Proprietárias de Candonga, empresas criminosas no rompimento em Mariana (MG) responsáveis pelo desligamento da usina estão sendo premiadas, lucrando alto sem gerar energia, enquanto o povo paga a conta
Publicado 03/02/2021 - Atualizado 03/02/2021
A hidrelétrica de Candonga, instalada no rio Doce, em Minas Gerais, que há cinco anos está desligada sem gerar nada de energia, já recebeu R$ 424 milhões de reais a partir do chamado Mecanismo de Realocação de Energia autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Ou seja, o dinheiro tem sido integralmente cobrado nas contas de luz do povo brasileiro.
Um escândalo nacional, pois a usina pertence à Vale, empresa que também é proprietária da Samarco, responsável pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana que inviabilizou a usina de Candonga. Ou seja, os responsáveis pelo desligamento da usina de Candonga estão sendo premiados, lucrando alto sem gerar energia, enquanto o povo está pagando pelo crime em Mariana.
É por isso que, passados cinco anos, a Fundação Renova e a Samarco não retiraram ainda a lama depositada no fundo do lago da usina. Pelo contrário, as empresas não cumprem cronogramas, atrasam obras, e alegam que os trabalhos de limpeza do lago terão o prazo de 17 anos para serem finalizados.
Se este for o tempo para religar as turbinas para voltar a gerar energia, os donos de Candonga (os mesmos “donos da lama”) podem ser beneficiados com cerca de R$ 1,45 bilhão. Lembrando que o valor está sendo cobrado nas contas de luz.
Vale destacar que a hidrelétrica Risoleta Neves (conhecida como Candonga) está localizada no início do rio Doce e teve seu reservatório inundado por 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos vindos da barragem de Fundão em novembro de 2015.
Quando a hidrelétrica foi construída, ela atingiu os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, inundando toda a comunidade de Soberbo, que teve que ser reconstruída pela empresa.
Hoje a barragem é de propriedade do Consórcio Aliança (50%) e da Vale (50%). O Consórcio Aliança é formado pela Vale (55%) e pela CEMIG (45%). A Vale é também acionista da Samarco (50%), responsável pelo rompimento da barragem de Fundão. Desde 25 de novembro de 2015, a hidrelétrica não gera energia devido ao acúmulo dos rejeitos.
As obras de retirada de rejeitos do reservatório da hidrelétrica avançaram pouco desde o rompimento. Toda lama segue acumulada no fundo do lago da usina. Até hoje, foram retirados cerca de 900 mil metros cúbicos de rejeito na área mais próximo ao barramento.
Aos atingidos interessa a retirada do máximo possível de rejeitos para que possam voltar a usar o reservatório e o rio Doce para suas atividades de pesca, turismo e garimpo tradicional, no entanto o trabalho está a passos de tartaruga.
Passados cinco anos do crime da Samarco, Vale e BHP Billiton, em audiência pública realizada pelo órgão ambiental no ano passado, no dia 15 de outubro, as empresas apresentaram três possibilidades de retirada do rejeito.
A empresa defende a retirada mínima do rejeito, de cerca de mais 400 mil metros cúbicos, necessária apenas para que usina volte a funcionar, mas que não permite outros usos que os atingidos querem fazer do lago. A previsão para o término da retirada dessa quantidade de rejeitos defendida pela empresa é novembro de 2022, mas todos os prazos fixados anteriormente foram descumpridos. Para retirada máxima do rejeito a previsão é de 17 anos.
O valor usado nas obras de retirada do rejeito está sendo incluído nos gastos com a reparação dos danos gerados pelo rompimento de Fundão, feita pelo Fundação Renova, que recebe aportes financeiros da Vale e da BHP Billinton, controladoras da Samarco. Ou seja, o recurso da reparação aos atingidos está sendo usado pela empresa causadora do dano para consertar uma barragem que é dela própria.
Não bastasse todo esse processo de violação, com a maioria dos pescadores e garimpeiros tradicionais sem receber indenização até hoje, o Consórcio Aliança e a Vale, donos da hidrelétrica, continuam recebendo valores referente a geração de energia que não ocorre há cinco anos.
Nesses cinco anos, se a usina estivesse funcionando teria produzido aproximadamente três milhões de megawatt hora (MWh) de energia, o que seria suficiente para abastecer 290 mil famílias brasileiras ao longo de cinco anos.
A usina de Candonga tem potência instalada de 140 MW, e 66 MW médios. A empresa não está gerando energia mas recebe valores como se estivesse gerando e vendendo a energia a R$ 10 por MWh.
Isso mostra que na prática, são as famílias brasileiras que estão pagando, em suas contas de luz, a reparação do crime do rompimento da barragem de Fundão. Esse aporte financeiro do Estado para a CEMIG e, principalmente, para a Vale é mais um crime cometido por essa empresa contra o povo brasileiro, em total acordo com o Estado.
O Movimento dos Atingidos por Barragens denuncia esse esquema perverso da Vale contra a sociedade e se coloca em luta para que não seja o povo brasileiro a pagar, em suas contas de luz, pelos crimes que a Vale comete.