Veredas Sol e Lares traz avanço inédito na construção de modelo energético popular para o Brasil

Marco na história do setor energético no Brasil, projeto de usina solar fotovoltaica flutuante foi implementado com participação e controle social dos atingidos e beneficiará famílias dos Vales do Jequitinhonha e Rio Pardo

Neste mês de março, o projeto Veredas concluiu as atividades de implantação de uma usina flutuante de geração de energia solar com controle popular no município de Grão Mogol, no semiárido mineiro. A iniciativa foi idealizada a partir de uma proposição do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, que foi viabilizada através de um Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Aneel. Hoje, a usina faz parte do Plano de Recuperação e Desenvolvimento de áreas e territórios atingidos por barragens no Vale do Jequitinhonha (MG).

A maior usina fotovoltaica flutuante da América Latina produzirá energia para reduzir os custos das contas de energia de cerca de 1.250 famílias e será gerida por uma associação composta pelas famílias de atingidos. Trata-se de uma conquista histórica relacionada ao tema da soberania energética, que marca os 32 anos de atuação do MAB no país.  A conclusão da instalação é resultado de uma importante luta do Movimento, que, em 2018, começou a se transformar em uma conquista, quando o governador Fernando Pimentel (PT) assinou um termo de compromisso com a execução do projeto. Na ocasião, foi definido que a iniciativa seria baseada em pesquisa social e em um plano de desenvolvimento local e regional, com sistematizações, validação e proposições para o projeto a partir de ampla participação popular.

Leia mais: VEREDAS SOL E LARES: AVANÇA A PRIMEIRA GRANDE EXPERIÊNCIA DE GESTÃO POPULAR DA GERAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Por isso, desde o início das atividades, foram envolvidos povos e comunidades tradicionais e pesquisadores populares sobre energia e desenvolvimento regional. Só no ano passado, quase 3 mil pessoas de 19 municípios participaram das reuniões de acompanhamento comunitário do projeto. Vale ressaltar que 55% dos moradores envolvidos nessas atividades são mulheres. As comunidades também se envolveram através de uma metodologia focada em educação popular, pesquisa e ação, pesquisa participante, pedagogia da alternância e diagnóstico rural participativo.

Neste sentido, segundo Aline Ruas, integrante da coordenação do MAB, além de ser referência para o desenvolvimento da energia comunitária no Brasil, o projeto é também uma iniciativa de formação de base, pois as comunidades e povos atingidos participaram diretamente do processo desde o planejamento até a montagem da usina.

Gestão Participativa


Leia mais: VEREDAS SOL E LARES: APÓS DOIS ANOS DE LUTA, PROJETO ENERGÉTICO POPULAR SERÁ RETOMADO NO SEMIÁRIDO MINEIRO

Em novembro de 2022, durante o seminário Nossa União Faz Nossa Luz, que aconteceu em Araçuaí (MG), foi constituída a Associação dos Consumidores de Geração Distribuída de Minas Gerais – Veredas Sol e Lares, com foco na gestão popular e social da Usina. Nesse modelo, associativo de gestão, um coletivo de 15 sócios incluindo mulheres e representantes da  juventude e de comunidades rurais. O estatuto firmado consolida uma instituição sem fins lucrativos, composta por três tipos de associados: as famílias de baixa renda, os associados contribuintes e os associados pessoa jurídica. Esse sistema de redistribuição de créditos, em que alguns associados contribuem para a compensação da energia, garante a viabilidade econômica da usina e da associação, cobrindo os gastos de manutenção da estrutura.

“Assim temos uma experiência inédita conquistada pela luta e executada com ampla participação e protagonismo do movimento popular. Isso prova que o povo constrói ciência e tecnologia e, na prática, contribui com o projeto energético popular, trazendo outra forma de ver a energia que é direito e não mercadoria”, avalia Aline Ruas.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 20/06/2023 por Amélia Gomes do Brasil de Fato

MG: Semiárido tem primeira experiência de gestão coletiva de energia elétrica da América Latina

MG: Semiárido tem primeira experiência de gestão coletiva de energia elétrica da América Latina

| Publicado 28/11/2022 por Coletivo de Comunicação MAB MG

Veredas Sol e Lares: avança a primeira grande experiência de gestão popular da geração e distribuição de energia elétrica

Implementação de usina fotovoltaica em Grão Mogol com gestão popular é fruto da luta dos atingidos do Vale do Jequitinhonha (MG)

| Publicado 29/07/2024 por Amélia Gomes / MAB

Governo federal visita usina solar em MG gerenciada por atingidos para estudar replicação do projeto

Usina Fotovoltaica em Grão Mogol (MG) é a primeira experiência de gestão e produção popular de energia solar no Brasil