Empresas de eucalipto e PM tentam despejar famílias geraizeiras em Grão Mogol (MG)

Na manhã desta, quinta-feira (19), um oficial de Justiça, acompanhado por policiais militares, tratores e caçambas, tentou cumprir uma reintegração de posse de forma arbitrária e sem procedência jurídica contra […]

Na manhã desta, quinta-feira (19), um oficial de Justiça, acompanhado por policiais militares, tratores e caçambas, tentou cumprir uma reintegração de posse de forma arbitrária e sem procedência jurídica contra famílias geraizeiras do Acampamento Alvimar Ribeiro dos Santos, organizados pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A área, denominada Fazenda Buriti Pequeno, está localizada próxima à cabeceira do Córrego São Lourenço, às margens da estrada municipal que liga o distrito de Vale das Cancelas ao  município de Grão Mogol, no entroncamento que dá acesso à barragem da Usina Hidrelétrica de Irapé. Isso é uma forma de reivindicar a demarcação do seu território e contra a criminalização das lideranças e posseiros que vivem nessa área.

Diante da situação, foram acionados o Ministério Público de Minas Gerais e o Governo de Minas, para impedir despejos arbitrários e ilegais como estes contra os trabalhadores/as. Sendo assim, será realizada reunião com a Mesa de Diálogo e Negociação e Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social (CIMOS/MPMG), em caráter de urgência, nos próximos dias, no Acampamento Alvimar Ribeiro para serem tomadas as devidas providências. O MAB denuncia esta prática criminosa de grilagem de terras devolutas e exigimos o imediato cancelamento da reintegração de posse contra as famílias geraizeiras do Acampamento Alvimar. 

Entenda o conflito

Desde os anos 70, durante o regime militar, as empresas Foscalma e Floresta Empreendimentos vêm encurralando, expulsando e violando os direitos à cultura e ao modo de vida tradicional das comunidades geraizeiras. Além disso, estas comunidades sofrem ameaças, criminalização, processos judiciais e a grilagem de suas terras por parte dessas empresas.

Em 2009, iniciou o processo de grilagem das terras pertencentes ao Estado em território das comunidades geraizeiras, resultando em 2010, na prisão dos grupos criminosos da Floresta Empreendimentos e demais empresas de monocultura de eucalipto da região, através da Operação Grilo realizada pela Polícia Federal.

A empresa monocultora de eucalipto Foscalma S/A Comercial Exportadora (CNPJ: 17.464.421.0001-76), que em 2005 deveria entregar esta área anteriormente arrendada ao Estado, vendeu terras devolutas para a empresa Floresta Empreendimentos, de forma ilegal e criminosa. Diante disso, a Floresta Empreendimentos entrou com processo de Usucapião na Justiça de Grão Mogol, e foi então contestada pelo Estado de Minas com Ação Discriminatória (0278-05-000.361-7) pela prática de grilagem de terras devolutas e aguarda decisão judicial há pelo menos 12 anos.

Neste processo, a Foscalma alega ter 12,64ha e quer ter a posse de 4.958,00ha, área onde vivem mais de 120 famílias geraizeiras há mais de 7 gerações. No processo de reintegração de posse e no pedido de usucapião, as empresas omitem que as terras são do Estado.
Desta forma, em novembro de 2016, as comunidades tradicionais geraizeiras de Buriti, Tingui, Córrego do Engenho, São Lourenço e Bonfim Estreito vêm construindo a retomada de seu território ancestral na chapada de Buriti/São Lourenço, em Grão Mogol-MG, por meio do Acampamento Alvimar Ribeiro dos Santos, organizados pelo MAB e CPT. Estas comunidades são atingidas pelo modelo de desenvolvimento pautado na silvicultura de eucalipto e pela barragem da Usina Hidrelétrica de Irapé.

Esta área se encontra em processo de negociações com o Estado, através da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário (SEDA), da Mesa de Diálogo e Negociação Permanente com Ocupações Urbanas e Rurais e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), para garantir a regularização do Território Geraizeiro de Vale das Cancelas.Além disso, em Junho de 2017 foi realizada visita oficial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e CIMOS/MPMG e posteriormente uma Audiência Pública em Belo Horizonte para conhecimento e resolução dos conflitos fundiários existentes entre as empresas de silvicultura e as comunidades tradicionais geraizeiras da região.

Território, Água e Energia não são Mercadorias!

Movimento dos Atingidos por Barragens

Comissão Pastoral da Terra

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro