Atingidas por barragens da Amazônia expõem arpilleras no Sesc Boulevard
O Centro Cultural Sesc Boulevard e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) apresentam a exposição “Arpilleras Amazônicas: Costurando a luta por direitos. A mostra traz um conjunto de telas […]
Publicado 02/09/2016
O Centro Cultural Sesc Boulevard e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) apresentam a exposição “Arpilleras Amazônicas: Costurando a luta por direitos. A mostra traz um conjunto de telas de tecidos (arpilleras), peças únicas costuradas a muitas mãos por mulheres atingidas e ameaçadas por barragens da região Amazônica. Toda a programação ocorrerá entre os dias 18 a 30 de setembro, no Centro Cultural Sesc Boulevard, em Belém (PA).
Cada peça exposta traz, de maneira artística, criativa e contundente, o testemunho das violações de direitos sofridas por mulheres nas grandes obras que sangram rios e pessoas nas bacias do Xingu (Pará), Tapajós (Pará), Araguaia-Tocantins (Pará/Maranhão), Madeira (Rondônia) e Tocantins (Tocantins).
“Construída desde o princípio com muito diálogo e parceria entre o Sesc e o MAB, a programação evidencia o quanto arte, cultura, política e educação são temas que estão intimamente entrelaçados, e pode despertar nosso olhar sobre as diversas realidades e situações vivenciadas por essas mulheres: do machismo ao desmatamento, da falta de moradia à destruição de memórias e patrimônios, materiais e imateriais. Considerando que é finalidade do Sesc assegurar melhores condições de vida para todos, se faz necessário e urgente despertar esse olhar mais crítico sobre a Amazônia, se queremos ajudar a construir bases para uma transformação nos modos como agimos no mundo, com mais compromisso ambiental e social. Poder fazer isso a partir das experiências de mulheres amazônicas atingidas por barragens, mulheres essas que são historicamente invisibilizadas, é para o Sesc uma honra e um aprendizado, afirma Suelen Silva, Técnico de Humanidades do Sesc.
A destruição de laços comunitários, a violência contra a mulher, a ausência de políticas públicas, o abuso no preço de luz e outras violações são temas comuns que permeiam a vida de todas essas mulheres. São ribeirinhas, indígenas, agricultoras e pescadoras, como Nilce de Souza Magalhães, a Nicinha, militante do MAB assassinada em Rondônia em janeiro de 2016, a quem a exposição é especialmente dedicada.
Arpillera “Mulheres em Luta”, produzida por mulheres da região do Tapajós, como parte do projeto “Direitos das mulheres atingidas por barragens”, uma parceria entre o MAB e a Christian Aid com apoio da União Europeia
Através da confecção das arpilleras, as mulheres atingidas por barragens conseguem expressar com linha e tecidos aquilo que muitas vezes as palavras não conseguem dizer. Mas as arpilleras não têm só um sentido de denúncia, sendo também uma semente de organização das mulheres, pois cada uma percebe que não está sofrendo sozinha e que é necessário lutar coletivamente para ser mais forte, afirma Cleidiane Vieira, da coordenação do MAB no Pará.
Durante a exposição, também acontecerão exibições de documentários sobre o tema. As atingidas por barragens também ministrarão oficinas onde ensinarão a técnica de confecção das arpilleras ao público interessado.
O que é
Arpillera (juta, em espanhol) é uma técnica originária do Chile, na qual se costuram retalhos de tecido sobre juta. Naquele país, as mulheres utilizaram essa ferramenta especialmente entre as décadas de 70 e 90 para denunciar as atrocidades cometidas pela ditadura de Augusto Pinochet.
Costurando denúncias sobre a ditadura e memórias dos desaparecidos durante o regime, ao fazer as arpilleras, as mulheres chilenas conseguiram fortalecer o movimento de resistência e dar visibilidade nacional e internacional às violências sofridas no país.
É com esse sentido político que mulheres atingidas por barragens no Brasil e integrantes do MAB resgatam a técnica, visando de forma artística denunciar violações ambientais, sociais e culturais que as atingem em consequência do modelo energético atualmente adotado no país.
Programação
MOSTRA EXPOSITIVA
18.09 10h
Abertura da mostra “Arpilleras Amazônicas”
Exposição de um conjunto de telas de tecidos, peças únicas costuradas a muitas mãos por mulheres atingidas e ameaçadas por barragens da região Amazônica.
20 a 30.09 9-19h
Visitação, com possibilidade de agendamento de grupos.
CINE-DEBATE
20 e 22.09 19h
“Jirau e Santo Antônio”
Prostituição infantil, contaminação da água, centenas de quilômetros de árvores mortas, toneladas de peixes assassinados, milhares de famílias desabrigadas e sem emprego. Parece que o progresso prometido pela construção das hidrelétricas no rio Madeira passou longe daquela região. O documentário homenageia Nilce de Souza Magalhães, a Nicinha, mulher, pescadora e lutadora, que meses após dar entrevista para este filme foi assassinada.
(Class: 16 anos; Duração: 66 min)
27 e 29.09 19h
“Mãe da Amazônia” e “Tucuruí, saga de um povo”
O documentário “Mãe da Amazônia” de Rogério Soares enfoca vários aspectos da vida de Edizângela, tendo como pano de fundo hidrelétrica de Belo Monte. Ribeirinha e mãe de cinco filhos, essa mulher vê sua vida mudar com a construção da barragem.
(Duração: 25 min; Classificação: Livre)
“Tucuruí, a saga de um povo” mostra que os mais de 25 anos de funcionamento da barragem de Tucuruí, a terceira maior do país, não significaram necessariamente o desenvolvimento para a região.
(Duração: 16 min; Classificação: Livre)
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
24.09 11h
“As árvores e o tempo”, com Ester Sá
A contação reúne histórias que tem como mote as árvores, numa homenagem a estes seres tão vitais à nossa existência. Na primeira história, o mito de criação dos Ticuna. A segunda, uma história real, atual e cotidiana. A contação reflete a relação do homem com a natureza, por vezes, desapercebido de que ele faz parte dela.
(Classificação: infantil)
ENCONTROS
25.09 10h
Vivência “Café & bordado”
As mulheres atingidas por barragens utilizam a costura para contar as violações cometidas na construção de barragens. Esta vivência pretende proporcionar uma conversa entre as participantes no intuito da troca de experiências. Os relatos das atingidas, singulares, são um convite à solidariedade e à coletividade, para percorrer estas memórias e vidas. De mente e coração aberto, durante um café da manhã de domingo, como que em uma conversa entre vizinhas de longa data, elas esperam ser vistas e escutadas por você. (Classificação livre)
27 a 29.09 10-13h
Oficina “Arpilleras: bordados e políticas”
A oficina visa elaborar arpilleras a partir das vivências, experiências e reflexões das participantes. Será resgatada a história desta técnica têxtil, cuja origem é a cultura popular chilena, e sua ressignificação pelas mulheres atingidas por barragens no Brasil. Toda a costura é feita a mão, utilizando agulhas, fios e retalhos, podendo ser acrescentados acabamento em crochê e elementos tridimensionais, como bonecas. (Classificação livre. Vagas limitadas.)
Endereço
Boulevard Castilho França, 522/523
Campina, Belém -PA (em frente a Estação das Docas)
Serviços
Agendamento de visitas guiadas: Cleidiane Vieira (93) 99205-9765
Assessoria de Imprensa:
Lourdinha Bezerra (Sesc) (91) 3224 5305 / 3224 5654
Elisa Mergulhão (MAB) – (93) 99223-4531
Links