Encontro debate o papel das mulheres na agroecologia e proteção territorial no Oeste da Bahia

Atingidos se reuniram no último final de semana em Correntina (BA) para debater a produção agroecológica das mulheres e o processo de luta e preservação do meio ambiente nas regiões de Cerrado

Proteção aos territórios tradicionais do oeste da Bahia segue sendo pauta prioritária das comunidades. Foto: Camila Santos / MAB

Entre os dias 24 e 25 de fevereiro, famílias atingidas da região oeste da Bahia se reuniram em Correntina (BA) para um encontro de formação. O evento, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reuniu diversas entidades da sociedade civil e abordou temas como a importância da produção agroecológica, da organização coletiva das mulheres e da justiça climática no Cerrado.

A centralidade da agroecologia na produção camponesa foi um dos principais temas do evento. Os participantes discutiram como a construção de um sistema alimentar mais justo, sustentável e saudável pode promover a autonomia e a segurança alimentar das comunidades, além de ser uma alternativa ao agronegócio. Também abordaram o aumento da produção nas unidades Produção Agroecológica Integrada e Sustentável – PAIS, através da implementação de técnicas que otimizam a produtividade sem agredir o meio ambiente, e a diversificação da produção como forma das famílias se tornarem mais resilientes a crises climáticas e econômicas.

As atingidas também aprofundaram sobre a comercialização do excedente como maneira de gerar autonomia econômica para as mulheres. “A produção nas unidades dos PAIS, além de garantir o consumo, a gente tem como vender. É uma forma da gente ter nosso próprio dinheiro pra comprar o que tem necessidade pra casa”, relata dona Marli Lessa, atingida da comunidade Santo Antônio, no município de Cocos.

O encontro também buscou fortalecer a proteção das comunidades tradicionais e seus territórios a partir da auto-organização dos atingidos, em especial das mulheres, debatendo formas de resistir aos impactos sociais e ambientais dos projetos hidrelétricos na região, colocando a justiça climática como uma questão fundamental na luta contra o modo de produção predatório característico na região do MATOPIBA e nas áreas de Cerrado.

A programação também incluiu uma atividade de estudo aprofundado da Lei nº 14.755, que institui a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), um marco histórico na luta por justiça e reparação para as comunidades impactadas por esses projetos. 

“Nos reunimos pra celebrar esse momento histórico da implementação da PNAB, mas também pra planejar os próximos passos, com foco na luta das mulheres. Nós somos violentadas por esse sistema patriarcal e também pela construção dos grandes projetos, seja pelo agronegócio, seja pelas empresas construtoras de barragens. Isso exige que o Movimento fortaleça e organize a luta das mulheres na região”, conta Cleidiane Barreto, membro da coordenação nacional do MAB.

O Encontro contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e do Fundo Casa Socioambiental e reuniu atingidos e atingidas dos municípios de Cocos, Jaborandi, Canápolis, Coribe, Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe, Correntina e São Desidério, além de representantes de organizações parceiras como a 10 envolvimento, o Movimento Camponês Popular (MCP), o Movimento de Mulheres Unidas na Caminhada (MMUC), o Coletivo de Fechos de Pasto, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cocos, a Associação de Fecho de Pasto de Clemente e a ACEFARCA.

Com o objetivo de fortalecer a liderança local na luta por seus direitos e na construção de um futuro mais sustentável para a região, a atividade proporcionou troca de experiências e conhecimentos, envolvendo as participantes na construção de um plano de ação para o desenvolvimento da agroecologia em suas comunidades, assim como estratégias para enfrentar os desafios socioambientais da região.

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