Água contaminada: moradores de Aurizona (MA) relatam problemas de saúde após rompimento da barragem
Atingidos denunciam fornecimento de água suja que traz diversos problemas para a comunidade; um mês após o crime, empresa permanece negando direitos básicos
Publicado 28/04/2021 - Atualizado 07/05/2021
Desde o rompimento da barragem secundária da empresa Equinox Gold, ocorrido há mais de um mês no distrito de Aurizona, em Godofredo Viana, no Maranhão, os atingidos relatam casos diários de contaminação na água fornecida pela mineradora para mais de quatro mil moradores, além da insuficiência no fornecimento.
Segundo dados oficiais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), houve um choque mecânico e o volume de água existente na cava provocou a desestabilização do talude da Lagoa do Pirocaua, causando o rompimento, que atingiu a Lagoa de Juiz de Fora, utilizada para o abastecimento de água da população, e o Balneário do Caximbo, além de destruir parte da estrada de acesso ao distrito de Aurizona, deixando a população totalmente isolada.
O rompimento causou a contaminação do reservatório de água da população e ainda problemas na estação de tratamento de água do distrito. Até hoje, a empresa ainda não regularizou o abastecimento de água potável e segura para os atingidos e atingidas, deixando as famílias expostas à contaminação em meio à grave pandemia da Covid-19.
A negação do acesso a esse direito já resulta em problemas de saúde, como irritação da pele, além expor a comunidade a insegurança e ao vírus, sem as condições mínimas de higiene; diversos outros problemas de saúde podem surgir resultados do contato e consumo da água contaminada.
A mineradora Aurizona MASA, que pertence ao grupo Equinox Gold, até a data desta publicação, nega que houve o rompimento e atua para minimizar e esconder as provas do crime. A empresa atua de forma criminosa com as famílias, entregando água contaminada para a população.
Atingidos relatam por meio de fotos e vídeos a situação das lagoas, reservatórios e estação de tratamento (ETA) contaminados com a lama tóxica que escoou do rompimento da barragem.
A mineradora relata que o serviço de abastecimento de água foi reestabelecido completamente, inclusive com melhorias, porém, o que as famílias denunciam todos os dias é que as casas continuam sem água nas torneiras e que quando a água chega ela apresenta mal cheiro, traços de oleosidade e uma coloração avermelhada.
“Não tem a mínima condição de bebermos essa água suja e fedida, a empresa contaminou nossa água e agora querem que a gente adoeça consumindo água suja. Não tem condição nenhuma de usar essa água nem para banhar e muito menos para beber ou cozinhar”, conta a atingida.
“Aqui em casa eu abro a minha torneira não cai uma gota d’água. Hoje meu marido teve que pegar o carrinho e buscar na casa da Dona Raimunda, porque aqui em casa não tem água nem para eu lavar roupa nem tomar banho, a gente tem que está pegando nas casas dos outros para tomar banho, porque aqui não veio mais água não. A minha caixa tá seca, nem água limpa nem água suja, não tá vindo água aqui em casa”, conta Ana Lúcia, atingida e moradora do distrito de Aurizona.
A distribuição de água feita pela empresa também apresenta violações gravíssimas. A população relata que a empresa não tem distribuído água de forma acessível para toda a comunidade visto que os pontos de distribuição de água não atendem toda a comunidade.
Os moradores são obrigados a se deslocarem para locais distantes das suas casas, onde estão localizados os pontos com caixas d’água e um único ponto para água mineral, que os obriga a enfrentarem longas filas. Além da água insuficiente, a qualidade da água entregue pela mineradora gera desconfiança e revolta na população.
Além dos relatos sobre a falta de reparação emergencial financeira às famílias, os atingidos levantam outra violação decorrente do crime: a saúde. Após o rompimento, ocorrido no dia 25 de março, moradores da comunidade começaram a apresentar problemas de saúde após o uso da água fornecida pela empresa.
Uma atingida relata que após dar banho no seu filho, um bebê de apenas seis meses, ele passou a apresentar coceiras e caroços por todo o corpo.
O que pensa o MAB
Para o MAB, a atuação da mineradora Equinox Gold, após o rompimento da barragem Lagoa do Pirocaua, é vergonhosa e configura uma ação sistemática de agravadas violações aos direitos humanos das populações da região, dentre eles a negação do direito humano à água potável e todos os problemas que isso acarreta, que não podem seguir impunes, sem qualquer responsabilização e penalização por parte da empresa.
O MAB defende que a água é um direito humano universal e inalienável, que deve ser respeitado e garantido pelo Estado Brasileiro de forma digna, segura e permanente para todas as pessoas, e não violado de forma recorrente, e transformado em propriedade privada das grandes corporações internacionais.
A água é um bem comum e um patrimônio de toda a humanidade e o seu acesso deve ser garantido diariamente a todas as pessoas que dela necessitam, sobretudo as populações pobres que estão situadas em condições de desigualdade social. O MAB seguirá na luta pela garantia plena pelo direito a água potável assim como pelo atendimento de todas as reinvindicações de direitos das populações atingidas no distrito de Aurizona.