Com seminário, atingidas debatem direitos em Cachoeiras de Macacu, RJ

   Foto: Comunicação MAB As atingidas por barragens do Rio de Janeiro realizaram o Seminário “Educação popular, direitos e participação social: bordando a saúde das mulheres atingidas por barragens” na quinta-feira […]

 

 Foto: Comunicação MAB

As atingidas por barragens do Rio de Janeiro realizaram o Seminário “Educação popular, direitos e participação social: bordando a saúde das mulheres atingidas por barragens” na quinta-feira (19). O evento aconteceu em Cachoeiras de Macacu/RJ com o objetivo de apresentar as sistematizações construídas pelas educandas durante a formação promovida pela parceria do MAB com a Fiocruz, que se iniciou em maio.

De lá para cá, foram realizadas oito etapas de formação, entre etapas de Diagnóstico Rápido Participativo e Rodas de Conversa, com a participação de 14 atingidos por barragens, entre agentes comunitárias de saúde e trabalhadoras rurais, contabilizando 13 mulheres e um homem.

Durante a formação, a saúde foi sendo compreendida como um direito conquistado, a partir de um conceito mais amplo do que a ausência da doença. “Entendemos a saúde como um conjunto de elementos que melhoram as condições de vida da população, que é um dos direitos mais violados antes, durante ou depois da construção de barragens e que as mulheres atingidas são as que mais sofrem esta violação”, disse Marcilene Tosta, uma das educandas.

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Durante os encontros, buscou-se construir espaços onde as mulheres eram protagonistas de uma prática educativa orientada pelos fundamentos da educação popular, debatendo e problematizando a luta pelos seus direitos, sua condição de classe que revelaram as opressões vividas no seu cotidiano a serem combatidas, e a sua condição de atingidas.

É o que reflete Marcilene, que representou o conjunto dos educandos durante o seminário: “Nesse curso aprendemos sobre os nosso direitos que muitas de nós desconhecemos, tais como os direitos dos atingidos por barragens, o direito ao trabalho, o direito à terra, o direito à equidade de gênero, pois fazemos os mesmo trabalhos que os homens e não somos valorizadas como eles”.

Uma das conclusões é que mesmo que a barragem do Guapiaçu, prevista para Cachoeiras de Macacu, esteja com o projeto engavetado, já são evidentes os impactos negativos na região, tais como a perda do valor da terra, a diminuição ou ausência de investimentos em estradas, pontes, sistema de transporte e redes de água e luz, ausência de coleta de resíduos sólidos, fechamento de escolas e desinvestimento nas áreas de saúde. 

Esse processo de reflexão foi fundamental para elas questionarem as estruturas de classe e gênero que determinam suas condições materiais de vida e dessa reflexão partirem para uma sistematização objetiva dos direitos que lhes são violados, que interferem na saúde, tanto das mulheres, como de toda comunidade.

Alguns dos direitos violados apontados nas falas durante o seminário foram:

  • Direito à saúde, saneamento básico, água, alimentação saudável e coleta de resíduos sólidos.
  • Direito das mulheres, tais como o atendimento médico adequado, informação sobre saúde reprodutiva e atendimento obstétrico sem violência. 

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Dessas avaliações e constatações foram construídas arpilleras, sendo duas construídas coletivamente pela turma, e cinco construídas pelas comunidades de Maraporã, Vechi, Ilha Vechi, Serra Queimada e Quizanga. Essas arpilleras serão expostas em dois locais no próximo mês, em Cachoeiras de Macacu e na Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Durante o seminário, as educandas e o educando apresentaram as arpilleras e cartas que construíram coletivamente, e afirmaram que, com as arpilleras, querem denunciar os direitos que lhes são violados. E escreveram também uma carta para ser entregue aos gestores públicos denunciando a situação de abandono da região atingida e reivindicando soluções imediatas às suas demandas.

Sem ciranda, o movimento não anda

A ciranda do MAB não podia faltar nesse dia, então foi construída uma linda ciranda infantil que proporcionasse o encontro de crianças que estiveram presentes em todo processo. Foi um espaço brincante, com muita ludicidade, com objetivo de integrar as crianças e educadores. 

Foto: Comunicação MAB

O coletivo considera importante sempre lembrar nos espaços de atividade do MAB que sem ciranda o movimento não anda. “Entramos na plenária cantando, dançando, batendo palmas e repetindo várias vezes o nosso lema”, afirmou Mayara uma das educadoras da ciranda. Essa prática evidencia o que foi afirmado pela educadora Luana Farias na sua fala durante o seminário: “As crianças atingidas por barragens não são o futuro, mas sim o presente, e estão juntas com os adultos na construção do movimento, na luta dos atingidos por barragens.” 

Tendo em vista que, como as mulheres, elas são o grupo que mais tem seus direitos violados pela construção de barragens, e sabem muito bem expressar quais o são, e no espaço da ciranda refletem sobre os mesmos e pensam em como lutar para serem ouvidas.

Como diz a criança atingida por barragem Isabela, 10 anos, moradora de Serra Queimada: “Sem ciranda o Movimento não anda. É importante as crianças terem onde ficar quando tem reunião, curso. E nós aqui gostamos muito da ciranda, porque vemos nossos amigos, os educadores. E também é uma distração para nós, né. É um espaço nosso, de brincadeiras, discussão, aprendizado. E estamos na ciranda, para lutar pelos direitos que temos, e não são respeitados”, conclui Isabela.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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