No Vale do Ribeira (SP), MAB realiza aula pública em defesa da Amazônia

No Dia da Amazônia, estudantes de comunidades quilombolas participaram de aula pública e plantio de árvores no município de Eldorado (SP)

Texto e fotos: Guilherme Weimann

Na manhã desta quinta-feira (5), Dia da Amazônia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou um ato em formato de aula com os alunos da Escola Estadual Maria Antonia Chules Princesa, localizada dentro do Quilombo André Lopes, no município de Eldorado, em São Paulo.

Participaram da atividade lideranças de oito comunidades quilombolas da região do Vale do Ribeira – André Lopes, Galvão, Ivaporunduva, Nhunguara, Ostras, Pedro Cubas, Sapatú e São Pedro –, além do bairro do Batatal.

Antes do início da aula, a diretora Josemira dos Santos Solposto Gauvea lamentou a ausência dos estudantes do Quilombo São Pedro, que não conseguiram chegar à escola pelo segundo dia durante esta semana, devido às condições precárias da estrada. “A luta aqui é diária, a perda de dois dias de aula somente em uma semana é muito grande”, afirma.

Atualmente, o colégio abriga 283 alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e de todos os anos do ensino médio. Fundado em 2006 por uma grande mobilização das comunidades do entorno, a pauta atual da escola é a elaboração do currículo quilombola.

Preservação

O coordenador estadual do MAB, Ubiratã Dias, foi o responsável por trazer um panorama histórico e também a atual situação da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Biólogo e especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ubiratã chamou a atenção para os dados sobre o desmatamento deste bioma.

“Já foram desmatados um milhão de quilômetros quadrados ou 20% da Amazônia, o que representa quatro vezes o perímetro do estado de São Paulo. Metade disso ocorreu da década de 1980 pra cá, e isso tem se agravado ainda mais nos últimos meses”, explica.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente no mês de julho houve um aumento de 88% do desmatamento comparado com o ano de 2018. De acordo com o órgão, foram 920 quilômetros quadrados de floresta desmatada somente neste período. Como resposta à divulgação dos dados, Bolsonaro exonerou o diretor da entidade.

Diante desse cenário, Ubiratã aponta que é necessário conscientizar e unir a população em torno do tema da preservação. “A Amazônia tem uma importância econômica, social e ambiental para todo o país e para o restante do mundo. E não somente pela sua flora e fauna, como também por todos os recursos naturais, como água e minério. E essa ofensiva ruralista que está acontecendo por lá não vai demorar pra chegar aqui na região”, alerta.

Leitura semelhante foi apresentada pelo quilombola José Rodrigues da Silva, morador do Ivaporunduva, comunidade fundada em 1630. “Nós não somos contra o desenvolvimento, mas ele deve ser sustentável. Só no Ivaporunduva nós produzimos 600 caixas de banana orgânica por semana. Quem realmente produz e preserva o meio ambiente são as comunidades indígenas e quilombolas”, ponta o quilombola.

A região do Vale do Ribeira é composta por diversas comunidades quilombolas, que sofreram diversos ataques racistas de Bolsonaro; há anos, existe organização na região contra a ofensiva dos setores do agronegócio, mineração e hidrelétricas.

Defesa da vida

Após a aula pública, também foi realizado o plantio de mudas de juçara e pitanga, árvores nativas da região. Os próprios alunos escolheram um local na escola para abrigar as novas plantas.

Renato Guilherme Pereira Torres, de 15 anos, foi um dos que participou das atividades, que considerou um recado do Vale do Ribeira: “Nós mostramos que somos contra o que está acontecendo na Amazônia e, além disso, que vamos continuar preservando as florestas da nossa região”.

A atividade no Vale do Ribeira está inserida dentro de uma mobilização nacional com a mensagem “Defender a Amazônia é Defender a Vida”, que conta com a participação de diversas entidades e movimentos populares e organizações da sociedade civil e ocorre em várias cidades do país e no exterior.