Às vésperas dos 4 anos do assassinato de Dilma Ferreira, justiça condena um dos assassinos

Cosme Alves, um dos assassinos da chacina de Baião, no Pará, foi condenado no ultimo 1º de março

Dilma era uma das coordenadoras regionais do movimento em Tucuruí (PA). O crime aconteceu no assentamento Salvador Allende, zona rural de Baião. Foto: Arquivo MAB

No mês em que se completam quatro anos do assassinato da liderança do MAB, Dilma Ferreira, a justiça do Pará condenou Cosme Alves, um dos assassinos da militante, a 67 anos, 4 meses e 24 dias de prisão. Dilma era maranhense, atingida por barragem, liderança e integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens. Ela havia ameaçado denunciar um fazendeiro (mandante de Cosme) por extração ilegal de madeira em uma área ao lado do assentamento onde ela vivia em Baião (PA).

Os jurados do Tribunal que analisou o caso acolheram a tese do Ministério Público do Pará de que Cosme é responsável pelos crimes de furto e homicídio qualificado por motivo torpe, mediante recompensa, com o emprego de meio cruel e utilização de recursos que impossibilitaram a defesa das vítimas. O caso, que envolveu a morte de outras 5 pessoas no dia 22 de março de 2019, ficou conhecido como a Chacina de Baião (PA).

Segundo Jaqueline Damasceno, integrante do Coletivo de Direitos Humanos do MAB, a condenação foi muito representativa. “Consideramos que a rapidez do julgamento e da prisão dos assassinos e mandante é inédita, frente ao cenário de impunidade que impera na região amazônica nos casos de assassinato de defensores de direitos humanos”.

O mandante do crime, o fazendeiro Fernando Rosa, conhecido como Fernandinho, está preso desde março do mesmo ano. “Seguimos exigindo justiça, até que todos sejam condenados. Enquanto isso, esperamos que se mantenha a prisão preventiva de Fernandinho e que o réu Glaucimar, que está foragido”, também seja detido”, afirma Jaqueline.

Leia mais: ATINGIDOS EXIGEM JUSTIÇA POR DILMA FERREIRA E TODOS OS MORTOS EM CHACINA NO PARÁ

Liderança morta no Pará entregou pedido de atenção a atingidos por barragens à então presidente Dilma Rousseff — Foto: Reprodução / MAB
Em novembro, integrantes do MAB e familiares de Dilma cobraram justiça durante a terceira audiência sobre a chacina no Fórum de Baião (PA). Foto: Arquivo MAB

Entenda o caso

De acordo com o Ministério Público, Venilson da Silva Santos (Vinicius), Raimundo Jesus Ferreira (Raimundinho) e Marlene da Silva Oliveira foram mortos a tiros na fazenda do mandante Fernando Rosa. Os assassinatos ocorreram na zona rural de Baião. As vítimas tiveram seus corpos carbonizados. 

No segundo dia, 22, Dilma Ferreira Silva, Milton Lopes Claudionor e Amaro Costa da Silva foram mortos a facadas no assentamento Renato Lima (Salvador Allende) pelos matadores de aluguel Valdenir Farias Lima (Denir), Glaucimar Francisco Alves (Pirata) e Cosme Alves. 

Os crimes ocorreram após os trabalhadores afirmarem que iriam denunciar Fernandinho na Justiça por falta de pagamento e por serem submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão. Eles também descobriram uma pista de pouso clandestino na fazenda dele. 

O acusado Valdenir Farias de Lima foi o intermediário na contratação dos irmãos Alves, Glaucimar e Cosme, conhecidos matadores de aluguel na região. Já o assassinato de Dilma Ferreira se deu porque a militante havia denunciado Fernandinho por transporte e exploração ilegal de madeira.

O Pará é líder em conflitos no campo. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o estado é o terceiro em número de pessoas ameaçadas de morte. O relatório de conflitos aponta que das 1.242 ocorrências no Brasil por terra, a Amazônia Legal detém quase metade dos conflitos registrados em todo o país.

Dilma Ferreira: Guerreira e corajosa

Nós somos as verdadeiras Marias, guerreiras, lutadoras que estão aí no desafio da luta do dia a dia.

Dessa forma, Dilma resumiu sua intervenção às mulheres atingidas na ocasião do Encontro Nacional de Mulheres Atingidas, em 2011. Desde então, não apenas ela, mas Nicinha (2016), Débora Moraes (2022) e Flávia Amboss (2022), lideranças atingidas por barragens, também foram assassinadas.

*Com informações G1 Pará.

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