Cerca de 80 pessoas das regiões do alto e médio rio Doce, em Minas Gerais, celebraram o 14 de março, data histórica para o movimento, de maneira inédita
Publicado 16/03/2021
Março é um mês de muitas lutas para o conjunto dos atingidos por barragens. A jornada começa com o Dia Internacional de Luta das Mulheres (8), o Dia Internacional de Luta contra as Barragens, pela Água, pelos Rios e pela Vida (14) e encerra no Dia Mundial da Água e data do assassinato de Dilma Ferreira (22).
Em 2021, a pandemia impediu a realização de ações massivas, mas o compromisso com a luta continua, com iniciativas em todo o país em torno da pauta da vacinação para todos, o auxílio emergencial de 600 e as lutas contra as privatizações, altos preços da energia, água e gás de cozinha.
Neste ano, a Jornada de Março tem um sabor especial: o início das comemorações dos 30 anos do Movimento dos Atingidos por Barragens. Durante todo o ano, serão feitas centenas de iniciativas pelo país para fazer um balanço da trajetória do movimento, resgatar a história e a memória da luta, valorizar as muitas conquistas, além de fortalecer a organização de base, fazer ampla articulação política e celebrar com o povo este momento tão importante.
Neste domingo (14), as regiões do alto e médio rio Doce realizaram uma comemoração com parceiros da luta e com os atingidos por hidrelétricas da Brookfield, Aliança Geração Energia, Cemig, Vale, pelos danos dos crimes da Samarco (Vale\BHP Billinton), com os ameaçados por novos rompimentos de barragens de mineração e água, e pela poluição de grandes indústrias como a siderúrgica Usiminas e a Cenibra Celulose, dentre outras violações de direitos humanos.
Para respeitar os cuidados no contexto da pandemia, optou-se por fazer uma atividade online. Dois grupos presenciais pequenos, um em Ipatinga e outro em Mariana, se reuniram com atingidos e aliados da luta em toda a região.
Para abrir o encontro, a coordenação apresentou o plano geral de atuação para o ano de 2021, os objetivos, o caráter das atividades e como estas comemorações chegarão em todas as comunidades em tempos de pandemia.
Seguindo o clima animado que relembrava as histórias, as conquistas, foram apresentadas fotos antigas das lutas nas duas regiões desde os anos 1990 até chegar nas recentes depois do rompimento, em Mariana.
Vera Aleixo, da comunidade Gesteira, em Barra Longa, moradora de Mariana, falou da importância do movimento para a comunidade. “O MAB é ferramenta, é vitória, é tudo para nós. Sem ele, não conseguiríamos avançar em nada sobre nossos direitos”, afirma a atingida.
Aida Anacleto, ex-vereadora em Mariana e assessora do mandato do Deputado Federal Rogério Corrêa agradeceu a oportunidade de caminhar e aprender nesta trajetória de luta. “Quando eu fui atingida pela Alcan em Passagem de Mariana nós não tivemos a oportunidade de termos um movimento como este e o tempo passou. Agora temos esta importante ferramenta que nos ajuda a enfrentar os novos desafios”, comenta Anacleto.
Como uma das integrantes mais antigas do MAB no Vale do Aço, Viene Maria, moradora de Plautino Soares, distrito de Sobrália, relembrou o papel da Igreja Católica na formação do movimento, sobretudo na época das lutas contra a barragem de Baguari, em Governador Valadares.
“Eu me lembro como o padre Zé Leão, que hoje é nosso pároco novamente, contribuiu neste processo, nos motivava a sermos uma comunidade viva e de compromisso com os direitos, e foi no MAB que nós vivemos este aprendizado”, conta.
Participaram mais de 80 pessoas das cidades de Mariana, Ouro Preto, Acaiaca, Barra Longa, Raul Soares, Ponte Nova, Guaraciaba, Viçosa, Itabira, Ipatinga, Bom Jesus do Galho, Timóteo, Coronel Fabriciano, Sobrália, Governador Valadares, Resplendor, Conselheiro Pena, Belo Horizonte e Congonhas.
“Apesar de não ter sido presencial e ainda marcados pelo luto que enfrentamos com tantas milhares de perdas humanas para a pandemia, foi um bonito momento de encontro que reafirmou o compromisso com a luta e reforçou os laços com os parceiros. Agora, vamos continuar com o planejamento que inclui muitas outras atividades, sobretudo as que vão levar para as comunidades este bolo para festejarmos junto com o povo atingido, razão e força desta comemoração”, diz Letícia Faria, integrante da coordenação estadual do MAB.
Participaram do evento representantes das entidades:
SindUte subsedes Ipatinga e Viçosa
Sindieletro
Sindicato dos Bancários de Ipatinga
Sindicato dos Comerciários de Ipatinga – SECI
CUT Regional Vale do Aço
Dimensão Sociopolítica da região Mariana Leste
Movimento Fé e Política da Arquidiocese de Mariana
Escola de Fé e Política Dom Luciano
EFA Paulo Freire e Associação Mineira das Escolas Família Agrícola – AMEFA
Partido Comunista Brasileiro (PCB) de Ipatinga e Itabira
Partido dos Trabalhadores (PT) de Ipatinga e Coronel Fabriciano
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de Governador Valadares
Intervenção Poética Popular Revolucionária – IPPR
Comitê dos Atingidos pela Mineração de Itabira e região
Instituto Rio Piracicaba
Escola Nacional de Energia Popular – ENEP
Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA)
Movimento Intereligioso do Vale do Aço
CEBS
União da Juventude Socialista – UJS
União Nacional dos Estudantes (UNE)
Coletivo Aqualtune
Coletivo de Mulheres Bissexuais e Lésbicas Trans e Cis de Minas Gerais
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)
Rede de Saberes dos Povos Quilombolas da Zona da Mata – Sapoqui
Também participaram Carolina Morishita, da Defensoria Pública de Minas Gerais, os mandatos Vereadora Cida Lima, de Ipatinga, Deputada Estadual Beatriz Cerqueira, Deputado Federal Rogério Correa e Deputado Federal Padre João, professores parceiros da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), além dos padres João Batista, pároco em Fronteira dos Vales, Vale do Jequitinhonha, Luiz da Paixão, pároco da paróquia São Pedro, em Ponte Nova e Antônio Claret Fernandes, vigário paroquial, em Congonhas.