MAB desenvolve projeto para preservação da Amazônia rumo à COP 30 em parceria com organizações da Áustria

Projeto “Justiça Climática para o Povo Amazônico” desenvolve ações de adaptação e mitigação, envolvendo as populações atingidas organizadas no MAB

Atingidos e Atingidas em Ruropólis (PA). Foto: Arquivo MAB

Desenvolvido pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em conjunto com a Associação de Defesa dos Direitos das Populações Atingidas e Soberania Energética – ADPASE, o projeto “Justiça Climática para o Povo Amazônico” é subvencionado pela HORIZONT3000, com fundos procedentes de Sei So Frei Salzburg, DKA e Ministério Austríaco do Clima (BMK, na sigla em inglês). A proposta é promover ações com foco na adaptação e mitigação às mudanças do clima em territórios atingidos por barragens, grandes empreendimentos e emergências climáticas na Amazônia.

Nesse sentido, estão previstas ações práticas para a recuperação de ecossistemas com reflorestamento, medidas para melhorar a produção de alimentos para subsistência, através da agroecologia, e geração de renda para as comunidades locais, incluindo artesãos indígenas. Haverá ainda cursos de alfabetização climática nas escolas e universidades e uma abordagem participativa orientada para as questões de gênero, com cursos para as mulheres e ações de reivindicação de direitos.

A duração prevista do projeto é de três anos, mas há ações que já estão sendo realizadas desde 2023. O objetivo principal é reforçar a alfabetização climática, a coordenação e a capacidade organizacional de grupos de pessoas atingidas por barragens, para defender seus direitos: à terra, à energia sustentável e ao florestamento e reflorestamento do seu ambiente natural. “Essa é uma forma de garantir contribuições das populações atingidas para enfrentar as mudanças climáticas, no contexto da COP 30 no Brasil”, afirma Sueyla Malcher, integrante do MAB.  

Os locais de atuação do projeto incluem as regiões atualmente atingidas e ameaçadas pela construção de barragens, como Belo Monte, o Complexo Hidrelétrico do Tapajós e Belém, no Pará, e Santo Antônio, Jirau e Samuel, em Rondônia. 

Entidades apoiadoras visitam experiências no Brasil e reforçam parceria

Representantes das organizações não governamentais da Áustria, Horizont3000 e DKA no Emaús. Foto: Roberta Brandão / MAB

Representantes das organizações não governamentais da Áustria, Horizont3000 e DKA, parceiros do MAB na realização do projeto viajaram até o Pará para conhecer de perto algumas ações que são frutos desta parceria.  Entre os dias 22 e dia 26 de março, as entidades visitaram as comunidades de Travessão dos Baianos, em Rurópolis, Vicinal do Cacau, em Itaituba e Menino Jesus na vicinal do km 16, em Trairão. No dia 28, a visita foi realizada nos viveiros localizados, na República de Emaús, em Belém.

Para a coordenadora do departamento do projeto Justiça Climática para o Povo Amazônico e programas internacionais da DK Áustria, a agência de comparação do movimento das crianças católicas, Andreia Kadelsky, as impressões sobre os trabalhos que são desenvolvidos pelo MAB são positivas. “É a primeira vez que estou no Brasil. Estou muito impressionada pelas atividades do Movimento. E, nesses encontros, eu acredito que os desafios, os problemas que temos em nível global podem ser superados se nós trabalharmos juntos”, afirmou a coordenadora austríaca. 

As comunidades localizadas em Ruropólis, Trairão e Itaituba, que receberam kits de placas solares, de 1000 kwh de potência instalada por mês, terão maior independência energética e redução na conta de luz. O especialista em agrofloresta que integra o projeto, Tadeu Mello, explicou que muitas famílias serão beneficiadas pois existe a possibilidade de compartilhamento dessa energia. “Esses kits podem ser compartilhados. Por exemplo, aqui no Travessão dos baianos o seu José  vai receber e  vai compartilhar a energia da casa com o pai dele e com o sogro também que tem uma uma uma vendinha do lado”, analisa Tadeu.

As três comunidades também receberam micro-tratores que vão ser compartilhados em média com 10 a 20 famílias. “O trator irá ajudar a reduzir o trabalho braçal dos agricultores e melhorar o trabalho do solo, podendo até expandir a área de culturas.”, afirma Tadeu.

Para Maria do Doce, moradora  da Vicinal do Cacau em Itaituba (PA), a aquisição da tecnologia dos micro tratores permite que a população cuide e proteja a terra, “, Acontece que os homens não têm mais a força no braço para cuidar dessa terra. Às vezes nem queremos desmatar, acaba sendo por necessidade. A máquina vem para ajudar”, explica a atingida. 

Ainda segundo Tadeu,  as populações de Ruropólis (PA), Trairão e em Itaituba (PA) são atingidos em vários aspectos por grandes empreendimentos: “são comunidades atingidas pelas hidrelétricas por conta da questão da cobrança de altas tarifas, com serviço ineficiente. Por um sistema de cadeia do agronegócio, com estradas lotadas de caminhões e fazendas com uso de agrotóxicos, e também  pelas mudanças climáticas”, finaliza.  

Emaús: reflorestando a capital da COP 30

As últimas paradas desta visita técnica das organizações não governamentais da Áustria, aconteceram na Ilha do Combu e Bengui, bairro periférico de Belém (PA), onde fica localizado um viveiro de mudas em um projeto social, que cuida de crianças e adolescentes, conhecido como República de Emaús.


Este espaço para o plantio é fruto de uma parceria entre Emaús e MAB desde o ano de 2020. No dia 28 de março, houve mais uma ação do mutirão do movimento com o intuito de promover a revitalização do viveiro de mudas.

“Ter um viveiro de mudas em Belém, capital que sediará a COP 30, representa para o MAB a nossa resistência a um projeto de morte, ao capitalismo. Enquanto o capital vê lucro no desmatamento, nós acreditamos que plantar árvores na Amazônia será nossa maior riqueza”, conclui Malcher.

O objetivo é cultivar árvores frutíferas, florestais, ornamentais e alimentícias, que serão plantadas em espaços públicos (praças, escolas), privados (quintais das casas, terrenos agrícolas) e áreas degradadas.  

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