Nota do MAB as famílias atingidas pelo rompimento das barragens em Pernambuco

Durante o mês de março, o sertão de Pernambuco recebeu o um volume significativo de chuvas, especialmente no sertão do Pajeú e do Moxotó, onde a Agência de Águas e […]

Durante o mês de março, o sertão de Pernambuco recebeu o um volume significativo de chuvas, especialmente no sertão do Pajeú e do Moxotó, onde a Agência de Águas e Clima de Pernambuco (APAC) registrou somente no domingo (24), 128 milímetros de chuva no município de Afogados da Ingazeira e 150 milímetros em Sertânia, provocando alagamentos, invadindo ruas e desalojando inúmeras famílias.

Foto: Taciana Souza/ Reprodução Instagram

No sertão pernambucano há muitas obras de infraestrutura hídrica para acumulação de água e distribuição para outras regiões do estado e do nordeste. Obras a exemplo da transposição do Rio São Francisco, em Cabrobó, e da barragem de Brotas em Afogados da Ingazeira que dão suporte as famílias na região no período de estiagem e durante todo o ano para produção de alimentos, a criação de animais e consumo das famílias.

Porém, o modelo de construção dessas obras, na maioria dos casos, não conta com participação da população e insiste na construção a montante (acima) das cidades, colocando em risco a segurança da população que vive no entorno dos lagos, já que não há fiscalização permanente de suas estruturas.

Infelizmente a história se repete. Vivenciamos o rompimento das barragens de rejeito da Vale em Minas Gerais, da barragem do Quati na Bahia e agora, a população de Pernambuco sofre com os efeitos da negligência do Estado.

Na quarta-feira, 25 de março, a Barragem de Brotas, no Rio Pajeú em Afogados da Ingazeira, transbordou e cedeu diante da força da água, derrubando duas pontes e deixando a cidade ilhada. As barragens do Rosário, no município de Iguaraci, a barragem do Moxotó, em Sertânia, e Nilo Coelho, em Terra Nova, também transbordaram e seguem em risco de rompimento. Além de Afogados da Ingazeira, as cidades de Flores, Carnaíba, Serra Talhada e Sertânia também foram alagadas deixando mais de 250 famílias desalojadas ou desabrigadas, além de milhares de pessoas impactadas pela enchente.

A situação é muito preocupante e tende a se agravar. As cidades estão com dificuldade de alojar as famílias ou sob condições que aumenta o contato entre as pessoas, expondo-as aos riscos da COVID-19. 

O ocorrido no sertão de Pernambuco é um padrão de violação existente no país que o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) vem denunciando há anos. No Brasil, existem pelo menos 723 barragens classificadas com algum risco de rompimento, segundo o relatório de 2017 da Agência Nacional das Águas (ANA). Esse dado é bastante defasado, considerando que das 24.092 estruturas, apenas 3% foram fiscalizadas, pois o Estado mínimo neoliberal não se preocupa com segurança dos atingidos e trabalhadores, assim como não se importa com a sua saúde.

Reforçamos a necessidade de medidas emergenciais e humanitárias aos atingidos pelo rompimento das barragens em Pernambuco, para atender as necessidades de moradias, eletrodomésticos, alimentação e assistência psicológicas às famílias afetadas. Bem como medidas de infraestrutura para sanar os transtornos vividos pela população.

Defendemos a criação de uma Política Estadual de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PEAB) que contemple questões relacionadas ao desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural; maior participação popular na política de segurança das barragens no estado e a proibição da construção de barragens a montante.

Manifestamos a nossa solidariedade integral às famílias atingidas e a toda a população dos municípios Afogados da Ingazeira, Flores, Carnaíba, Serra Talhada e Sertânia, assim como a população dos Sertões do Pajeú e Moxotó, que sofrem com as consequências da negligência histórica dos governos nas construções de barragens e na omissão da garantia dos direitos dos atingidos. O que ocorreu só reforça a necessidade de uma política séria de segurança das barragens e das populações atingidas.

 

Água para a vida e não para a morte!!!

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro