LGBTI+ de 7 países participam de seminário sobre Diversidade Sexual e de Gênero da Via Campesina

A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) recebe o Seminário, que teve início nesta quinta-feira (14) e se estende até domingo (17)

Militantes do MAB participam de Seminário sobre diversidade sexual na Escola Nacional Florestan Fernandes. Foto: Júlia Barbosa / CPT Nacional

Foi dada a largada, na manhã desta última quinta-feira, 14, ao 3º Seminário Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil, com a presença de LGBTI+ de diversos movimentos e organizações populares que constroem a Via Campesina no Brasil e representantes de outros seis países.

A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), localizada em Guararema (SP), recebe o Seminário, que tem atividades previstas entre os dias 14 e 17 de setembro com o objetivo de discutir temas que vão desde o debate em torno dos direitos humanos até a dimensão da interseccionalidade das lutas. 

Na programação estão previstos momentos de formação que abordarão alguns temas, como “Território, orgulho e resistência LGBTI+ no campo, nas Águas e nas florestas”, “Conceitos Chaves e Contribuições do Feminismo Camponês e Popular para a dimensão da Diversidade Sexual e Identidade de Gênero”, “Colorindo a Luta Camponesa Internacional: Os desafios da diversidade sexual e de gênero na CLOC e LVC Internacional” e “Sem LGBTI+ não há revolução: Combatendo às violências contra as existências e resistências LGBTI+ no campo, nas águas e nas florestas”.

Para auxiliar nas formações, os movimentos e as organizações que compõe a Via Campesina Brasil têm acumulado e contribuído nos debates, tendo como ponto de partida, a diversidade das lutas e desafios que estão posicionados na defesa dos territórios e dos projetos defendidos pelos povos do campo, das águas e das florestas.

3º Seminário sobre Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil. Foto: Júlia Barbosa / CPT Nacional

Um dos temas discutidos no primeiro dia do Seminário é a dimensão da violência aos corpos LGBTI+. Lucineia Miranda é integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelo Setor de Gênero, e contribuiu no debate sobre a conjuntura política nacional e internacional explicando que o atual momento econômico, social e cultural é atravessado por crises profundas do modo de produção do capitalismo, e que essas crises “acirram as violências contra a população LGBTI+, contra as mulheres e a população preta no Brasil”, essas populações são as mais exploradas por esse sistema.

Vivemos o aprofundamento de um conjunto de crises. A crise climática, por exemplo, provocada pela super exploração dos bens comuns da natureza, está na ordem do dia, mas ela não caminha sozinha. Ela é fruto de um processo de expulsão dos povos tradicionais de seus territórios e de extermínio dos mesmos. A violência do capital é estratégica para a super exploração”, denuncia Miranda.

Neste contexto, ela explicou que hoje ocorre um processo de “normalização da violência” e ela está conectada com o avanço do conservadorismo no Brasil e no mundo. Miranda afirmou que há um avanço dos “governos ultraconservadores no mundo”, que se posicionam na construção de alianças econômicas importantes.

É neste cenário, que Alessandro Mariano, da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, aponta que é necessário construir “uma estratégia na região [América do Sul] de enfrentamento ao conservadorismo” e, olhando para o Brasil, ele comenta que “o Governo Lula é um espaço de disputa” e por isso é necessário ter unidade e organização de lutas na defesa dos direitos das LGBTQIA+.

“Nós avançamos! Temos conquistas importantes e conquistas históricas, mas é fundamental seguir em luta. Nesse sentido, nós temos o papel de fazer pressão popular, para que novas conquistas possam acumular forças e condições políticas de construir lutas contra o conservadorismo”, destaca Mariano.

Essas questões estão na centralidade das discussões do Seminário, que pretende, ao final, apontar linhas de planejamento e atuação para Via Campesina no Brasil implementar campanhas e lutas contra a LGBTI+fobia contra os povos do campo, das águas e das florestas. 

A luta contra a LGBTI+fobia é internacional

Foto: Júlia Barbosa / CPT Nacional

A Via Campesina, uma organização internacional que agrega e constrói um processo de articulação entre os povos do campo, das águas e das florestas ao redor do globo, tem reconhecido a importância de incluir as pautas da diversidade sexual e de gênero em suas discussões. Esta edição do Seminário reforça a continuidade deste compromisso, ao posicionar questões que impactam diretamente as vidas de pessoas LGBTI+, como o avanço do conservadorismo e da violência no mundo.

Essa relação da Via Campesina no contexto Internacional com os movimentos foi fundamental para a construção de um processo importante dentro da organização e, por isso, a Via internacional constrói um material sobre a diversidade sexual e identidade de gênero, trazendo as pautas LGBTI+ para dentro das discussões.

A Via Campesina tem entendido que é preciso que as conexões internacionais sejam um ponto central nos diálogos entre as populações LGBTI+ dos movimentos que a compõem, que seja contínuo e consolidado ao longo dos anos. Esse ponto central permite que sejam feitas análises sobre as pautas que têm avançado nos últimos anos, estruturando assim, as melhores estratégias para a construção de diálogos com os países onde as pautas não avançam.

Nesse aspecto internacional, aponta que a luta pelo respeito à diversidade sexual e de gênero transcende fronteiras geográficas e culturais. Ao promover intercâmbio de experiências e aprendizados entre diferentes contextos, o Seminário contribui para a formação de uma rede global de solidariedade e resistência. Afinal, as batalhas por igualdade e justiça para a comunidade LGBTI+ são universais, e a Via Campesina se firma como um espaço onde essas lutas podem ser conectadas e fortalecidas.

*Arlla Xavier é comunicadora popular no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e Wesley Lima integra o Coletivo Nacional de Comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

**Editado por Fernanda Alcântara

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