No aniversário da Petrobras, movimentos organizam ato virtual por soberania nacional
Trabalhadores de diferentes setores públicos defenderam, na tarde deste sábado (3), as empresas públicas brasileiras; evento teve participação de personalidades políticas
Publicado 04/10/2020 - Atualizado 04/10/2020
Em uma articulação entre as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, movimentos populares, federações e sindicatos de funcionários de empresas públicas realizaram, neste sábado (3), o ato nacional “Pela soberania, em defesa do povo brasileiro”. O evento, que ocorreu de forma virtual, contou com a organização da POCAE – Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia.
Com quase três horas de duração, a transmissão trouxe depoimentos de petroleiros, eletricitários, funcionários dos correios, do setor de transporte e abastecimento, trabalhadores da educação, estudantes, agricultores, além de parlamentares comprometidos com a causa da soberania nacional.
De acordo com pesquisa realizada pelo DataFolha no ano passado, 67% dos brasileiros são contrários a privatizações. Mesmo assim, governos de cunho neoliberal continuam com propostas e pacotes de desestatizações, que, na realidade, são verdadeiras entregas do patrimônio público a grupos internacionais.
Além do tema da soberania, os participantes comentaram o desastre da gestão da pandemia do coronavírus no Brasil por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com: falta de investimento no SUS (Sistema Único de Saúde), desmantelamento do Ministério da Saúde, tentativa de redução e descontinuidade do auxílio emergencial e disseminação de notícias falsas para rebater recomendações científicas sobre distanciamento social.
Outro ponto bastante citado, e que tem relação direta com o defesa das riquezas brasileiras, foi a destruição do meio ambiente com as queimadas nos biomas da Amazônia, Pantanal e Cerrado.
“O Brasil é um país com grandes potencialidades. Temos as melhores condições de ser um país soberano, estamos entre os cinco maiores países do mundo em extensão territorial e população. Temos uma riqueza extraordinária de bases naturais, terras, água, minérios, petróleo. Temos as empresas públicas que geram riqueza para o Estado, a Amazônia, coração da biodiversidade, e temos um povo heroico que se destaca pela criatividade alegria e trabalho.”, elenca Ivanei Dalla Costa, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens e representante da POCAE.
Petrobras: orgulho nacional
A escolha da data do ato não foi à toa. No dia 3 de outubro de 1953, foi criada a maior empresa pública brasileira, a Petrobras. Representantes das centrais sindicais ressaltaram a importância da estatal no desenvolvimento do país com a criação de milhares de empregos diretos e indiretos. Nos anos dos governos Lula e Dilma, a Petrobras recebeu mais investimento em pesquisa e ficou ainda maior com a descoberta do pré-sal, que trouxe a possibilidade de transferência de royalties para educação e saúde, e a política de conteúdo local (Lei 12.304/10) que estabelecia que a Petrobras deveria comprar produtos da cadeia produtiva da indústria nacional, o gerou mais de 640 mil empregos.
O ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva afirma que a Petrobras é “um símbolo do que queremos defender para o Brasil”, ele relatou a luta travada para a descoberta de petróleo na camada pré-sal.
“Quando temos um presidente da república que vive todo santo dia lambendo as botas do governo americano, nossa soberania está correndo risco. Um país que não tem soberania não é respeitado. O Brasil não tem tendência a voltar a ser colônia”, diz Lula.
Sobre os desafios da resistência, a ex-presidenta Dilma Rousseff alerta: “os defensores da privatização da Petrobras devem ser enfrentados e combatidos energicamente onde quer que possamos lutar contra eles, pois, diante de um governo que produz tanta devastação não há outro caminho senão lutar para tirá-lo do poder. O futuro do Brasil será tão mais desastroso quanto mais impunemente Bolsonaro continuar agindo contra a Petrobras”.
Dentre os parlamentares, participaram: Paulo Ramos (PDT/RJ), Glauber Braga (PSOL/RJ), Alessandro Molon (PSB/RJ), Jandira Feghali (PCdoB/RJ), Gleisi Hoffmann (PT/PR) e o candidato no pleito municipal em São Paulo, o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Guilherme Boulos (PSOL). Personalidades como o teólogo Leonardo Boff, o cacique Juarez Munduruku e o ex-chanceler Celso Amorim também enviaram depoimentos.
João Pedro Stédile, coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), levantou a urgência de defender a soberania alimentar em um país que tem mais de 10 milhões de pessoas que vivem sem segurança alimentar. “O que ocorre hoje, com os preços dos produtos alimentícios disparando, é porque não há nenhum controle, não há nenhuma soberania, o governo não controla estoque e com isso as empresas que compram dos agricultores fazem especulação e cobram o preço que querem, é preciso que haja políticas públicas neste setor. “, explica.