Mariana e outros municípios do Alto Rio Doce (MG) têm inundações após abertura de válvula de barragem
Município de Mariana foi atingido por enchente após comunicado da empresa Maynart Energética, que abriria a válvula de uma de suas barragens
Publicado 09/01/2022 - Atualizado 10/01/2022
Desde a noite de ontem, 08, o município de Mariana sofre com uma enchente que tomou a praça da comunidade Mainart e invadiu casas dos moradores. O nível do rio que corta o distrito subiu após o comunicado da empresa Maynart Energética, integrante do grupo Companhia Energética Integrada (CEI), de que abriria a válvula de uma de suas barragens localizadas acima da localidade.
A Maynart faz parte do complexo que compreende a barragem BRC e as usinas hidrelétricas Caboclo, Salto e Funil. A companhia afirmou em nota que o procedimento adotado tem o objetivo de auxiliar no escoamento do excesso de água que chega ao reservatório, evitando sobrecarregar o vertedouro. “Pedimos a atenção das comunidades no entorno devido à possibilidade de elevação do nível da água no rio Mainart”, dizia o comunicado publicado no dia 08.
A comunidade de Mainart está localizada entre duas hidrelétricas de propriedade da empresa Novelis, que são operadas pela Maynart Energética/CEI. O Estudo de Impacto Ambiental da barragem de Fumaça (a última delas a ser construída em 2003) indica a necessidade de um estudo que deveria ter sido feito após a construção da barragem. Esse estudo que não foi realizado serviria para avaliar se a comunidade poderia permanecer no mesmo local ou precisaria ser reassentada devido às inundações que poderiam acontecer.
As empresas responsáveis pela barragem nunca apresentaram este estudo à população, apesar da comunidade já ter cobrado várias vezes em reuniões uma resposta em relação às enchentes que são recorrentes no distrito.
Diferentes municípios cercados por barragens sofrem com risco de rompimento em MG
Além da comunidade de Mainart, a água do rio Gualaxo do Sul, que recebe as águas do rio Mainart, seguem para Acaiaca e Barra Longa, cidades que também estão sofrendo com enchentes. Em Barra Longa, a situação se complica devido à presença de rejeitos de mineração que continuam acumulados no Rio Carmo seis anos após o rompimento da barragem do Fundão.
Em Gesteira, distrito de Barra Longa, a igreja católica da comunidade, que está em reformas sob a responsabilidade da Fundação Renova desde o rompimento da barragem de Fundão, teve parte da torre destruída pelas chuvas. A situação de toda a estrutura está comprometida.
Em Ponte Nova, a população ribeirinha segue em alerta com o nível do rio Piranga subindo. A cidade está abaixo de outra usina hidrelétrica, a UHE Brecha e também tem vivenciado enchentes recorrentes.
No município de Raul Soares, a situação também é séria. Pelo terceiro ano consecutivo, as ruas da cidade são tomadas pelas águas dos rios Matipó e Santana. O município está localizado abaixo de duas barragens hidrelétricas da empresa Brookfield/Elera Renováveis, instaladas no rio Matipó. Granada, distrito de Abre Campo, localizado entre as duas hidrelétricas, passa pela mesma situação.
No distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, a população não dorme com medo do rompimento da barragem de rejeitos Doutor (de propriedade da Vale), que é classificada com risco nível 1. O município está sob fortes chuvas há dias.
De acordo com a coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o poder público precisa cobrar das empresas responsáveis por essas barragens o compromisso com a segurança da população que vive no entorno de tais empreendimentos. Além disso, as empresas precisam divulgar informações claras e confiáveis sobre o nível de risco em que cada uma das obras se encontra e tomar todas as medidas cabíveis para minimizar tais riscos.