O golpe e os retrocessos no setor de energia

O que estamos vendo nos últimos meses no setor de energia, desde que o golpista Michel Temer assumiu interinamente a presidência, é o ataque e a entrega do patrimônio público […]

O que estamos vendo nos últimos meses no setor de energia, desde que o golpista Michel Temer assumiu interinamente a presidência, é o ataque e a entrega do patrimônio público grandioso e de uma base natural valiosa para as transnacionais, além do total descaso com os interesses do povo. Acordos políticos, mudanças nas leis e medidas provisórias são iniciativas deste desgoverno a fim de garantir a energia como a principal moeda de troca ao capital internacional em apoio ao golpe.

Vários são os exemplos da promiscuidade do atual governo. Dias após assumir o Ministério de Minas e Energia (MME), Fernando Coelho Filho se reuniu com integrantes das 18 associações ligadas às grandes empresas do setor elétrico e recebeu o documento chamado “Uma agenda propositiva para o setor elétrico brasileiro – 2016”, que reúne propostas cujo propósito é manter e aumentar o controle privado, principalmente através das transacionais. Esse modelo, que transformou a eletricidade no principal negócio, com tarifas altas ao povo e “preço de custo” aos grandes consumidores, quer ser aprofundado a fim de garantir mais “segurança e estabilidade jurídica ao setor”.

O fantasma das privatizações

Na década de 90, o Brasil sofreu o avanço do neoliberalismo. Através do Plano Nacional de Desestatização os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso colocaram na ordem do dia a entrega do patrimônio público ao capital internacional, sob o pretexto de que não servia mais para o nosso país. Empresas de telecomunicação, grande parte do setor elétrico e a então Vale do Rio Doce estão entre as mais de 150 empresas públicas que foram entregues a grandes corporações transnacionais a preços irrisórios. Não é a toa que todo este processo foi chamado de “privataria”.

Desde 2003, os governos de Lula e Dilma voltaram a investir nas empresas estatais e brecaram a onda privatizante dos governos anteriores. Mas com o golpe em curso, Temer rapidamente colocou em prática o conteúdo do documento “Uma ponte para o futuro”, que aponta para uma “política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias”.

Agenda neoliberal

O plano de Temer é privatizar todas as empresas públicas. A Eletrobras, suas subsidiárias, como a Chesf, e as distribuidoras de energia, como a CELG, entre outras do norte e do nordeste, estão na lista. Ou seja, os golpistas estão atendendo plenamente a pauta dos empresários, que alegam que o “intervencionismo de estado” afugenta investidores e querem que sejam priorizados os “players”, ou seja, as grandes empresas transnacionais de energia.

A aposta dos golpistas é principalmente na retomada de debates sobre ajustes na regulação, que, segundo eles, “pouco avançaram nos últimos anos”, após uma década do setor sob forte influência de Dilma – primeiro como ministra de Minas e Energia do governo Lula e depois como chefe da Casa Civil e presidente. 

Em entrevista a Agencia Canal Energia, o Secretário-executivo do MME, Paulo Pedrosa, foi muito claro: “Tem uma agenda importantíssima de curto prazo que está associada à Eletrobras, é uma agenda que se propaga na economia como um todo. A venda da Celg está sendo trabalhada. A gente está fazendo um esforço, e, na nossa visão, a Celg vai ser o primeiro caso de sucesso desse processo. O governo de Goiás e a Eletrobras estão fortemente comprometidos com isso, o BNDES e a nossa equipe também, para dar clareza aos investidores em relação a essa excelente oportunidade que é a Celg. E, em seguida, tem um conjunto de distribuidoras que poderão ser colocadas à venda. Digamos assim, faz sentido econômico, é um movimento de fortalecimento da Eletrobras”.

Neste “esforço”, em junho Temer editou a Medida Provisória 735 que altera trechos de diversas leis do setor elétrico, facilitando a privatização, retirando a força da Eletrobras e do MME e empoderando agentes privados como a ANEEL e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O plano do setor é que a empresa venda pelo menos sete distribuidoras de energia que classificam como “deficitárias”.

Aves de rapina rondam nossa maior riqueza

A Petrobrás é a maior empresa controlada pelo governo brasileiro. Foi a Petrobrás que investiu dinheiro para descobrir petróleo e gás no Brasil, que construiu as refinarias que tratam o petróleo para produzir os combustíveis e depois distribuí-los. Da mesma forma é a Petrobrás que coloca mais dinheiro e trabalhadores na atividade de pesquisa científica e tecnológica no Brasil.

Todo esse investimento fez com que, em 2006, a Petrobrás descobrisse uma das maiores reservas de petróleo do mundo, o Pré-sal, que nos eleva da 15ª posição no ranking das maiores reservas mundiais de petróleo para o 3º lugar, atrás apenas da Venezuela e da Arábia Saudita.

Toda essa riqueza nos colocou no centro da disputa geopolítica mundial e o golpe está intrinsecamente ligado a isso. Tanto que está a mudança no regime de partilha do Pré-sal é uma das principais pautas dos partidos que hoje formam a coligação de Temer. Como parte do acordo, recentemente o ministro de Relações Exteriores José Serra (PSDB) recebeu em seu gabinete representantes da empresa Shell, uma das gigantes transnacionais do petróleo.

“Este governo já anunciou e vai entregar um dos maiores patrimônios do Brasil e do povo brasileiro”, disse o ex-diretor da Petrobrás, Guilherme Estrela, ao se referir aos ataques que a Petrobrás e o pré-sal vem sofrendo e às ameaças do que chamou de governo colaboracionista, fazendo menção ao papel que o governo Temer assume internacionalmente. “Este governo que está aí é um exército civil de ocupação estrangeira”, apontou Estrela.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro