MAB participa de mobilização de pescadores atingidos por barragem da Suzano em Aracruz (ES)
Movimento organizouDurante assembleia foi discutida com Defensoria Pública do estado a situação de assoreamento do Rio Riacho provocado por barragem da Aracruz, que está impedindo acesso dos pescadores ao mar
Publicado 08/06/2022 - Atualizado 08/06/2022
Na última terça, 07, representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB participaram de uma visita à comunidade Barra do Riacho, no município de Aracruz, onde foi realizada uma assembleia junto ao Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo – Sindipesmes e à Defensoria Pública do Espírito Santo – DPES. Na ocasião, foi discutida a situação de assoreamento do Rio Riacho, que está impedindo o acesso dos pescadores da comunidade ao mar.
De acordo com os moradores, o assoreamento é provocado pela empresa Suzano Papel e Celulose, que causa inúmeros danos ambientais e conflitos históricos na região. Durante uma visita ao rio, os presentes puderam observar a situação das embarcações que não conseguem mais navegar em direção ao mar em segurança devido ao represamento do rio.
“Eu nasci na Barra do Riacho e sou um dos pescadores mais antigos daqui. Temos sofrido de uns tempos pra cá com o assoreamento que aumentou muito, principalmente na Boca da Barra porque aquela barragem que foi feita vai assoreando, porque quando dá enchente, a areia desce”, afirmou o morador Ademar Miranda.
Antes da operação da Suzano, outras empresas que atuam no complexo papeleiro da região, como a Aracruz Celulose e a Fibria, tentaram resolver o problema do assoreamento com o uso de máquinas para a abertura da Boca da Barra. A ação paliativa, porém, não tem funcionado. Por isso, os pescadores reivindicam uma solução permanente para a questão da navegabilidade.
“Chegou o momento de nos juntarmos e tentar fazer algo pela nossa classe, para não chegarmos ao fim da vida sem ver a Barra estabilizada para que possamos entrar e sair com segurança no mar. Sou pescador desde os 13 anos de idade e não quero mudar de vida. Não quero ser vereador. Quero ser o humilde pescador que sempre fui e é como quero terminar a minha vida”, afirmou o morador Alexandre Barbosa Ribeiro.
“Não é justo que para manter sua represa cheia, a indústria de celulose impeça o escoamento do volume de água necessário para manter aberta a boca da barra, prejudicando a pesca artesanal, essa atividade tão importante para o sustento das famílias da comunidade”, afirma Heider Boza, integrante da coordenação nacional do MAB.
Além do assoreamento do rio, a barragem também represa as águas do canal Caboclo Bernardo, que liga a Bacia do Rio Riacho à Bacia do Rio Doce, contaminada por rejeitos de minério. Outra denúncia feita pelos moradores é a de que as empresas que atuam no setor de celulose também realizam o despejo de resíduos do seu complexo industrial químico no cursos de água de Aracruz.
Moradores são atingidos por barragem há 40 anos
Segundo Heider, o MAB chegou ao estado após o crime da Samarco, porém, a região já sofria com a atuação de outras empresas controladoras de barragens antes deste crime. “A nossa percepção é que a comunidade é atingida por barragens há muito mais temo. Há 40 anos vocês foram atingidos aqui. A gente tem o problema e a solução que vemos hoje é essa articulação com a Defensoria Pública do estado, que, com certeza, reconhecerá como legítima a organização de vocês e as demandas que vocês apresentam”, afirmou o coordenador para os pescadores durante a mobilização.
Após uma visita ao rio e a realização de uma assembleia, Rafael Portela, membro da Defensoria Pública do Espírito Santo ressaltou o apoio à comunidade e orientou os presentes a unirem a categoria. “Legitimidade você conquista, você não nasce com ela. Sendo pescadores, precisam conversar com os outros pescadores e acho que essa legitimidade se enraíza. Comitê, comissão, grupo de trabalho, o nome vocês escolhem. Mas, na pratica, é uma carta de compromisso assumida por aqueles que se propõem a contribuir na busca por soluções dos problemas coletivos. Uma reunião como esta e as demandas que vocês nos ofereceram são suficientes para a DPES atuar. Agora quanto mais unida for a comunidade menos problemas teremos lá na frente”, afirmou.
Após a mobilização, os pescadores presentes formaram um grupo de trabalho para acompanhar o caso junto à Defensoria e endereçar as demandas dos pescadores aos responsáveis.