este é um momento propício para um salto de qualidade no internacionalismo das populações atingidas. Dessa forma, construindo o fortalecimento dos movimentos de atingidos por barragens em todas as partes do mundo e contribuindo com a construção de um mundo mais fraterno e igualitário.

Internacionalizar as lutas é nossa esperança. Viva a luta dos atingidos no Brasil e no mundo!

* Deisy Avendaño e da Red de Protección y Defensa del Territorio Patagonia (Chile) e da Comunicação do Movimento de Afectados por Represas (MAR).

*Luis Dalla Costa é da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e do Movimento de Afectados por Represas (MAR).

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