No Brasil de Bolsonaro: brasileiros voltam a migrar pelo país tentando escapar da insegurança alimentar

Conheça a história de Florinda, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens, que se mudou de Caldeirão Grande (BA) para a capital paulista em busca de fonte de renda, mas encontrou uma realidade da insegurança alimentar, desemprego e falta de moradia

Comunidade em Caldeirão Grande, município do semiárido baiano de onde Florinda saiu em busca de emprego. Foto: Camila Pinheiro

Florinda Ferreira Lima tem 52 anos. Viveu 47 deles em Caldeirão Grande, um município de 13 mil habitantes do semiárido baiano. Em 2017, chegou em São Paulo em busca de emprego e um objetivo claro: conseguir recursos para voltar para sua terra com melhores condições e ajudar a família. Sua história lembra a de muitos migrantes dos anos 30, que chegavam à capital fugindo de uma realidade social hostil de comunidades rurais especialmente da região norte e nordeste do país. Naquela época, os recém-chegados conseguiam ao menos subempregos na maior capital do país, mesmo que enfrentando grandes desafios para manter uma vida digna.

Hoje, com a volta da inflação alta, a insegurança alimentar e o desemprego, brasileiros como Florinda se sentem ainda mais inseguros nas periferias das grandes capitais do que em suas comunidades, onde tinham acesso a alimentos da agricultura familiar. “Lá, ainda tinha um feijãozinho no fogão à lenha e verdura do quintal sem precisar comprar ”, lembra.

Florinda Ferreira, em sua casa na Ocupação Circo no bairro União de Vila Nova, na Zona Leste Paulista. Foto: Fernanda Correia / MAB

Florinda explica que, embora tenha chegado a trabalhar como faxineira, acabou perdendo o trabalho e ficado sem nenhuma perspectiva ainda em 2020. “Com a pandemia, perdi meu emprego e não tinha como pagar o aluguel. Aí surgiu essa ocupação e viemos para cá. Se não fosse isso, nós estaríamos debaixo da ponte. Para comer, dependemos da doação das cestas básicas que ganhamos do MAB”, desabafa ela, explicando como foi morar em uma ocupação urbana que abriga cerca de 100 famílias no bairro União de Vila Nova, na zona leste paulista. Além da falta de acesso a serviços públicos básicos como saneamento básico, Florinda sofre com as enchentes que frequentemente castigam os moradores do bairro. O medo também é constante, porque já houve duas tentativas de desapropriação na ocupação, inclusive com entrada da polícia na comunidade.

“Eu saí da Bahia e vim para São Paulo atrás de um sonho de trabalhar e voltar dentro de um carro meu pra ajudar as pessoas que precisam. Só que, quando cheguei aqui, não consegui nada disso. Vim com duas filhas, meu neto e o pai delas. Está todo mundo desempregado”, conta.

“Não temos renda fixa. Às vezes, eu faço uns sacos com material reciclado, minha filha também faz, mas não é sempre que tem. Quando conseguimos fazer um pacote inteiro, dá R$ 50 a R$ 80 por semana.”

A história de Florinda se repete em muitos outros endereços brasileiros. Depois que Bolsonaro assumiu a presidência da República, 9,1 milhões de pessoas passaram a viver na pobreza e 5,4 milhões na extrema pobreza.

Uma realidade que já era concreta antes da chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil, mas que se aprofundou devido à gestão desastrosa do atual presidente e sua ineficiência em combater a proliferação da Covid-19, resultando no imenso aumento do número de vítimas fatais no país e no caos econômico.

Para além da crise sanitária ignorada pelo presidente, a política liberal de Paulo Guedes aprofundou questões como o desemprego, a miséria e o retorno da inflação nos quatro cantos do país, uma situação inimaginável há poucos anos.

Por isso, mesmo migrando do sertão baiano para a periferia de São Paulo, Florinda segue lidando com uma realidade que lembra o Brasil do século passado. A militante também chama atenção para a piora geral dos serviços públicos. “A saúde também piorou muito, as filas nos postos”.

No próximo ano, Florinda espera que a situação comece a mudar com a provável eleição de Lula. “Eu espero que no governo do Lula melhore muito a situação da gente de baixa renda, principalmente de nós, mulheres, negras, brancas, sofredoras, mas lutadoras. Eu espero muito mais coisa, porque, no governo do Lula, ele dava oportunidades para os pequenos produtores. E a gente que trabalha tinha um salário-mínimo e o alimento não faltava dentro de casa, porque a gente trabalhava e tinha condições de comprar, porque as coisas eram no preço correto. Não era esse absurdo que está hoje. E é isso que eu espero. E elegendo o Lula, ele não vai deixar a gente sem moradia”.

Sobre o atual presidente, Florinda lamenta não só o descaso com as pessoas em situação de vulnerabilidade, mas também a postura de Bolsonaro perante os mais pobres.

“E ele não pode fazer isso que faz. Usar o nome de Deus em política pra enganar as pessoas. E é o que ele faz. Usando a igreja, as igrejas evangélicas pra colocar má fama em Lula”, ressalta.  

Para a moradora, apesar das condições adversas, o momento é de esperança. “O que sonho pros meus filhos é eles terem um bom trabalho e terem a moradia certa deles, o que eu ainda não tive”.

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