Belo Monte abandona família atingida em área de risco

A Norte Energia afirma que já encerrou o processo de remoção das famílias da área do lago de Belo Monte em Altamira. Essa, no entanto, é uma meia-verdade. Hoje Maria […]

A Norte Energia afirma que já encerrou o processo de remoção das famílias da área do lago de Belo Monte em Altamira. Essa, no entanto, é uma meia-verdade. Hoje Maria Lúcia da Silva Mota vive hoje praticamente isolada de uma área de onde a empresa já removeu todos os seus vizinhos.

A comunidade, conhecida como “Recanto Sudam”, “Vista Alegre” ou “Travessa Niterói”, era composta de 35 famílias em área de ocupação. A localidade, “isolada” de outras áreas atingidas, foi ignorada na primeira fase dos cadastros da Norte Energia, concluída em janeiro de 2013. Com a luta do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), essas famílias entraram na leva dos chamados “novos cadastrados”, cerca de 400 famílias reconhecidas como atingidas pela empresa em 2014.

No entanto, para essas a Norte Energia só ofereceu a opção de indenização em dinheiro e não reassentamento (ou seja, uma nova casa em um dos loteamentos construídos pela empresa). Indenização em dinheiro é a pior opção, pois torna mais difícil a recomposição da vida das famílias. Além disso, como a maioria das casas era muito simples e sem título do terreno, os valores foram irrisórios.

Para Maria Lúcia, foi oferecida uma indenização de R$ 17 mil reais. “Todo mundo sabe que esse valor não compra nem um terreno em Altamira. Então não aceitei. Sou atingida e tenho direito a uma casa no reassentamento”, afirma. Em sua vizinhança, só restam em pé duas casas além da sua: uma construída em alvenaria, que não será removida, e outra que está abandonada pois a dona, Alda, morreu de câncer enquanto lutava pelo direito ao reassentamento. Sua filha ainda luta para receber o valor do espólio.

Maria Lúcia vive com sua filha, seu filho e um neto de três anos. Ela diz que o local está perigoso, com a presença de animais peçonhentos, e tem dificuldade de dormir à noite com medo da violência, pois recentemente houve um caso de estupro nas proximidades. Assaltos também são comuns nessas áreas que ficam abandonadas após a remoção das comunidades atingidas.

Diante da situação de risco em que se encontra, Maria Lúcia procurou a Norte Energia para aceitar a indenização, mas lá foi informada por um funcionário que seu caso não seria revisto pois estava “na justiça”. Procurou então a Defensoria Pública da União (DPU) e descobriu não consta nenhuma ação judicial em seu nome. “A Norte Energia só pode estar me enrolando. Espero que a situação se resolva logo, pois sou atingida e tenho direito”, afirma.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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