Atingidos convocam audiência pública em Jequié (BA) para reivindicar reparação de danos
Quase dois meses após as intensas chuvas que causaram enchentes e abertura de comportas de diversas barragens no sudoeste da Bahia, gestão municipal de Jequié ainda não apresentou um plano estrutural de reparação de danos às famílias atingidas
Publicado 11/02/2022 - Atualizado 14/02/2022
No próximo dia 16, uma audiência pública convocada por movimentos sociais e moradores de Jequié irá discutir a reparação dos danos e a retomada da vida da população do município, que foi um dos mais impactados pelas inundações que atingiram o estado da Bahia entre dezembro de 2021 e janeiro deste ano. A sessão irá acontecer às 9h no Centro de Cultura Antonio Carlos Magalhães (ACM).
Desde as primeiras inundações que deixaram centenas famílias desalojadas no município, uma Brigada de Solidariedade formada por diversas entidades sociais tem trabalhado para garantir o apoio às famílias atingidas, mas a gestão municipal ainda não apresentou um plano de reparação integral para que as famílias voltem à sua rotina com seus direitos garantidos.
Na região, os danos foram ocasionados não apenas pelas chuvas intensas de verão, mas também pela cheia dos rios de Contas e Jequiezinho, que receberam um volume de água anormal por conta da abertura da comportas da Usina Hidrelétrica de Pedra, que fica no Médio Rio de Contas e é de responsabilidade da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF.
Para o Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB (que tem atuado junto à Brigada), além das ações humanitárias, há a necessidade de se discutir um plano de reparação justa. “Diversas pautas estruturais de reabilitação dos municípios seguem pendentes. São reivindicações de âmbito social, econômico, ambiental, de saúde e cultural”, afirma Gabrielle Sodré, coordenadora do Movimento na Bahia.
Rio de Contas após chuvas de dezembro e abertura das comportas da UHE Pedra. Foto: Gabrielle Sodré/MAB
Thais Mendes, militante do MTD no estado da Bahia, afirma que a Audiência é essencial para que a população atingida da região possa ter um espaço de diálogo franco com o poder público e acesso às informações sobre as medidas que estão sendo tomadas. “O MTD, juntamente com o MAB, tem acompanhado de perto a situação das famílias que foram atingidas pelas chuvas. Por isso, compreendemos que, a partir da Audiência Pública, será possível dar maior visibilidade à situação dessas pessoas que, ainda hoje, quase dois meses após a enchente, encontram-se sem respostas acerca do planejamento que o poder público sobre sua situação”, aponta Thais.
Atingida do bairro Caixa d’água mostra o comprometimento da estrutura de sua casa após as enchentes.
Na última semana, a Brigada esteve empenhada na preparação da Audiência Pública e realizou diversas reuniões com parceiros locais, como sindicatos e pastorais e dialogou com as famílias atingidas. Em reunião com representantes da Pastoral da Criança, da diocese do bairro atingido Mandacaru, Cleidiane Barreto, coordenadora do MAB, contou que mesmo as famílias que não perderam nada com as chuvas, vivem uma insegurança muito grande. “O abalo psicológico é muito forte. Algumas contam que a água não chegou na casa, mas mesmo assim não conseguem dormir com medo de que tenha abertura de comportas da barragem”.
MAB se reuniu com representantes do STR e da Pastoral da Criança
Já em reunião com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), “percebemos que a população rural atingida pelas chuvas parece estar ainda mais distante do acesso aos direitos, como é o caso do aluguel social. O direito à informação ainda é muito restrito. As famílias ficam sem saber se serão deslocadas de suas casas, afastadas da comunidade, colocadas em um apartamento na cidade. Elas ficam alguns meses dependendo do aluguel social, mas e o depois?”. Cleidiane ainda reforça que “com as estradas interditadas as famílias não conseguem nem mesmo ir à cidade saber o que irá acontecer, já que o poder público municipal não tem atendido toda a zona rural do município”, conclui.
Saiba como apoiar os atingidos pelas enchentes
Os brasileiros atingidos pelas enchentes nas diversas regiões do país enfrentam necessidades básicas e imediatas, como abrigo e alimento. Elas precisam de amparo por parte do Estado e das empresas responsáveis pelos empreendimentos que potencializam os efeitos das enchentes, mas você também pode ajudar! Saiba como no link.