Atingidos de Congonhas denunciam CSN em Audiência

Rompimento da barragem da CSN em Congonhas atingiria população em menos de 30 segundos A audiência que discute a situação da população dos bairros Cristo Rei e Residencial, que ficam […]

Rompimento da barragem da CSN em Congonhas atingiria população em menos de 30 segundos


A audiência que discute a situação da população dos bairros Cristo Rei e Residencial, que ficam próximos à barragem Casa de Pedra, aconteceu na tarde desta quinta-feira, 13, no Fórum de Congonhas. Em caso de rompimento da Barragem da mineradora CSN, toda Congonhas sofrerá impacto e os municípios banhado pelo Rio Paraopeba, atingindo novamente a bacia do São Francisco.

De acordo com o promotor Vinícius Alcântara Galvão, da Comarca de Congonhas, esta ação foi motivada pelo acidente de Brumadinho, onde o refeitório atingido ficava a 2km da barragem. Aqui, a barragem de mineração da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) fica localizada a 300m dos bairros, com uma creche e uma escola a apenas 600m.

Baseada nos “direitos da dignidade da pessoa humana, do poluidor pagador e de uma regulamentação que diz que não pode ter alojamentos próximos de barragens” segundo Alcântara, a ação visa a proteção da população em casos de emergência, visto que ela seria afetada em 30 segundos, caso a barragem rompesse. “Se não pode ter um agrupamento de trabalhadores, muito menos pode ter um agrupamento de crianças e adolescentes que por lei são protegidas pelo Estado”, afirmou.

Ainda segundo o promotor, o que está sendo exigindo é uma medida emergencial paliativa que desloque a creche e a escola para uma área segura, arcando com os custos de aluguel dos imóveis dentro do padrão da prefeitura e com o transporte das crianças até o novo local. A medida emergencial consiste no deslocamento da população de cerca de 3 mil pessoas que habitam aproximadamente 600 casas e que já moravam na região antes da instalação da barragem. “Não tem medida de segurança que salve três mil pessoas em 30 segundos” afirmou.

De acordo com Alcântara, a preliminar solicitada foi parcial, tendo as medidas paliativas já aprovadas pela prefeitura para que a CSN arque com os custos. A expectativa é de que todo o processo seja deferido e que proporcione melhor qualidade de vida para os moradores.

Problemas de saúde

Além dos problemas estruturais, de segurança, moradia e educação que estão afetando a população dos bairros, os moradores também enfrentam sérios problemas de saúde.

Rita Maria dos Santos tem 51 anos e é moradora do bairro Residencial há 22 anos. Ela tem um filho deficiente visual e afirma que os problemas de saúde da família pioraram. “Meu filho sempre teve problemas respiratórios, agora a alergia dele piorou e está custando 1.700 reais por causa dessa mineração. O que a gente pede é que tire a gente daqui, porque quem chegou primeiro fomos nós. Eles não fazem contato conosco e a gente vive com medo de sair de casa, deixar os filhos lá e acontecer uma tragédia. Vivo com medo morando lá”.

Maria de Lourdes Medeiros tem 61 anos, mora no bairro Residencial há 28 anos e afirmou que também não consegue dormir tranquila. “Vivemos com preocupação, escutamos o tempo todo que as pessoas não conseguem dormir, e às vezes nem dormimos mesmo com medo da barragem romper durante a noite” afirmou.

Rodrigo Ferreira da Silva também mora no Residencial e é um dos representantes dos bairros nesses processos, participando ativamente das questões da barragem com a população, Rodrigo foi o primeiro a depor na audiência. O morador afirmou que, apesar de esperançoso com o processo, as perguntas eram óbvias. “Entrei lá e tinha que responder perguntas da juíza, do promotor e dos advogados da CSN. E as perguntas eram óbvias, como o povo está, se a barragem foi construída antes ou depois da população se alocar lá e isso todo mundo já sabe. Todo mundo sabe que a barragem chegou depois e que lá ninguém mais dorme” afirmou.

De acordo com Rodrigo ele também foi questionado sobre sua preocupação com as outras barragens que tem em Congonhas, uma questão que ele recebeu como uma crítica. “Eu sei da barragem que, se romper, vai me matar na hora. As outras eu tenho tempo de correr, essa daqui está a 300 metros de nós e eu não vou ter tempo nem de ver ela chegar, óbvio que eu me preocupo mais com essa. Eu moro ali”.

A demanda da população, de acordo com Rodrigo, é o deslocamento dos moradores que querem sair de lá, sob a responsabilidade da empresa. “A barragem da CSN já teve problemas em 2013 e em 2017. Todos eles foram resolvidos, mas as barragens de Mariana e de Brumadinho não tiveram problemas e nem tinham riscos, e deu no que deu. Como eu vou confiar nessa aqui? Como eu posso me assegurar de que, pelo menos, eu vou conseguir fugir dela? 30 segundos pra sair não salva ninguém” questionou.

Segundo Fernanda de Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), “o sofrimento dos atingidos pela barragem da CSN vem se prolongando devido ao descaso da empresa em dar informações para a população sobre o risco do rompimento e a negligência em relação a vida dos moradores. Não dá para ficar em baixo de uma barragem esperando se ela vai romper ou não”.

Para Fernanda a audiência teve objetivo de ouvir os atingidos e atingidas e suas reivindicações, um momento importante deles poderem dar o depoimento do sofrimento do que estão vivenciando cotidianamente. É necessário que os atingidosas continuem participando de todos os espaços de lutas, fazendo estas denúncias e reivindicando seus direitos. Só a luta faz valer!

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