Deslizamento de encosta do Rio Teles Pires, em Sinop (MT), preocupa moradores

Pesquisadores fazem alerta sobre relação do fenômeno com a má elaboração dos estudos de impacto ambiental da UHE Sinop

Comunicação MAB/MT

Na região da Praia do Cortado, em Sinop, no Mato Grosso, houve um deslizamento de parte da encosta do rio Teles Pires na última quinta-feira (10). O ocorrido fez com que uma faixa de aproximadamente 40 metros de largura da margem ficasse prejudicada e, assim, caísse na água.  

Um pescador que preferiu não ser identificado conta que uma família que estava próxima no momento do deslizamento ficou assustada com o barulho.

O morador da região cita que nunca presenciou algo parecido no Teles Pires. Um fenômeno semelhante, denominado de “terras caídas”, é mais comum na região do Alto Solimões, rio Amazonas e rio Madeira, em decorrência da erosão fluvial natural. No rio Teles Pires, esse deslizamento se dá por ação do homem na natureza.

Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso e doutorando em Ciências Ambientais, Marcos dos Santos explica que “o enchimento do lago da usina hidrelétrica de Sinop influenciou fortemente o acontecimento, uma vez que o lençol freático sofre alterações por ser retido em áreas antes secas e que, atualmente, estão encharcadas”, explica.

Santos conclui que “a ocorrência de fatos dessa natureza às margens de um dos principais rios do estado confere sérios riscos de novos deslizamentos”.

Em laudo confeccionado pelo professor do departamento de Engenharia Elétrica da UFMT, encomendado pelo MPE-MT em novembro de 2010, já havia menção em tal sobre a possibilidade do fenômeno.

“A combinação da vazão afluente da UHE Sinop com volume armazenado no reservatório, determina um novo regime hidrológico ao longo de toda extensão do rio Teles Pires. Com isso vemos a extensão dos impactos gerados pela operação da UHE Sinop, os quais não foram considerados no estabelecimento e dimensionamento das áreas de influência direta e indireta”, afirma o professor.

De acordo com Marcos dos Santos, tal acontecimento foi somente um dos diversos impactos ambientais que a UHE Sinop está gerando; além das recentes mortandades de peixes que exemplificam o descaso com o meio ambiente e as populações locais, em decorrência da má elaboração dos estudos de impacto ambiental e o descumprimento das licenças ambientais.

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