Brigada de solidariedade distribui móveis para famílias atingidas pelas enchentes em Jequié (BA)

Dona Ednalva Ferreira, uma das 21 contempladas pela ação, relata sobre como sua família escapou das enchentes, mas vive em alerta por medo de novas inundações

Doação de móveis para atingidos no bairro Caixa d’Água. Foto: Gabrielle Sodré / MAB

Na última quinta-feira (27), a Brigada de Solidariedade às famílias atingidas pelas inundações em Jequié (BA) realizou uma ação de distribuição de móveis para famílias que perderam seus bens por conta das enchentes dos rios de Contas e Jequiezinho no último mês dezembro. A brigada é articulada pelo Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Consulta Popular, a Associação dos Docentes da Universidade do Sudoeste da Bahia -ADUSB e agentes comunitárias de saúde do município. O Coletivo também conta com o apoio de sindicatos como o Sindipetro Bahia e o Sindae, articulados na Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia -POCAE. Os móveis – cinco fogões, oito guarda-roupas e oito camas – foram doados pela ADUSB e distribuídos para 21 famílias.

Ednalva Santos Ferreira, moradora da comunidade do Quilombo Urbano Barro Preto (localizada no bairro de Caixa D’água), foi uma das atingidas pela inundação e contemplada com a doação de uma cama na ação de solidariedade. Ela conta que, logo quando começou a chover, a água já tinha chegado próximo à casa dela.

“Meu esposo ficava sempre à noite monitorando o rio e ele sempre dizia: – se chegar aqui na porta do meu irmão, a gente vai começar a sair de dentro de casa, tirar o que puder tirar”. 

Casas foram inundadas pela cheia do Rio de Contas e Jequiezinho e moradores perderam tudo. Foto: Luiz Carvalho / MAB

Levou alguns dias até que a água chegasse e tomasse tudo dentro da casa da família, em pleno Natal: 25 de dezembro. A moradora explica que estavam celebrando o aniversário de uma sobrinha quando a casa começou a alagar. “Meu esposo chegou, entrou em casa e falou assim: – a água está chegando aqui. Quando ela chega no batente da porta, a mais ou menos um metro de altura, a água toma a casa numa velocidade, não sei se milésimos de segundos, de uma hora para outra tomou a casa todinha”, conta Ednalva.

No primeiro momento, ela contou com a ajuda de vizinhos e do pessoal da igreja, que carregou o que foi possível. “Como eu sou professora (só estou desempregada há muito tempo), eu tenho muitos livros, muitas caixas que estavam lá guardadas no quarto. Eles pegaram essas caixas e foi tirando tudo”, lembra.

A professora conta ainda que em sua casa ficaram as roupas, a geladeira e o fogão, pois não deu tempo de tirar. No outro dia de manhã, o marido e um vizinho nadaram até lá para tentar salvar algo. “Nunca imaginava isso. Tiveram que nadar pra conseguir chegar lá. Aí tirou fogão, tirou o colchão, tirou a geladeira, botijão, aí colocou na casa onde a gente estava, ficou dias ali tomando sol pra tentar, pra quem sabe voltar a funcionar de novo”. O receio de dona Ednalva e de tantas outras famílias é que a água volte a subir e a inundar novamente as casas.

“Hoje, qualquer chuva que se forma, a gente tem medo, por mais que a gente confie em Deus. Tanto eu, como minha cunhada e a outra vizinha, nós temos medo de uma hora pra outra vir um volume de água de novo e dessa vez não vai dar pra tirar nada. Eu tenho essa sensação que pode de uma hora pra outra nos atingir de novo e dessa vez não dar tempo nem sair de dentro de casa”, reforça dona Ednalva.

Ednalva Ferreira, atingida pelas enchentes em Jequié. Foto: Gabrielle Sosdré / MAB

Ela agradece por já ter conseguido voltar para casa, algo que algumas famílias conhecidas dela da Igreja que moram mais distante ainda não conseguiram.

Bahia segue em alerta 

O estado da Bahia segue em alerta por conta da abertura das comportas das barragens de companhias hidrelétricas do estado. Os alagamentos foram causados pelas chuvas intensas que afetaram a região e pela abertura das comportas das usinas hidrelétricas de Pedra (em Jequié) e Funil (em Ubatã), de responsabilidade da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF, que provocaram enchentes e estragos em vários municípios dos territórios dos Médio Rio de Contas. O município de Jequié foi um dos atingidos e segue entre os 168 municípios com decreto de situação de emergência.

Governo Federal antecipa recursos previstos como se fossem novos

De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia – SESAB, o governo federal anunciou, no último dia 21, recursos velhos como se fossem novos, destinados aos municípios baianos em situação de emergência. A portaria na verdade antecipa recursos que já eram de direito dos municípios e que serão descontados ao longo do ano.

Tereza Paim, secretária da SESAB, destaca em matéria: “é com surpresa e espanto que vemos essa atitude. São mais de 800 mil pessoas afetadas e os municípios encontram-se com estruturas arrasadas, sendo necessário recursos adicionais, não uma antecipação do que já era de direito das prefeituras. O Governo da Bahia tem recuperado pontes, estradas, enviado insumos, medicamentos e profissionais de saúde com recursos próprios e, até o momento, o Ministério da Saúde enviou apenas 58 médicos dos 109 prometidos”, 

Além disso, a SESAB relata que, com as inundações, houve perda de equipamentos, de insumos e até a destruição de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Por isso, os municípios lutam para reestruturar os serviços essenciais de saúde e evitar que doenças como leptospirose, dengue, chikungunya, influenza e Covid-19 atinjam a população.

A solidariedade precisa continuar

Outro fator que chama atenção da Brigada é que, após os períodos mais intensos de chuva, a ajuda humanitária tem diminuindo por conta da estiagem e as famílias, que já lidavam com inúmeras dificuldades, passam agora a enfrentar ma situação agravada pelas consequências das chuvas. Dessa forma, é fundamental a ajuda popular para a sobrevivência das famílias, assim como as políticas públicas que possibilitem a reconstrução das suas casas e das vidas.

Saiba como apoiar os atingidos pelas enchentes

Os brasileiros atingidos pelas enchentes nas diversas regiões do país enfrentam necessidades básicas e imediatas, como abrigo e alimento. Elas precisam de amparo por parte do Estado e das empresas responsáveis pelos empreendimentos que potencializam os efeitos das enchentes, mas você também pode ajudar! Saiba como no link ( https://mab.org.br/apoieomab/ ).

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