Bordado é política: bordadeiras do DF destacam importância do trabalho das arpilleras

Durante Exposição Cultural “Atingidas Costurando Direitos”, bordadeiras do Distrito Federal e do MAB confeccionam peça de arpillera sobre mudanças climáticas

O bordado não é só um bordado. É história, política e resistência. As linhas que traçam as lutas e denúncias das mulheres atingidas por barragens no país, se entrelaçam com as lutas e denúncias das mulheres chilenas que no período da Ditadura Militar chilena burlavam a repressão por meio do bordado, como forma de comunicação com outras mulheres.

O enunciado é a síntese de formação realizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), realizada no âmbito da programação da Exposição Cultural “Atingidas Costurando Direitos”, realizada na Universidade de Brasília (UnB) no período de 17 de outubro a 17 de novembro.

“O trabalho do bordado vem sendo construído há muitos anos, não só na casa das mulheres, mas como já mais recentemente na rua, como uma forma de expressão política. É a arte aliada à política que é a situação que a gente vive da mulher, e quanto mais a gente puder expressar a arte através do bordado melhor”, destacou Dirnamara Guimarães do Coletivo Borda Luta.

A oficina, realizada em 20 de outubro, reuniu mulheres bordadeiras dos coletivos Linhas de Resistência e Borda Luta do Distrito Federal e também representante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). A semelhança entre as arpilleras chilenas e brasileiras foi o ponto observado pela bordadeira Márcia Costa. “É um trabalho lindo, está ali a vida delas e reconheci muito isso no trabalho de vocês, por isso gostei muito da peça do Pará. Eu vi o sofrimento daquelas meninas, daquelas mulheres vivendo aquela situação e depois da visita guiada ficou mais claro em como ali tem sofrimento e dor e muitas vezes colocadas em situação desumana”, apontou Márcia, destacando sua observação sobre uma  das 20 peças da Exposição, que retratam o cotidiano de meninas e mulheres impactadas por grandes projetos.

Durante a oficina, as bordadeiras do Distrito Federal decidiram ilustrar uma peça sobre mudanças climáticas, um tema atual e emergente. Embora o tempo da oficina tenha sido pouco, as mulheres saíram do espaço com o compromisso de voltar com a peça pronta e voltaram.

No dia 14 de novembro, uma das representantes do Coletivo Linhas da Resistência entregou a peça, junto com uma carta. “As mulheres trabalhadoras do campo e da cidade, todas as mulheres guerreiras em luta estão tecendo transformação social, pelo fim da violência contra as mulheres, pelo direito à alimentação saudável e agroecológica sem venenos, com cerrado vivo, com pequis e ipês floridos, com águas emendadas preservadas, com terras e territórios onde a vida é prioridade. Na sociedade que a gente quer, basta de violência contra as mulheres! Mulheres, água e energia não são mercadoria!”, destaca trecho da carta.

Os coletivos Borda Luta, que existe desde 2016, e Linhas da Resistência fazem luta política por meio dos bordados. “Constantemente fazemos encontros com mulheres que fazem parte do grupo, mas também faz o acolhimento de mulheres de outros lugares, outras histórias”, apontou Dirnamara Guimarães.  Segundo ela, entre as principais pautas do grupo estão as pautas feministas, antirracismo, LGBTQIA+, indigenista e meio ambiente.

Costurando Direitos

A Exposição Cultural “Atingidas Costurando Direitos” foi realizada no dia 17 de outubro e ficou em mostra até o dia 16 de novembro. A exposição reúne 20 peças produzidas por mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens com a técnica de bordado chamada arpillera (juta, em tradução). A mostra é realizada por meio de uma parceria com a Caixa Econômica Federal e o Conselho Nacional do SESI.

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