Mulheres atingidas de diversas regiões do país participaram da abertura da mostra, que acontece de 11 de abril a 3 de agosto, e integra o programa Histórias da Ecologia MASP, na capital paulista
Publicado 11/04/2025

“Diria que são milhares de mulheres que, nesta noite, estão aqui representadas em cada peça exposta. Por meio dessa expressão artística, histórica e política. Nós, atingidas de todos os cantos do Brasil, costuramos e bordamos as denúncias das violações dos direitos humanos. Na maioria das vezes, essas violações são invisibilizadas. A arte expressa nessas peças é sinônimo de luta, resistência e resiliência.”
Com emoção, Daiane Höhn, integrante do Coletivo de Mulheres do MAB, falou ao público sobre a simbologia das obras que compõem a exposição “Mulheres Atingidas por Barragens: Bordando Direitos”. A cerimônia de abertura ocorreu na noite da última quinta-feira (10), com a presença de atingidas do Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Amazônia, que realizaram uma mística para denunciar as principais violações sofridas pelas mulheres em seus territórios.

A mostra denuncia os impactos das barragens e as transformações socioambientais em curso no país, reunindo 34 arpilleras (telas bordadas) produzidas pelo Coletivo Nacional de Mulheres do MAB entre 2013 e 2024. As obras são testemunhos das vivências, lutas e direitos das mulheres, frequentemente impactadas de forma mais aguda por grandes projetos de infraestrutura e pelas mudanças climáticas. Os bordados mesclam elementos que revelam danos ambientais, injustiças sociais e as dificuldades enfrentadas pelas atingidas para reconstruírem seus modos de vida.
A técnica têxtil das arpilleras tem origem no Chile dos anos 1960, durante a ditadura de Augusto Pinochet, quando foi adotada por mulheres da Isla Negra como ferramenta de resistência e denúncia contra violações dos direitos humanos.
Inspiradas por essa trajetória, as mulheres do MAB passaram a utilizar a técnica como instrumento de fortalecimento coletivo e expressão política. As telas são resultado de oficinas realizadas em diversos territórios atingidos e têm sido exibidas em importantes exposições ao redor do mundo. “Conseguimos tecer nossas reivindicações e dialogar com a sociedade por meio de um instrumento sensível, sobre temas profundos, fortes e muitas vezes dolorosos. É uma linguagem que toca o universo emocional das mulheres, que frequentemente encontram dificuldade para se expressar na política tradicional, mas que encontram, nesse espaço, uma forma legítima de se manifestar”, afirmam.
Iandria Ferreira, da Bahia, foi uma das participantes da abertura em São Paulo. Para ela, além de expressão artística, as arpilleras são ferramentas fundamentais na organização das mulheres atingidas. “Na Bahia, realizamos oficinas constantes como parte de um processo coletivo de formação e fortalecimento. As mulheres se reúnem, compartilham vivências e encontram espaço para desabafar sobre as violações que enfrentam e o sofrimento psicológico decorrente delas. Por isso, as arpilleras se tornam um instrumento poderoso de resistência e expressão”, explica.


A curadora Isabella Rjeille destaca que a arte é inseparável de seu contexto social. “As arpilleras são uma poderosa expressão coletiva, popular e protagonizada por mulheres. Acredito que instituições como o MASP têm a capacidade de abrir espaço para novas discussões ou ampliar debates existentes, sensibilizando diferentes públicos. Apresentar e contextualizar a produção das mulheres do MAB, dentro do nosso ano temático Histórias da Ecologia, revela a dimensão humana e social dos impactos do atual modelo energético brasileiro. Ao expor essas obras no museu, ampliamos as vozes dessas autoras e levamos suas histórias a um público ainda maior”, afirma.
Lucielle Sousa, atingida de Itaituba (PA), fala da sua alegria com a exposição: “Eu fico imensamente feliz de estar aqui. Acredito muito que essa exposição mostra o reconhecimento que a gente conquistou, mostra o tanto que a gente conseguiu avançar enquanto mulheres, enquanto movimento. É uma felicidade ver a quantidade de pessoas que estão aqui presentes prestigiando esse trabalho, conhecendo nossa luta nesse espaço tão qualificado. Acho muito importante!”.
A exposição conta com um catálogo especial com a história das arpilleras e imagens das obras exibidas, disponível para compra no MASP. Durante a abertura, o MAB também anunciou a doação de uma das arpilleras ao acervo permanente do museu, como forma de garantir a preservação e valorização dessa expressão artística popular.
As arpilleras já foram apresentadas em diversos espaços significativos, como o Memorial da América Latina (SP), o Museu de Arte da Bahia, a Universidade de São Paulo. Além de exposições internacionais na França, Suíça, Alemanha e Estados Unidos – incluindo Paris e a Universidade de Webster, em Genebra.
Serviço:
Exposição: Mulheres Atingidas por Barragens: Bordando Direitos
Período: 11 de abril a 3 de agosto de 2025
Local: Museu de Arte de São Paulo (MASP)
Endereço: Avenida Paulista, 1578 – São Paulo, SP
Mais informações: Acesse o site do MASP
