Indígenas atingidos pelo crime da Samarco bloqueiam trilhos do trem da Vale no Espírito Santo
Desde a última terça-feira (27) indígenas tupiniquins das aldeias de Comboios e Córrego do Ouro ocupam a ferrovia da Vale
Publicado 30/10/2020 - Atualizado 01/11/2020
Ao contrário do que a propaganda da Renova na TV mostra, 5 anos após o crime da Samarco no Rio Doce muito pouco foi feito. Até mesmo as populações indígenas – resguardada por legislação própria e órgãos específicos de acompanhamento do Estado – tem dificuldades em ter seus direitos reconhecidos.
Um pedido simples, como o desmembramento de núcleos familiares das aldeias tupiniquins de comboios e córrego do ouro, levou os indígenas a ocupar os trilhos do trem na noite de terça-feira (27).
Ontem, dia 29 de outubro, houve uma reunião com a equipe da Renova, a Vale – responsável pela ferrovia – e as Instituições de Justiça (MPF, Defensoria Pública). Na ocasião a Renova negou o direito àqueles jovens indígenas atingidos que constituíram família, ou simplesmente saíram da casa dos pais, a ter um cadastro próprio na Fundação. A negativa não só viola a centralidade da vítima no processo de reparação, como essa decisão viola frontalmente a auto organização indígena, forçando as aldeias a se enquadrarem nos critérios da Renova, e não vice versa.
“Se tivesse realmente dispostos ao diálogo a coisa seria diferente. Eles dizem que querem conversar, mas se respeitassem mesmo os territórios indígenas e os direitos das nossas comunidades e a nossa autonomia, nós não teríamos feito a ocupação. Eles perguntam porque fazer a ocupação da ferrovia, que não precisa disso. Claro se a coisa não tá avançando a gente avança então nós tem que procurar avançar na empresa que é a Vale correto?”
Afirma um dos cacique das aldeias envolvidas na ação sobre a dificuldade de fazer a Fundação Renova ouvir a voz das comunidades.
A pesca na região litorânea continua proibida e estudos como o “Estudo do Componente Indígena” feito pela empresa Polifônica – contratada pela própria Renova, indicam a contaminação do ecossistema na região. Vale lembrar que a bacia do rio Riacho é ligada diretamente ao rio Doce através do canal Caboclo Bernardo, que leva para a fábrica da Suzano água do rio doce junto aos rejeitos do rompimento da barragem. Apesar de ter custeado o estudo hoje, a Renova se recusa a aceitá-lo como fonte de dados para a negociação dos termos da reparação nas Aldeias.
A mesma estratégia foi executada com a Rede Rio Doce Mar, ligada à UFES e também contratada da Renova, que suspendeu os recursos à rede na medida em que começaram a surgir dados que iam no sentido contrário do que as mineradoras anunciam nestes 5 anos: a contaminação perdura e é crônica. Se espalhou pelos ambientes dulcícolas, estuarinos e marítimos, e pode comprometer a cadeia trófica da qual nós, seres humanos, ocupamos o topo.
A situação segue delicada pois há uma ordem de desocupação do trilho emitida pela Justiça do Espírito Santo em favor da Vale. A despeito de estarem na própria aldeia, há o risco de uma desocupação violenta. A situação é acompanhada pela Procuradoria Especial dos Povos Indígenas, subordinada à AGU, Funai, MPF e Defensoria Pública do Espírito Santo.
O Movimento dos Atingidos por Barragens se solidariza com as aldeias de Comboios e Córrego do Ouro na sua luta justa contra a Renova.
Vale com a injustiça na mão, 5 anos sem reparação!