Festival Juruena Vivo completa uma década e promove mobilizações em Juara (MT)

Manifesto da décima edição do evento, que aconteceu na Aldeia Nova Munduruku, enfatiza a luta pela Bacia do Juruena viva e livre de barragens e invasões

Festival aconteceu na Aldeia Nova Munduruku. Foto: Caio Mota / Coletivo Proteja

Em edição histórica, o 10 º Festival Juruena Vivo reuniu cerca de 400 pessoas entre os últimos dias 4 e 8 de novembro, na Terra Indígena Apiaká/Kayabi, localizada no município de Juara (MT). Sob o lema “Conectando territórios e somando lutas para o Bem Viver”, participaram do encontro representantes de movimentos sociais, comunidades, coletivos e povos indígenas que reafirmaram sua resistência contra empreendimentos do setor energético que violam os direitos, degradam os territórios e afetam o modo de vida tradicional dos moradores da Bacia do Juruena.

Ao final do encontro, foi lançado um manifesto que marcou 10 anos de mobilização popular da Rede Juruena Vivo, com foco em defender os rios, a biodiversidade e as comunidades locais dos projetos que ameaçam a região. O documento foi entregue a representantes da Câmara Municipal de Juara e encaminhado à Prefeitura do município, além do Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal.

“Nos manifestamos contra os projetos de hidrelétricas na Bacia do Juruena. São aproximadamente 180 projetos, com destaque para a UHE Castanheira, UHE Juruena e UHE Mato Grosso. Apresentadas como falsas soluções para a crise climática e para a transição energética, elas têm o potencial de destruir a vida de nossos rios e colocar em risco a soberania alimentar e a reprodução cultural dos povos”, reforça o manifesto.

Programação incluiu debates sobre a ameaça de hidrelétricas na região. Foto: Caio Mota / Coletivo Proteja

A programação do Festival incluiu atos nas ruas de Juara para conscientizar a população sobre os impactos dos projetos hidrelétricos previstos para a Bacia do Juruena, especialmente a Hidrelétrica de Castanheira, a ser instalada no Rio Arinos. A barragem coloca 97 espécies de peixes migratórios em ameaça de extinção.  Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) na região, a barragem vai interferir na conectividade entre os rios do território e, consequentemente, no volume de peixes, colocando em risco a alimentação dos povos tradicionais. Durante a mobilização, os manifestantes descaram a importância da união de comunidades que são diretamente atingidas pelo projeto para proteger a vida na região.

“Apontamos, ainda, a insuficiência de estudos com relação às PCHs e CGHs, especialmente as PCHs do Rio do Sangue, formando uma cadeia de impactos cumulativos e sinérgicos que são subdimensionados nos licenciamentos,” alerta a Rede Juruena Vivo no documento. “Nos manifestamos também pela celeridade da ação de inconstitucionalidade da alteração da lei de pesca nº 9.096/2009 em nome da garantia da subsistência e resguardo das culturas que dependem da pesca em todo estado de Mato Grosso”, diz outro trecho do texto.

Durante o evento, também foram discutidas as percepções e adaptações dos povos e comunidades às transformações do tempo.

 “Não é papel apenas dos povos indígenas e comunidades tradicionais frear a crise climática e, sim, papel de todos. Nós, povos da floresta, somos os que mais sofrem com os impactos das mudanças do clima e os que mais preservam a biodiversidade e as florestas. É papel do Estado pensar em políticas públicas que permitam a autonomia dos povos indígenas e tradicionais no enfrentamento às mudanças climáticas como, por exemplo, a construção de seus planos de enfrentamento à crise climática e o reflorestamento de áreas degradadas ao longo da bacia do Rio Juruena”, ressalta o manifesto.


Além dos atos contra o modelo econômico que impacta a região, a programação do Festival incluiu uma feira de saberes e sabores, troca de sementes, apresentações culturais, comercialização de artesanato, atividades esportivas e um desfile cultural indígena. “A juventude e as mulheres da Bacia do Juruena entendem que a participação nesse espaço é importante para a formação de lideranças futuras, inspiradas pelos comunicadores, artistas e cineastas indígenas. Reivindicam o apoio para a garantia plena da educação em todos os níveis, até a graduação e pós-graduação. Com toda a rede, acreditam que a comunicação feita nas bases é instrumento para a proteção dos territórios e divulgação das culturas que são ricas na bacia do Juruena, sendo um potente instrumento de luta dentro do movimento.

Ao longo da última década, Rede Juruena Vivo tem promovido um monitoramento constante das ameaças que existem na região para poder informar, formar e organizar ações de resistência. “Nessa caminhada, conseguimos frear o avanço de vários desses projetos de morte por meio da luta, do desenvolvimento do nosso monitoramento territorial com sistemas de alertas e da comunicação popular. Alcançamos espaços para alçar nossas pautas a nível regional, nacional e internacional. Esse trabalho resulta na proteção dos territórios e fortalecimento das comunidades que compõem a Rede Juruena Vivo, tendo suas vozes ecoando mundialmente. Finalizamos a 10ª Edição do Festival Juruena Vivo revigorados e revigoradas para a luta, através do reconhecimento das vitórias ao longo dessa década de caminhada coletiva”, diz ainda o manifesto.

Acesse o manifesto completo
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