Na semana em que se completam 4 anos do crime da Vale em Brumadinho, comunidades atingidas em Minas Gerais e outros territórios do Brasil vivem rotina de medo
Publicado 24/01/2023 - Atualizado 24/01/2023
Ao longo dos últimos anos, conforme constatado pelos relatórios de segurança de barragens elaborados pela Agência Nacional de Águas (ANA), houve um aumento considerável de incidentes e acidentes envolvendo barragens no Brasil. Somente em 2021, foram 50 casos em 16 estados, sobretudo na região central do país. A maioria desses eventos ocorreram devido a intensificação das chuvas nos entre os meses de dezembro e fevereiro, fenômeno cada vez mais frequente com o advento das mudanças climáticas. Outro número significativo desses relatórios diz respeito às barragens em estado critico: 187, localizadas em 22 estados.
Esse risco tem imposto uma realidade de medo e desespero a cerca de um milhão de pessoas em todo o Brasil que vivem no entorno das barragens com problemas de segurança. Essa situação, potencializada pela falta de informações confiáveis por parte das empresas responsáveis pelos empreendimentos, contribui para o agravamento de problemas de saúde, como a depressão e a ansiedade entre os atingidos.
Rita Maria dos Santos, 55, dona de casa, moradora do bairro Residencial Gualter Monteiro, em Congonhas (MG), é uma das atingidas por barragens que convivem diariamente com a insegurança e o medo. Ela mora ao lado da Barragem Casa de Pedra, de responsabilidade da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que fica na área urbana do município.
A estrutura, que acumula cerca de 103 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração, está localizada a cerca de 250 metros de um dos bairros da cidade e é classificada como de alto risco e dano potencial associado.
“Pra gente é dolorido,né? Porque você está vivendo um terror, porque eu já tive que sair com meu filho correndo, porque os outros falam: a barragem tá rompendo, põe seu filho no carro e sai sem saber para onde que vai […]. A gente fica com mais medo, porque o que acontece, eles colocaram essas placas: ‘rotas de fuga’, mas na cidade toda. Aí você vai pra onde?” – Rita Maria
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Risco em Minas Gerais e no Brasil
Ao todo, apenas o estado de Minas Gerais tem 26 barragens em nível de emergência. Três reservatórios de rejeitos estão em nível 3 – quando há risco iminente de ruptura. Em todo o país, 47 barragens estão embargadas. Do total desses empreendimentos, 31 estão apenas em Minas Gerais.
O MAB tem cobrado do Governo Lula e do novo Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a participação dos atingidos na criação de uma política de direitos e reparação para os atingidos por barragens, conhecida como Política Nacional dos Direitos das Populações Atingidas (PNAB). Estabelecida no Projeto de Lei 2788/2019, a política já foi aprovado na Câmara Federal e tramita atualmente na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal. Outra discussão que foi pautada ainda na transição de governo foi a criação de uma política de segurança para os atingidos, não apenas a segurança das infraestruturas.
Jornada de Lutas
Nessa semana, teve início a Jornada de Lutas “4 ANOS DO CRIME DA VALE EM BRUMADINHO – Em Luta por Reparação, Justiça e Segurança!” As atividades estão reunindo atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce em uma programação focada em denunciar as violações de direitos sofridas pelos atingidos, que sofrem com a falta de avanços nas indenizações individuais, com águas contaminadas com superbactérias, poluição do solo e do ar e com a saúde física e mental cada vez mais ameaçada.
Além disto, a ideia é homenagear a memória das 272 vidas perdidas, em especial das três ainda não encontradas. Acompanhe aqui as atividades.