Atingidas do Rio Grande do Sul abrem Jornada de Lutas com exposição “Arpilleras: Bordando a Resistência” em Porto Alegre
Mostra fica aberta ao público até o dia 10 de março na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e no dia 23 de março segue para a Casa de Cultura Mário Quintana
Publicado 07/03/2023 - Atualizado 21/08/2024
Aconteceu , ontem, 06, o lançamento da exposição “Arpilleras: bordando a resistência” na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), em Porto Alegre (RS). O evento foi organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), através da proposição do gabinete do Deputado Estadual Jeferson Fernandes (PT), com apoio da ALRS. A mostra permanece aberta à visitação do público até a próxima sexta-feira, 10, na Galeria dos Municípios – Espaço Carlos Santos, na ALRS.
Arpillera (juta, em espanhol) é uma técnica originária do Chile, na qual se costuram retalhos de tecido sobre a juta. Naquele país, as mulheres utilizaram essa ferramenta entre as décadas de 70 e 90 para denunciar as atrocidades cometidas pela ditadura de Augusto Pinochet através de bordados que revelavam as diversas violações sofridas peloso seus filhos e maridos. É com esse sentido político que mulheres atingidas por barragens organizadas no MAB resgataram a técnica das para expressar a dor decorrente das violações sofridas em seus territórios, mas também comunicar a esperança e a força da organização e da luta que une mulheres atingidas de todo o país sob uma só bandeira: a do Movimento dos Atingidos por Barragens.
A Mostra da ALRS apresenta um recorte do rico acervo nacional das arpilleras, com 14 peças costuradas por muitas mãos, que retratam realidades distintas de diferentes regiões do Brasil, com destaque para as 8 peças criadas pelas mulheres atingidas no Rio Grande do Sul.
O lançamento da mostra foi transmitido ao vivo pelo canal da TV Assembleia no Youtube. A abertura foi feita por mulheres atingidas de Porto Alegre, que, de forma poética, apresentaram um pouco da história das arpilleras construídas por elas. A fala de abertura da solenidade foi feita pelo deputado proponente, Jeferson Fernandes, que reforçou a importância do espaço da Assembleia estar sendo ocupado pelas mulheres do MAB, com a expressão da arte e da luta das atingidas.
Solenidade de abertura contou com falas de parlamentar e representantes do MAB
“Convivo há muito tempo com a situação de quem mora na beira do Rio Uruguai. Grandes empresas multinacionais querem – através da exploração dos nossos recursos naturais – fazer grandes complexos hidrelétricos, sem se importar com as famílias que, por décadas, vivem naquele território. Se é verdade que a mulher, pelo fato de nascer mulher, sofre a opressão do patriarcado, mais ainda quando essa mulher é agricultora e vitimada por projetos de barragens”, denunciou Fernandes.
Alexania Rossato, integrante da coordenação nacional do MAB, ressaltou em sua fala a importância da exposição estar ocorrendo no mês de março, abrindo a agenda da Jornada de Lutas dos Atingidos e Atingidas por Barragens no Brasil, que ocorre todos os anos neste mês, tendo como marcos as datas do 08, Dia Internacional de Luta das Mulheres, o dia 14, Dia Internacional de Luta Contra as Barragens e por Direitos e o 22, Dia Mundial da Água.
Segundo Alexania, o trabalho das mulheres do MAB com as arpilleras tem cerca de 10 anos. “Através dele, anunciamos a nossa luta em defesa da vida e por justiça e denunciamos o modelo excludente de geração de energia, que viola direitos humanos, principalmente, de mulheres, crianças e idosos.”
A coordenadora destacou a homenagem feita através de uma das peças à companheira Debora Moraes, atingida pela Barragem Lomba do Sabão e vítima de feminicídio no ano passado.
Rossato também denunciou o ataque promovido aos atingidos pelo governador Eduardo Leite em 2019, ao revogar o decreto que instituía a Política Estadual de Direitos das Populações Atingidas por Barragens. “Queremos o apoio de vocês, deputados, deputadas e órgãos públicos, para restituir essa política, enquanto marco legal para garantir direitos ao povo atingido”, afirmou Alexania.
Também fizeram falas na abertura do evento a deputada estadual Sofia Cavedon (PT), o deputado estadual Leonel Radde (PT), a defensora pública do Rio Grande do Sul, Lisiane Hartmann, a representante do Ministério Público do Estado, Carla Froes, além de representantes do Levante Popular da Juventude, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, mandato do senador Paulo Paim (PT), além de diversas organizações e sociedade civil.
No dia 23 de março , a exposição segue para a Casa de Cultura Mário Quintana, onde permanece aberta até o dia 09 de abril.
Serviço
Exposição “Arpilleras, bordando a resistência”
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul
6 a 10 de março
De segunda à sexta, das 9h às 18h
Casa de Cultura Mário Quintana
23 de março a 09 de abril
De terça a domingo, das 10h às 20h