Atingidos por Belo Monte participam da 4ª Conferência Municipal das Cidades, em Altamira (PA)
Moradores denunciam a privatização dos serviços de fornecimento de água e saneamento básico e apresentam a necessidade de mais 1.500 moradias
Publicado 08/07/2025

No último dia 26 de junho, o povo tomou a palavra na 4ª Conferência Municipal das Cidades, realizada no Centro de Convenções de Altamira. Com o tema “Construindo a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano: Caminhos para Cidades Inclusivas, Democráticas, Sustentáveis e com Justiça Social”, o encontro reuniu trabalhadores, especialistas, autoridades e, principalmente, o povo organizado. A conferência foi um momento potente de escuta, denúncia e mobilização. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) esteve presente com força, promovendo uma agenda de debates nos dias que antecederam o evento, com rodas de conversa e mobilizações nos barracões dos reassentamentos Laranjeiras, São Joaquim e Jatobá. As reuniões tiveram como objetivo preparar a base para participar com voz ativa, defendendo os direitos que seguem sendo negados à população atingida.
Luta por moradia e contra a privatização da água
Durante os debates, o MAB levantou uma bandeira urgente: a luta por mais 1.500 moradias populares pelo programa Minha Casa Minha Vida. Em um município marcado por reassentamentos precários e abandono das políticas públicas após Belo Monte, garantir teto e dignidade continua sendo prioridade para centenas de famílias.
Outro ponto central foi a denúncia contra o avanço do processo de privatização do saneamento básico. Atualmente, o sistema de abastecimento de água atende 72% das residências urbanas. No entanto, há 37% de perda na distribuição dessa água. Como aconteceu com 99 municípios paraenses, o governo estadual tenta entregar à iniciativa privada um serviço essencial, sob a justificativa de melhorar os índices. O leilão está marcado para 5 de agosto e prevê a cobrança da taxa de água e esgoto no valor de R$ 200 por família.
Royalties de Belo Monte: servem para quem?
Altamira recebe cerca de R$ 70 milhões por ano em royalties de Belo Monte, e o Governo do Estado do Pará recebe R$ 35 milhões, recursos que deveriam garantir acesso universal à água, saneamento e habitação digna. No entanto, o que se vê são bairros com torneiras secas, redes de esgoto inexistentes e famílias que ainda vivem em situação de vulnerabilidade extrema.
A proposta de cobrança de uma taxa mensal de R$ 200 pelo abastecimento de água é inaceitável. A água é um direito, não uma mercadoria! E quem paga com a própria vida os impactos de uma usina, que destruiu o modo de vida das comunidades ribeirinhas e urbanas, não pode mais ser tratado como número em planilha de lucro.
O povo quer participar!

A conferência foi também uma etapa preparatória para a 7ª Conferência Estadual das Cidades, que será realizada em Belém, e para a 6ª Conferência Nacional das Cidades. Por isso, o MAB reforça a importância da participação popular real, com os atingidos ocupando os espaços, formulando propostas e exigindo políticas públicas que respeitem a vida.
Seguiremos organizados, denunciando os retrocessos e construindo alternativas. A cidade que queremos é aquela onde ninguém fique de fora, onde a água e a moradia sejam garantidas para todas as famílias, e onde o povo não apenas seja ouvido, mas tenha poder de decisão.
