“A Vale tem que pagar”: em visita a Minas Gerais, presidente Lula critica postura da mineradora na repactuação do Rio Doce

Conquista da PNAB como avanço na garantia do direito dos atingidos também teve destaque na agenda do executivo federal

Em visita a Belo Horizonte para anunciar um pacote de ações e investimentos do Governo Federal em Minas Gerais, o presidente Lula deu uma entrevista na manhã desta quinta-feira (8.fev) onde criticou o posicionamento da Vale diante dos crimes socioambientais provocados pela empresa.

Questionado sobre o andamento do processo de repactuação – que foi suspenso no fim do ano passado após uma contraproposta extremamente inferior ao valor estabelecido pela mesa de negociação – o presidente Lula afirmou “Ela imaginava que tinha que pagar R$ 126 bilhões e está oferecendo menos de um terço disso”.

Ainda sobre o tema, o presidente também criticou a conduta da empresa com relação à reparação do crime no Rio Doce, onde a Vale criou uma “Fundação para fazer casa e não fez casa. A Vale não resolveu o problema de Mariana, não resolveu o de Brumadinho e finge que nada aconteceu”, ressaltou. “É preciso brigar para que a gente faça um acordo justo para que o povo da região afetada seja o grande beneficiário desses recursos. Não é pegar esses recursos para fazer coisas em outro lugar. É garantir que as vítimas, que perderam suas casas, seu porco, sua galinha, sejam os beneficiários desse recurso”, pontuou o presidente sobre o acordo. 

Na avaliação de Fernanda Portes, da coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, para que essa destinação de fato chegue aos atingidos é preciso que haja participação na mesa de negociação. Hoje, apenas o governo Federal, de Minas Gerais, do Espírito Santo e da Bahia participam dos debates.

“No acordo estabelecido para o caso em Brumadinho, os recursos foram destinados para outros lugares porque o governo de Minas e as Instituições de Justiça não ouviram os atingidos. Nós ficamos de fora dos debates e só conseguimos avanços nesse acordo com luta e organização dos atingidos, o que garantiu o Anexo 1.1, por exemplo”, explica a coordenadora. 

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Cerimônia de Anúncio de Pacote de Investimentos para Minas Gerais, no Centro de Convenções Minas Centro. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Não só no Brasil, mas também na Inglaterra a Vale tenta se furtar da responsabilidade para com os atingidos. No primeiro julgamento administrativo da ação que tramita na Corte Inglesa, ocorrido no último dia 31, a Vale conseguiu uma prorrogação de três semanas em seu julgamento. Com isso, a ação que envolve mais de 700 mil atingidos e tem a Vale e a BHP Billiton com recomeça a tramitar efetivamente em outubro deste ano e deve ser finalizada apenas em 2025.

Ainda pela manhã, durante o evento de lançamento do pacote de ações do governo Federal, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou a conquista dos atingidos por barragens com a aprovação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens – PNAB [Lei 14.755]. “É um marco histórico da retomada do diálogo entre o governo e a sociedade e sobretudo um marco na garantia de direitos”, afirmou.

Entre outros direitos, a PNAB garante aos atingidos por barragens a participação nos processos de reparação e repactuação sobre os crimes sofridos. Em janeiro, duas decisões judiciais, uma sobre o caso do Rio Doce e outra sobre a bacia do Paraopeba, se embasaram na normativa para reconhecer e garantir o direito à participação e poder de voz dos atingidos em audiências públicas sobre os crimes.

Na avaliação de Fernanda Portes, a PNAB será um importante instrumento para garantir um processo de reparação digno e justo para as populações de Mariana e Brumadinho. “Ela já está sendo utilizada para garantir avanços tanto para o Rio Doce quanto Paraopeba e agora nós precisamos lutar para que em sua regulamentação ela avance ainda mais, aperfeiçoando esses direitos já conquistados”, pontua. 

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