NOTA | Mais uma vez o povo atingido sofre com ausência do Estado no Rio Grande do Sul
Chuvas fortes causam mortes, estragos, enchente e deixa centenas de pessoas desabrigadas no estado
Publicado 06/09/2023 - Atualizado 25/09/2023
As fortes chuvas que ocorrem nas regiões norte e nordeste do estado do Rio Grande do Sul nos últimos dias já causaram 31 mortes e deixaram milhares de pessoas desabrigadas. O volume de precipitação chegou a 300 mm nas últimas 48 horas, elevando os níveis dos principais rios da região, entre eles o Rio Taquari, que percorre uma das regiões mais populosas do estado. Em poucas horas, o nível do rio subiu cerca de 15 metros, atingindo ao menos 50 municípios.
Esse é o terceiro ciclone extratropical de elevada precipitação que ocorreu nesse ano no estado, revirando o rastro de destruição ainda não reparada. Estão previstos ao menos outros dois ciclones ainda para o mês de setembro. Os episódios acontecem após longos e recorrentes períodos de estiagem nos de 2021, 2022 e 2023, que, igualmente, causaram severos danos econômicos a todo estado, especialmente para as populações mais vulneráveis, incluindo comunidades camponesas e ribeirinhas.
Nas periferias das cidades, a água também devastou comunidades inteiras em poucas horas após as grandes precipitações. Segundo dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, no ano passado, o país teve o maior número de pessoas afetadas por esse tipo de evento climático. Ao todo, foram 26 milhões de atingidos de alguma forma.
É importante ressaltar que, segundo o Relatório de Segurança de Barragens – RSB, o estado do Rio Grande do Sul possui cerca de 9 mil barragens em seu território. Boa parte delas está abandonada ou sem a manutenção adequada. Diante de tais eventos extremos, elas se transformam em verdadeiras bombas acionadas, apesar de ocultas.
Mesmo assim, o atual governador, Eduardo Leite (PSDB), revogou a Política Estadual de Direitos das Populações Atingidas por Barragens, única política pública que previa ações de prevenção e reparação de áreas atingidas.
Não adianta sobrevoar de helicóptero sobre nossos corpos!
Os dados evidenciam que tal condição desses eventos climáticos já não se tratam de exceção. A dramática, caótica e cada vez mais frequente recorrência desse tipo de evento exige uma postura diferente do estado e de toda a sociedade. É preciso responsabilizar os representantes do poder público por sua omissão criminosa.
O Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB tem lutado para que sejam criadas políticas públicas capazes de se prevenir as perdas causadas por esse tipo de evento, bem como a criação de mecanismos suficientes para reparar as perdas causadas, colocando a população atingida como sujeito nas ações de prevenção e reparação. Só assim seria possível se reverter o longo período de exclusão social de comunidades hoje revitimizadas pelos efeitos das mudanças climáticas.
Nos mantemos em luta e em solidariedade com as milhares de famílias que foram atingidas pelas águas nestes últimos dias no Rio Grande do Sul, assim como em outras regiões do Brasil. Que as águas sejam para a vida e não para a morte!