Sem pesca, só resta tristeza e luta em Colatina-ES
Pescadores de Colatina não encontram peixe, e o que pegam não conseguem vender no comércio pois a sociedade está desconfiada da contaminação. O reconhecimento é uma luta constante, assim como […]
Publicado 11/11/2018
Pescadores de Colatina não encontram peixe, e o que pegam não conseguem vender no comércio pois a sociedade está desconfiada da contaminação. O reconhecimento é uma luta constante, assim como passar o dia longe do rio
Foto: Corbari
O Espírito Santo recebe a Marcha Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça em Colatina, com celebração em defesa dos atingidos pelo crime da Samarco/Vale/BHP, neste sábado (10). Na estrada desde o dia 04, à Marcha se somam os pescadores do município, sem possibilidade de trabalhar desde o rompimento da barragem de rejeitos.
O pescador tá triste, não te feito nada, em casa só comendo e dormindo. A gente passava quase o dia todo no rio, a pesca era o sustento e o lazer do pescador. Hoje somos pagos pra não entrar, indigna-se Litunoy Gomes de Araújo, conhecido como Araújo Pescador.
Ele mora no bairro IBC, conhecido com uma vila de pescadores. Antes do crime, todos os moradores do local costumavam pescar, desde criança até os mais velhos, ou por lazer ou profissão. Após a lama, não são mais encontrados peixes no Rio Doce.
Corimba a gente acha, mas é um peixe que não tem comércio. Ele come barro e as pessoas não tem confiança de comer ele. Mas alguns sumiram, pacumã sumiu, ele e cascudo eram o carro chefe do nosso pescado e sumiram, não tem 5% do que tinha antes, relata o pescador.
Antônio também é pescador e está sem trabalho desde a chegada da lama. Aqui pra gente a pesca era trabalho e lazer. Ninguém mais é feliz, tudo se transformou em pesadelo, lamenta. Ele conta que costumavam tirar cerca de R$2.500,00 por mês e hoje o que vendem de peixe não dá um centavo. A população não acredita que os peixes estejam bons para consumo, com medo da contaminação. Hoje só pescam a sardinha, que vendem para uso como isca.
Foto: Mídia Ninja
O cartão do Programa de Auxílio Emergencial é entregue para alguns pescadores do município, mas o valor passa longe da renda de costume, e há ainda muitos que estão de fora. Essa Renova tem que reconhecer nossos direitos, nosso valores. Se uns recebem por que outro não tem, por que essa diferença? questiona Silvio de Souza. Sobre reconhecimento dos atingidos em toda a Bacia, a Fundação Renova tem se mostrado negligente, com centenas de pessoas sem sequer o cadastramento.
Os pescadores do Espírito Santo são reconhecidos apenas quando apresentam o RGP, a carteirinha profissional da pesca. Mas, na categoria, é histórico o trabalho na pesca sem tal documento. Se eles duvidam que nós somos pescadores, por que não vem aqui que mostramos o que fazemos na prática. Mostramos nosso equipamento todo parado, mostramos que não tem peixe no rio, indaga Silvio.
Ana, uma das muitas pescadores mulheres no município, conta que não sabe mais o que fazer. Tem diabetes e pressão alta, a agora sem possibilidade de trabalhar está parada e com depressão. Eles me pagam o emergencial mas não é suficiente, tenho remédio que custa 750 reais. E tem muitas outras como eu, e que nem estão recebendo. Pra nós mulheres é ainda mais difícil, conclui.
O uso de antidepressivos aumentou muito em Colatina, a agora a tristeza é ainda maior com o fechamento da peixaria municipal, há cerca de uma semana. Tô tomando medicamento pra dormir, são dez gotas toda noite porque o chazinho já não estava dando conta e o médico receitou, relata o pescador Silvio. Ele conta que a peixaria, além de ser o local de comércio do pescado, era o ponto de encontro dos pescadores e local onde se reuniam para debater seus problemas.
Era onde todos se reuniam, quando tínhamos direitos de pescar era onde levava os peixes, íamos pra bater papo, hoje tudo acabou. O que a gente tinha há 32 anos se acabou da noite pro dia, lamenta Antônio.
Os pescadores se organizam na Comissão de atingidos de Colatina, onde buscam formas de melhorar suas condições de vida depois da lama e constroem ações para exigir da Renova o reconhecimento.
Foto: Mídia Ninja