Balanço fraudulento que abriu portas para privatização da estatal foi assinado pela PwC, uma das gigantes globais de consultoria e auditoria
Publicado 17/01/2023
A crise das Lojas Americanas parecer ter aberto um novo argumento para a reestatização da Eletrobrás, após a descoberta que a PwC (Price Waterhouse Coopers), uma das quatro maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, que aprovou balanços considerados fraudulentos da varejista, também foi a responsável por avalizar, novamente via balanços fraudulentos, a privatização da estatal.
A informação foi divulgada pelo deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) e confirmada pela Revista Fórum. “Lula, a hora de retomar o controle do sistema elétrico do país é agora. Aqui temos mais um argumento para a reestatização”, afirmou Braga.
A cada minuto a coisa fede mais. A empresa q faz a auditoria das lojas Americanas é a mesma q avalizou o balanço fraudulento pra privatizar a Eletrobras. @LulaOficial , a hora de retomar o controle do sistema elétrico do país é agora! Mais um argumento decisivo pra reestatização!
— Glauber Braga (@Glauber_Braga) January 16, 2023
Os rombos encontrados nas finanças das Lojas Americanas superam os R$ 20 bilhões, dos quais cerca de 2,4 bilhões têm o BNDES como credor. Neste caso, os balanços teriam sido aprovados pela auditoria da PwC.
Já em se tratando da Eletrobrás, após a privatização avalizada pela PwC, a ex-estatal saiu de uma condição de apresentar lucros de quase R$ 1 bilhão no último balanço anterior à privatização, no primeiro trimestre de 2022, para um prejuízo de R$ 88 mil dois trimestres adiante. Além disso, a dívida líquida da empresa também cresceu 75%.
A crise das Lojas Americanas
Desde a última semana, as Lojas Americanas vivem um momento turbulento e agora que conseguiram blindagem diante dos credores, estão a poucos passos de começar uma batalha judicial. A crise instalada em uma das maiores varejistas do Brasil, que ainda tem poderosos acionistas como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Bruno do grupo 3G Capital, foi vista como uma surpresa.
Na noite da última quarta-feira (11), a empresa informou um rombo de R$ 20 bilhões em sua conta, um valor 8 vezes maior do que o seu valor de mercado. O rombo se refere a balanços aprovados de 2022, e anos anteriores. O rombo foi causado pela prática do ‘risco sacado’, que consiste na tomada de financiamento com um banco para o pagamento de fornecedores. A ideia é antecipar os fornecedores para em seguida pagar os bancos. No entanto, no caso das Lojas Americanas, a prática não foi relatada nos balanços.
O balanço fraudado pode abrir margem para cobranças antecipadas de dívidas e foi exatamente o que aconteceu quando o rombo foi informado. A situação fez com o novo CEO da empresa, Sérgio Rial, renunciasse ao cargo na mesma hora, após apenas 9 dias da sua posse. Para o seu lugar, foi colocado o então diretor de Recursos Humanos da empresa, João Guerra, que não esteve envolvido na gestão financeira da empresa.
No dia seguinte (12) as ações da empresa despencaram 77,3%, fechando o dia a R$ 2,72, no que ficou registrado como a maior queda de uma empresa da Ibovespa em um mesmo dia desde 1994. Nesse momento, além dos bancos credores, também os acionistas da empresa começaram a cobrar medidas de mitigação da crise.
Já a sexta-feira 13 ficou conhecida como o ‘dia do terror’ dos credores. Na data, as Lojas Americanas conseguiram uma medida judicial que a protege por 30 dias da execução das dívidas. Ao fim do período, a empresa poderá pedir recuperação judicial. As ações da empresa então subiram 15% em relação ao dia anterior.
Durante o final de semana, o banco BTG Pactual, um dos credores da Americanas, entrou com recurso para derrubar a decisão. Na argumentação, o banco alega que a empresa fraudou seu mercado de crédito. Além disso, também apontou que teve de estornar, por conta da decisão, cerca de R$1,2 bilhão. No bojo do BTG Pactual, outros bancos credores também mostraram-se descontentes e esperam o início de uma batalha judicial a fim de liberar a cobrança antecipada das dívidas. O acordo que os bancos aceitam fazer deve conter a injeção de capital na empresa por meio dos acionistas. A empresa tenta negociar um valor com os bancos antes de pedir recuperação judicial.
Com informações de O Globo, publicado originalmente na Revista Fórum.