Chesf para por três dias

Paralização dos trabalhadores do Sistema Eletrobras tem 95% de adesão em todo o país Por Maíra Gomes, de Pernambuco  As 17 empresas que compõem o Sistema Eletrobrás no país sofreram […]

Paralização dos trabalhadores do Sistema Eletrobras tem 95% de adesão em todo o país

Por Maíra Gomes, de Pernambuco 

As 17 empresas que compõem o Sistema Eletrobrás no país sofreram uma paralização de 72 horas na última semana, entre os dias 4 e 6 de julho. Em Pernambuco, os quatro mil trabalhadores da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) cruzaram os braços e apenas o setor operacional esteve em atividade para continuidade da geração de energia.

A paralisação denuncia a tentativa de privatização do Sistema Eletrobrás. O presidente interino Michel Temer e o ministro das Minas e Energia, Fernando Filho, têm anunciado com frequência a suposta necessidade de privatização do setor de energia, como os sistemas Petrobras e Eletrobras.

No fim de maio, Fernando Filho anunciou o início da venda de parte dos ativos da Eletrobras. Dentre eles está a Chesf, principal geradora e transmissora de energia para o Nordeste e uma das empresas mais rentáveis do aglomerado. “Há um convencimento da necessidade da desmobilização de alguns ativos da empresa”, declarou o ministro sobre a Chesf.

 “É uma das empresas de energia que menos foi privatizada durante o governo FHC, e por isso tem um sistema muito estabilizado, sólido. E não é uma empresa qualquer, é uma importante promotora do desenvolvimento no Nordeste, tem uma forte relação com o povo nordestino, atendendo também as demandas sociais”, declara Moisés Borges, militante da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

De acordo com Fernando de Andrade Neves, eletricitário e secretário de Energia da Federação Regional dos Urbanitários do Nordeste (FRUNE), os alvos do governo interino para privatização são os chamados Sociedade de Propósito Específico, os SPEs, um tipo de Parceria Público-Privada no setor elétrico.

“Já estão anunciando as vendas das SPEs, e a proposta é só começar por aí, depois irão vender toda a Chesf. A privatização do setor elétrico é uma ameaça constante pra nós e com esse governo golpista que está aí querendo vender o Brasil todo estamos preocupados”, alerta o eletricitário.

Fernando acrescenta que os trabalhadores não podem permitir a venda das empresas, já que elas são responsáveis por fazer políticas públicas. “Água e energia não são mercadoria e sim garantia de soberania, são bem social. Não podemos permitir que sejam de mercado, que venha só arrancar o coro do povo brasileiro. A empresa de mercado só pensa no lucro e no Nordeste e Norte, regiões mais pobres, o povo não tem nem condição de comer, quanto mais de ter energia”, reforça.

Para o militante do MAB, a greve dos eletricitários é de extrema importância por ser um momento que o Brasil vive um duro golpe na democracia. Moisés aponta que nas declarações do presidente interino se comprova que é interesse do governo vigente a privatização do sistema elétrico e da Petrobrás.

“Isso prova que o interesse do golpe é do capital internacional, que quer se apropriar das empresas brasileiras. Apesar de não ser totalmente estatizados, os sistemas Eletrobras e Petrobras são ainda muito fortes e rentáveis, boa parte do PIB do país vem destas empresas. Não podemos admitir tentativas como essa, é preciso buscar a unidade dos trabalhadores e lutar. É um momento crucial para a classe trabalhadora brasileira”, conclui.

No dia 22 de julho, data que ocorrerá uma assembleia de acionistas do sistema visando a venda de 6 empresas, haverá uma nova mobilização em todo o país contra a privatização da Eletrobras.

Recursos da Chesf estão bloqueados

Em Pernambuco, o movimento também denuncia a politização do judiciário em ação da construtora Mendes Junior contra a Chesf. A ação é referente à construção da barragem de Xingó, no Vale do São Francisco, realizada pela Mendes Júnior em parceria com a Chesf.

Fernando Neves explica que na ocasião da construção, na década de 80, a construtora Mendes Junior pediu um recurso aditivo conhecido como Fator K, que não foi aceito pela Chesf. Atualmente, quase 30 anos depois, a construtora entrou com uma ação exigindo o pagamento do aditivo e, dando ganho de causa em primeira instância, a justiça bloqueou os bens da Chesf para garantir esse pagamento.

“A Chesf vive um momento gravíssimo, já com meio bilhão de reais bloqueados. Isso inviabiliza o funcionamento normal da empresa, está tudo parado, só funciona o básico. Estamos à beira de um apagão já que não se faz manutenção do sistema elétrico”, alerta Fernando, que trabalha na empresa há 32 anos.

O militante do MAB Moisés Borges, aponta que é mais que uma ação judicial e sim uma ação política. “A ação tenda desestabilizar a Chesf e facilitar o processo de privatização. Uma coisa é seguir com uma ação judicial, outra completamente diferente é bloquear recursos de uma empresa do porte da Chesf, é uma irresponsabilidade muito grande do juiz. Infelizmente, mais uma vez vemos a politização do judiciário”, conclui.

Os trabalhadores em paralização exigem o imediato desbloqueio dos recursos da Chesf.

Reajuste salarial e benefícios

Os trabalhadores brigam ainda para que empresa volte à mesa de negociação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), em discussão já há 120 dias.  Categoria exige 11% de reajuste, que garante a reposição da inflação dos últimos 16 meses e ganho real de 1,17% e está em linha com o IPCA e ICV. Além disso, a categoria reivindica a manutenção dos benefícios e conquistas acordados no ACT vigente.

“O reajuste que pedimos é exatamente o IPCA e o ICV, mais o coeficiente de vendas de produtividade de energia. Ou seja, estamos pedindo só o que realmente nos é direito”, declara Fernando Neves, da FRUNE.  

Apresentada em maio, a proposta dos trabalhadores foi respondida pela Eletrobrás somente há duas semanas, que ofereceu adiantamento de 5%, caso os funcionários concordem em mudar a data base do acordo para outubro e assinem um ACT com dois anos de vigência. A proposta foi rejeitada em assembleia.

“Para nós, não seria vantajoso negociar em outubro, pois o cenário pode ser outro, com esse governo golpista não podemos confiar. Se conseguirmos acertar tudo agora, negociar agora o reajuste com a inflação destes 16 meses fica mais fácil topar”, conclui Fernando.

Na quarta-feira, trabalhadores aprovaram por unanimidade em Assembleia em frente à Chesf em Recife pelo início de greve por tempo indeterminado na próxima segunda, dia 11 de julho, caso a empresa não retome as negociações.    

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